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Aldo: Bloco tem que se apresentar em SP ''como a coisa nova''

O deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP) assume que é um dos ''três nomes visíveis'' do Bloco de Esquerda para disputar a prefeitura paulistana em 2008. Mas prega que ''estes partidos não devem se dividir em São Paulo'', que ''o Bloco tem que se apresent

Vermelho: Como fica o governo Lula no pós-CPMF?



Aldo Rebelo: O governo vai ter dificuldades. Por que? Porque as oposições foram mobilizadas visando reduzir o impacto das ações do governo, principalmente as sociais, num ano de eleição, retirando receita; mesmo que isso signifique, como significou, prejudicar os pobres. Essa gente não está preocupada com o país, nem com o povo; faz 500 anos que estão despreocupados.



Como disse com certa razão o ex-ministro (da Saúde) Adib Jatene, a CPMF era alvo dessa gente por dois motivos. Primeiro, porque é impossível de sonegar, ou “fazer elisão fiscal”, para usar o termo mais educado. Segundo, porque era um imposto que os ricos pagavam mais do que os pobres, e o melhor distribuído na Federação: um estado como o Maranhão, por exemplo, pagava uma quantia xis mas recebia o dobro, porque ia para o SUS.



Vermelho: Esta avaliação parece mais pró-CPMF que o seu artigo no Vermelho três meses atrás (clique aqui para ver Muito além da CPMF, por Aldo Rebelo, 26 de setembro), onde ficava a impressão de que você não morria de amores pelo imposto do cheque.



Aldo: Por que não morro de amores? Porque, no contexto de uma reforma tributária elevada, você pode aliviar a carga tributária por exemplo sobre a produção. Numa reforma tributária você poderia sacrificar a CPMF. Mas não era isso que estava em questão.



Vermelho: E por falar nisso, a reforma tributária sai mesmo? Em fevereiro?



Aldo: Eu sou pessimista sobre esta discussão num ano eleitoral. Em 2003 estivemos muito mais próximos de um acordo. Nosso país é muito desigual. São Paulo, por exemplo, ganha muito com o imposto na origem. Mas naquela ocasião São Paulo aceitou perder, repassando uma parte do imposto para o destino, desde que em compensação acabasse com a guerra fiscal, o que favoreceria os impostos. E você criava  um fundo para as regiões mais pobres. Tudo isso foi feito em 2003, mas parou devido a uma guerra fiscal entre São Paulo e Goiás. Isso vem de longe; as guerras do Império vieram do sentimento republicano mas também tinham muito a ver com os impostos.



Vermelho: Será que o Brasil não discute pouco a questão dos impostos – afora os lugares-comuns contra a carga tributária?



Aldo: Discutimos pouco, talvez, na mídia, mas no Congresso, e na academia, discute-se bastante. Temos já uns quatro modelos tributários prontos, feitos por instituições como a Fundap (Fundação do Desenvolvimento Administrativo) de São Paulo.



Vermelho: Por que então o pessimismo?



Aldo: Veja, no governo Lula nós tentamos aprovar um imposto sobre a herança: tomamos um baile, não passou. Imposto sobre as grandes fortunas também é um fantasma, não consegue nem entrar no Congresso. E, se você quiser uma reforma tributária socialmente avançada, não há como não passar por aí. Por isso eu acho que a reforma tributária agora pode até ser uma armadilha: não dá certo e aí a oposição joga a culpa no governo, “Cadê a reforma tributária?”…



Vermelho: Há editoriais falando que, para se equilibrar sem CPMF, o governo devia cortar nos gastos da Previdência, parar de ficar aumentando o salário mínimo acima da inflação…



Aldo: Eu acho que aí está uma bela bandeira para a oposição; ela até deveria fazer o seu próximo programa de TV sobre esses temas, propondo que se tire do salário mínimo e da Previdência. Eles que proponham. Mas onde iria parar um país com coisas assim? O que ainda sustenta alguma paz social são um pouco esses recursos da Previdência.



Vermelho: Se não é por aí, por onde deveria ser?



Aldo: O governo pode mexer em outras áreas. Temos por exemplo R$ 200 bilhões em litígio de impostos: gente que não paga o imposto e entra na Justiça; e pode acreditar que não há aí ninguém que ganha salário mínimo, nenhum assalariado, só pessoas jurídicas, empresas. E há os recursos destinados ao superávit primário.



Vermelho: Mas nestes o presidente Lula deixou claro que não quer mexer.



Aldo: …Mas diante da necessidade pode ser preciso abrir essa discussão.



Vermelho: Mudando de tema, você é candidato a prefeito de São Paulo daqui a dez meses?



Aldo: A posição do PCdoB é que o Bloco de Esquerda (formado pelo PSB, PDT, PCdoB, PRB, PMN e PHS) lance um candidato em São Paulo. E o Bloco dispõe de pelo menos três nomes visíveis: o deputado Paulinho, do PDT, a deputada Luiza Erundina, do PSB, e o meu.



Acho que estes partidos não devem se dividir em São Paulo. E procuramos também o PMDB, como um partido democrático, que tem apoiado o governo Lula.
Vermelho: Quais os argumentos do PCdoB ao apresentar o seu nome?
Aldo: Representatividade, capacidade de aglutinar forças, creio que também experiência política.



Vermelho: E o PT?



Aldo: Com o PT nós temos esse compromisso de sustentar o governo federal. Mas o PT fez a opção de procurar uma outra aliança e deixou de considerar os partidos deste bloco. Quando você traça a sua política de alianças, você finca determinados marcos; e eles fincaram um marco muito visível na eleição para a presidência da Câmara (em fevereiro deste ano, quando o petista Arlindo Chinaglia venceu Aldo por 15 votos), quando o então presidente do PT aliou-se ao PMDB de Michel Temer.



Vermelho: Como você vê o cenário geral para 2008 em São Paulo?



Aldo: O cenário geral está muito indefinido. A Marta Suplicy é um nome muito forte do PT.  Ela não deu nenhum sinal de desejo de disputar a prefeitura, mas é um nome incontornável; a alternativa petista seria Arlindo Chinaglia, mas deve haver uma grande pressão pela Marta. O (Geraldo) Alckmin e o (Gilberto) Kassab são dois nomes fortes da coalizão PSDB-DEM, um por ter sido governador e candidato presidencial, o outro por ser o atual prefeito; agora, a coalizão exigiria que um dos dois abrisse mão e parece que eles estão tendo dificuldades. Afora esses dois campos, restam o Bloco de Esquerda e o PMDB, que, se entenderem, também são protagonistas, entram com muita força.



O Bloco tem que se apresentar ao povo de São Paulo como a coisa nova. E deve enfrentar o drama desta metrópole, com seu centro de ostentação e sua periferia de pobreza. A tendência com a globalização, que é um fenômeno fundamentalmente das metrópoles, é de aprofundamento do abismo entre os pobres e os ricos.



Vermelho: Sua proposta de plataforma vai por aí?



Aldo: Creio que sim, defendo um esforço de reintegração. A cidade hoje está sendo desintegrada. O professor pergunta ao menino de Cidade Tiradentes (distrito na extremidade leste da periferia paulistana) onde ele nasceu e ele responde Cidade Tiradentes em vez de São Paulo. Aí você corre o risco de uma relação do tipo Israel e palestinos: a periferia desconfiada do centro e o centro desconfiado da periferia.



Vermelho: E qual é a saída?



Aldo: Ampliar a presença do Estado entre os mais pobres. Estender a mão a ales, através da educação, através do esporte. Estas pessoas têm que ter esperança.