CUT acusa golpe e divisão; CTB responde conclamando unidade
Em reunião de sua Direção Nacional, realizada nos dias 6 e 7 de dezembro, cutistas aprovaram a carta “Em defesa da CUT, contra a divisão”, divulgada nesta quinta-feira (20). Dirigida às estaduais da CUT e a todas suas entidades filiadas, o texto faz um
Publicado 20/12/2007 20:13
“Hoje a CUT, principal conquista dos trabalhadores brasileiros no terreno da organização sindical e que completará 25 anos em 2008, está sendo atacada por políticas divisionistas. Às propostas de desfiliação da CUT, implementadas pela Conlutas e Intersindical, veio agora juntar-se a decisão de dirigentes da Corrente Sindical Classista (CSC) de criar em 12 de dezembro a Central dos Trabalhadores Brasileiros (CTB)”, diz o texto cutista.
“A tarefa de defender a CUT contra a divisão, é de todos os cutistas, independentemente de corrente de opinião, pois é a defesa de uma conquista e patrimônio de toda a classe trabalhadora. Devemos exigir que qualquer proposta de desfiliação seja discutida amplamente com a base do sindicato. Não deve haver uma só assembléia onde se proponha a desfiliação da CUT que não tenha a presença da nossa combativa militância em defesa de nossa central”, completa a carta.
Além do ataque ao divisionismo e do apelo para que sua militância defenda com unhas e dentes a CUT, a carta destaca as ações desenvolvidas pela central neste ano, citando as mobilizações em torno da Emenda 3 e o PLP 01, contra as Fundações Estatais de Direito Privado, em defesa do Direito Irrestrito de Greve, contra qualquer reforma da Previdência, o Plebiscito Popular pela Anulação do Leilão da Vale do Rio Doce, a Coordenação de Movimentos Sociais (CMS), entre outras.
Para Wagner, que também é dirigente da CSC, as críticas da carta não procedem.
Tentativas de diálogo
“Passamos os últimos cinco anos insistimos com a CUT que era necessário termos uma posição mais incisiva com relação ao governo. Também apontamos nossas discordâncias com proposta da Articulação Sindical (Artisind) de defender uma reforma sindical sem a unicidade. Apesar dos esforços, nada mudou a postura hegemonista da Artisind que é majoritária na direção da CUT”, disse Wagner
“Além disso, durante todo esse período discutimos dentro de todos os espaços da CUT a necessidade de que ela se democratizasse. Insistimos que a CUT tinha que ser plural e abrir espaço para outras correntes, para outras opiniões para além da Artisind. No último congresso cutista a CSC teve 25% dos delegados e fizemos um alerta e um pedido a Artisind para que nos cedesse a secretaria geral da entidade. Porém, nenhum desses apelos foram levados em conta. Então pensamos: porque continuar na CUT se ela simplesmente era surda às nossas opiniões e não nos oferecia nenhum espaço para que pudéssemos confrontar essa diversidade de idéias?”, explica o dirigente classista.
Wagner afirma que diante do descontentamento das lideranças da CSC na CUT, os apelos de dirigentes sindicais de outras correntes do movimento – como o Sindicalismo Socialista Brasileiro (SSB) e de lideranças independentes por uma central democrática, somado ao projeto de reconhecimento das centrais sindicais – em tramitação no Congresso Nacional – foi impossível frear o movimento de retirada dos classistas da CUT.
“Com isso, percebemos que esse era o momento para a construção de uma central classista e democrática que buscasse a amplitude, que dialogasse com todas as correntes que desejavam participar de uma central e que não viam esse diálogo possível nos espaços dados”, agrega Wagner.
A CTB
Fundada na noite de 12 de dezembro em Belo Horizonte (MG), a CTB nasceu com a presença de 1.300 delegados de 480 entidades de todo país.
“Somos a terceira maior central sindical do país. Á frente está apenas a CUT e depois a Força Sindical. Isso prova o quanto estávamos escondidos dentro da CUT, o quanto aquele ambiente não revelava nossa verdadeira capacidade de mobilização e intervenção nos rumos do país. Mas, mais do que apresentar melhor a CSC aos trabalhadores, a CTB também ofereceu um novo espaço a todas as entidades que buscavam uma identidade plural no movimento sindical”, comenta.
Apesar das diferenças, Wagner disse que a CTB vê a CUT como uma aliada importante em sua luta e que a central fundada não é inimiga de nenhuma outra central. Ele informou que o principal desafio da CTB será a construção de um congresso de trabalhadores que possa reunir as seis centrais existentes no país com o objetivo de construir e mobilizar uma agenda unitária da classe trabalhadora para o próximo ano.
“Queremos buscar um pacto para defendermos juntos nossas bandeiras, essa será a principal linha de conduta da realização do congresso dos trabalhadores (Conclat)”, explica.
Alerta à CUT
O presidente da CTB disse ainda que se a CUT tivesse tido mais atitude com relação às críticas das várias correntes, entre elas a Conlutas, Intersindical e a própria CSC, poderiam ter sido evitadas as fissuras.
“Mais que uma carta, a CUT deveria ter agido, deveria ter ouvido nossos apelos e considerado as críticas que sofria. Mais do que uma carta após a fundação da CTB, os cutistas poderiam ter tomado medidas para que tudo isso não acontecesse. Contudo, entendo a carta como uma polêmica sadia”, atesta Wagner.
E alerta: “se a Artidind continuar mantendo a postura que vem tendo e não revê-las a CUT pode sofrer outras fissuras internas, pois há dirigentes cutistas que, assim como a CSC, vêm reiteradamente manifestando seu descontentamento com a central.”
Leia abaixo a íntegra da carta assinada pela Direção Nacional da CUT:
Às Estaduais da CUT, estrutura vertical e entidades filiadas
Carta às trabalhadoras e aos trabalhadores cutistas
Em defesa da CUT, contra a divisão!
A Direção Nacional da CUT, reunida em 6 e 7 de dezembro, resolveu dirigir-se a todos os trabalhadores e trabalhadoras cutistas, aos dirigentes e a militância de nossos sindicatos, federações e confederações.
Hoje a CUT, principal conquista dos trabalhadores brasileiros no terreno da organização sindical e que completará 25 anos em 2008, está sendo atacada por políticas divisionistas. Às propostas de desfiliação da CUT, implementadas pela Conlutas e Intersindical, veio agora juntar-se a decisão de dirigentes da Corrente Sindical Classista (CSC) de criar em 12 de dezembro a Central dos Trabalhadores Brasileiros (CTB).
Estes ataques ocorrem justamente quando, ao longo de 2007, a CUT desenvolveu mobilizações e campanhas como a luta contra a Emenda 3 e o PLP 01, contra as Fundações Estatais de Direito Privado, em defesa do Direito Irrestrito de Greve, em apoio à Reforma Agrária, contra qualquer reforma da Previdência que reduza direitos para as atuais ou futuras gerações. Essas bandeiras e reivindicações estiveram presentes nas jornadas nacionais de 10 e 23 de abril, de 23 de maio, 4 de julho, tiveram um ponto alto na mobilização nacional de mais de 20 mil cutistas em Brasília em 15 de agosto e concluíram agora com a Marcha das Centrais de 5 de dezembro.
A CUT participou do Plebiscito Popular pela Anulação do Leilão da Vale do Rio Doce, recolhendo mais de 900 mil votos sobre um total de 3,7 milhões. Em conjunto com a Coordenação de Movimentos Sociais (CMS), a nossa Central participou de mobilizações contra os Leilões das Bacias de Petróleo, questionou a política de concessões de radio e TV, esteve presente em cada luta importante em defesa da construção de um Brasil livre e soberano.
Várias greves nacionais, atos e paralisações em estados e municípios mostraram a vitalidade da CUT. Dois pontos comuns estavam presentes em todas elas: a luta pela ampliação ou defesa de direitos da classe trabalhadora e a presença da bandeira vermelha e tremulante da Central Única dos Trabalhadores.
Os argumentos dos divisionistas são desmentidos pela realidade. Quando dirigentes da CSC diziam que não há mais diferença entre as centrais sindicais, na verdade querem passar a falsa idéia que a unidade não se faz mais numa central sindical independente dos patrões e governos, tal como a CUT tem sido construída há 25 anos, mas sim numa ''coordenação de centrais'', onde a ''nova'' CTB teria assento. Nada mais anti-democrático e cupulista que o ''consenso'' entre dirigentes, sem a efetiva participação democrática das bases. Esta via tem que ser recusada!
O momento exige o combate de todas e todos cutistas contra as propostas de desfiliação de entidades de nossa central. Temos razões de sobra para defender a CUT, para defender a sua concepção sindical, expressa em seus Estatutos, de defesa da Liberdade e Autonomia Sindical, de luta contra a ''unicidade'' imposta pela Estado e o imposto sindical, de um sindicalismo comprometido com a luta por uma sociedade sem explorados e exploradores e baseado no respeito à diversidade de idéias, na democracia sindical e em uma profunda aliança estratégica com os movimentos sociais do Brasil e da América Latina.
A tarefa de defender a CUT contra a divisão, é de todos os cutistas, independentemente de corrente de opinião, pois é a defesa de uma conquista e patrimônio de toda a classe trabalhadora. Devemos exigir que qualquer proposta de desfiliação seja discutida amplamente com a base do sindicato. Não deve haver uma só assembléia onde se proponha a desfiliação da CUT que não tenha a presença da nossa combativa militância em defesa de nossa central.
É dessa forma que preparemos a próxima Plenária Nacional da CUT (27 a 30 de maio de 2008), reafirmando os princípios e compromissos de nossa Central, participando ativamente das lutas sindicais e populares, preservando a independência e autonomia da Central diante de patrões, governos e partidos, para que ela continue a ser esta fundamental ferramenta de luta da classe trabalhadora brasileira.
Brasília, 20 de dezembro de 2007
Direção Nacional da CUT