Farc libertam todos os reféns se Uribe renunciar
A cadeira de Uribe em troca da libertação de reféns. É a mais recente proposta das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) , que promete soltar todos os reféns que permanecem na selva se o presidente colombiano se demitir.
Publicado 20/12/2007 14:14
A garantia é dada pelo número dois das Farc em entrevista publicada na quarta-feira (19) pela agência ANNCOL, próxima da guerrilha. Uma posição vista com bons olhos por Juan Carlos Lecompte, marido da refém Ingrid Betancourt.
''Se Uribe se demitir, isso garante o acordo humanitário e eu concordo com isso. O Acordo humanitário já teria sido assinado há anos se tivéssemos outro presidente e os reféns já estariam nas suas casas'', afirmou.
As últimas imagens da candidata franco-colombiana divulgadas em Novembro deram aos familiares esperanças renovadas. Mais ainda, depois de as Farc terem anunciado, num gesto de boa vontade, que irão libertar Clara Riojas, uma antiga colaboradora de Betancourt, o seu filho Manuel e a ex-senadora Consuelo Gonzales.
As libertações iminentes levaram políticos franceses e familiares de Betancourt a criticar Uribe por não negociar com as Farc.
Leia abaixo comunicado que anunciou a libertação esta semana de três prisioneiros pelas forças da guerrilha.
Comunicado das Farc-EP
1. Álvaro Uribe fracassou na sua tentativa de manipular o presidente Chávez e a senadora Piedad Córdoba. Uma vez mais mostrou o seu verdadeiro rosto como inimigo que é do acordo humanitário e da paz concertada.
2. A indigente anuação da gestão mediadora foi um acto de barbárie diplomática contra o legítimo chefe de um Estado irmão e contra o povo venezuelano, solidários com o pedido feito por Bogotá. Com esse vergonhoso bater a porta criou-se um péssimo precedente, pois este também o foi para o presidente Sarkozy, os presidentes latino-americanos solidários com os trabalhos de mediação, os outros governos sempre diligentes para com os temas humanitários, o Movimento de Países Não Alinhados, os povos da França, dos Estados Unidos, de toda a América Latina e, especialmente, para os esperançados familiares dos prisioneiros de guerra das partes, que pressentiam o fim das suas angústias.
3. Este governo que se refere às Farc como se estivesse a ganhar a guerra, com fantásticos discursos dirigidos às elites empresariais do mundo, não engana 30 milhões de colombianos pobres nem as pauperizadas camadas médias, vítimas diárias da violência económica, social e militar do estado. Muito menos consegue ocultar ao mundo com o mentiroso comunicado que cancelou a mediação, a intensa confrontação armada de profundas raízes político-sociais que vive a Colômbia, nem a ilegitimidade do regime cujo presidente e boa parte dos congressistas, alcaides e governadores foram eleitos graças à directa intervenção política, financeira e armada do terrorismo narco paramilitar.
Demasiado cobarde para negar com franqueza qualquer possibilidade de acordos humanitários, confundido para precisar se as Farc são terroristas ou uma força político-militar beligerante com a qual está disposto a dialogar e chegar a acordos, o presidente Uribe, sem nenhuma seriedade, muda radicalmente as suas opiniões cada fim-de-semana e improvisa inaceitáveis propostas como a actual de dialogarmos com o mentiroso representante Restrepo, em inóspitos, remotos e clandestinos lugares, com um prazo de 30 dias, enquanto nos enche de impropérios, ameaça com mais operações, ratifica a sua ordem de resgate militar e oferece dólares aos combatentes das Farc para atraiçoarem os seus ideais.
Definitivamente, a este governo falta realismo e grandeza para falar com a insurreição farquiana.
5. Reafirmamos a necessidade desmilitarizar Florida e Pradera por 45 dias para concretizar um acordo humanitário, mantemos a nossa decisão em realizá-lo e por avançar na solução política do conflito social e armado, como resultado de um processo rodado de garantias plenas por parte do Estado, procurando não a recomposição do actual regime paramilitarizado, corrupto e ajoelhado perante o império, mas a construção de um novo, transparente, verdadeiramente democrático e soberano como o expomos no manifesto farquiano e na plataforma bolivariana.
6. Agradecemos ao presidente Hugo Chávez a sua dedicação, o colossal esforço como mediador, a inquestionável boa-fé nesta jornada humanitária, a sua solidariedade coma a causa pacífica do nosso povo e o tempo investido, apesar das suas grandes responsabilidades como primeiro responsável da irmã república bolivariana da Venezuela. A história prestará o merecido reconhecimento à sua mediação humanitária.
7. Perante a infâmia uribista, e como desagravo ao presidente Chávez, à senadora Piedad Córdoba e aos familiares dos prisioneiros, aceitamos o seu apelo a libertar a doutora Clara Rojas, o seu pequeno Emmanuel e a doutora Consuelo González de Perdomo, como prova inquestionável da esperança que tínhamos depositado no seu papel de mediador. Elas e Emmanuel deverão ser recebidas pelo presidente Chávez ou por quem ele designe, em circunstâncias tais que se evitem as baixezas uribistas como as sucedidas com as ''provas de vida''. A ordem para os libertar na Colômbia já foi emanada.
Secretariado do Estado-Maior Central das Farc-EP
Dezembro de 2007
Tradução de José Paulo Gascão, para o site Diário.info