Sob pressão, Cappio anuncia à noite se suspende ou não jejum
O bispo de Barra (BA), Dom Luiz Flávio Cappio, 61, vai sair nesta quinta-feira (20) à noite do Hospital Memorial Petrolina (PE), onde foi internado na quarta (19), segundo a CPT (Comissão Pastoral da Terra). De lá, ele retorna para Sobradinho (BA), onde p
Publicado 20/12/2007 17:18
De acordo com o sociólogo Adriano dos Santos Martins, da Coordenadoria Ecumênica de Serviços, o bispo só conseguiu autorização para deixar o hospital após se comprometer a ter acompanhamento médico, usar cadeira de rodas e continuar tomando soro.
''Ele conseguiu convencer os médicos e a direção do hospital que precisava retornar hoje para Sobradinho'', disse Martins, amigo pessoal de Dom Cappio.
Segundo ele, todos os amigos querem que o bispo abandone o jejum. ''Todos nós queremos que ele interrompa, que ele viva a luta. Não aceitamos o grau de intransigência e truculência [do governo]. Mas ele não pode se sacrificar mais'', afirmou Martins.
O religioso foi internado depois de desmaiar nesta quarat à tarde após ser informado da decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de liberar a retomada das obras de transposição do rio São Francisco.
Sobrinho quer fazer Cappio desistir
O juiz Luís Roberto Cappio Guedes Pereira, 39, sobrinho do bispo de Barra afirmou que vai conversar ainda nesta quinta com o religioso para que ele suspenda imediatamente a greve de fome.
Dom Cappio já deixou a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital Memorial de Petrolina (PE) e se encontra no quarto, consciente, mas ainda bastante frágil e recebendo soro.
''Ele ainda não comeu nada, disse que se sentir fome pede. Vou esperar ele se restabelecer para conversar. Vou tentar de todas as formas fazê-lo desistir da greve de fome e vou conseguir. Vamos colocar um ponto final nessa história.''
A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e a Articulação São Francisco Vivo informaram que apesar da internação de Dom Cappio, caberá a ele decidir se suspende ou não o jejum.
Garibaldi apóia decisão do STF
O presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), disse nesta quinta que apóia a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de liberar as obras de transposição do Rio São Francisco e que o bispo Luiz Flávio Cappio deveria voltar a se alimentar. As informações são da Agência Senado.
“É preciso, antes de tudo, salvar a vida de milhões de pessoas. O melhor seria que o bispo encerrasse essa greve de fome. O governo está determinado a fazer a obra, mas todos, evidentemente, tememos pela vida do bispo”, disse.
Para Alves, não há outra alternativa para resolver o problema no Nordeste. “Sem dúvida, essa transposição vai resolver um sério problema de escassez de água. Essa obra de transposição de bacia é a única alternativa que o Nordeste setentrional tem para resolver o problema de doze milhões de pessoas”, afirmou.
Apelos
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta que não vai ceder aos apelos do bispo para suspender as obras de transposição do rio São Francisco. Lula afirmou que o governo ''não pode ceder'' à greve de fome do religioso. ''Se o Estado cede, o Estado acaba. E o Estado precisa funcionar'', afirmou.
Lula disse esperar que autoridades da Igreja Católica convençam o bispo a encerrar o jejum, a exemplo do que ele próprio fez na década de 80 – quando disse que realizou uma greve de fome na carceragem de São Paulo, mas interrompeu a ação depois de ser convencido por Dom Cláudio Hummes (bispo de Santo André na época e hoje 'ministro' do papa no Vaticano).
''Eu aprendi com os meus companheiros da Igreja Católica que só Deus dá e tira a vida. A Igreja não se mete em questões técnicas. Espero que ele [Cappio] tenha juízo'', disse.
Lula considerou as obras de transposição do rio São Francisco o projeto ''mais humanitário'' do governo. O presidente não hesitou em afirmar que, entre ao bispo e a execução do projeto, vai mandar prosseguir as obras de transposição. ''Entre a greve de fome e milhões de nordestinos que serão beneficiados, eu fico com os 12 milhões.''