Ex-premiê derrubado por golpe vence eleição na Tailândia
Os partidários do ex-primeiro ministro Thaksin Shinawatra coinquistaram as eleições legislativas deste domingo (23) na Tailândia, passando a perna nos generais que o depuseram em setembro de 2006. Apurados 93% dos votos, o PPP (Partido do Poder do Povo
Publicado 23/12/2007 17:05
O PPP imediatamente anunciou a intenção de formar o próximo governo, ainda que os analistas descartem uma transição sem sobressaltos em um país ainda muito dividido. O chefe do partido, Samak Sundaravej, indicou que o ex-primeiro minisro – um antigo general da polícia que fez fortuna no setor das telecomunicações antes de se lançar na política – havia lhe telefonado do exílio para felicitá-lo.
A vitória folgada do PPP corre o risco de colocar um problema para o exército, pois é evidente o fracasso de sua linha durante a campanha, de ignorar Thaksin.
“É uma vitória do país”, declarou Samak em uma coletiva de imprensa onde adiantou que ele próprio seria “com certeza primeiro ministro”. “Este país perdeu sua liberdade em 19 de setembro de 2006 sem uma boa razão”, agregou.
A frande interrogação é saber se os generais e os círculos próximos à coroa, que em 2006 comandaram a derrubada incruenta de Thaksin, permanecerão passivos diante do que parece ser uma volta por cima de seu inimigo jurado, ainda que por meio de prepostos.
Alguns analistas não excluíam um novo golpe de força em caso de ampla vitória do PPP, embora outros creiam que o governo nomeado pelo exército tentará num primeiro momento “travar” a vitória, invalidando alguns dos seus candidato a pretexto de fraude eleitoral.
“Democracia intermitente”
A comissão eleitoral tailandesa anunciou o registro de mais de 750 denúncias, das quais 160 consideradas consistentes. Ignora-se até agora quantas delas podem produzir a invalidação de resultados.
Samak declarou não esperar um novo golpe e argumentou que o novo comandante militar é “alguém correto”, que lhe prometeu permanecer politicamente neutro. Evidentemente os generais prefeririam um governo dirigido pelo PD (Partido Democrata), principal sigla da oposição durante os cinco anos do governo de Thaksin. No entanto, muitos analistas julgam que uma coalizão liderada pelo PD seria débil e não duraria mais que um ano.
O PD deve obter cerca de 162 cadeiras parlamentares. Seu líder é Abhisit Vejjajiva, um diplomado em Oxford que os investidores estrangeiros gostariam de ver à frente do governo.
A eleição de domingo marca um retorno à democracia após o golpe de 2006, em um país que vive há 75 anos em estado de “democracia intermitente”, tendo sofrido 18 golpes militares durante o período.
O exército e seus prepostos poderiam num primeiro momento fazer uma série de denúncias de fraude eleitoral contra candidatos do PPP. No segundo tempo, favoreceriam um governo de coalizão dirigido pelo PD.
Thaksin, multimilionário das telecomunicações de origem chinesa que obteve vitórias eleitorais arrasadoras em 2001 e 2005, continua a ser, apesar dos 15 meses de exílio, a figura central da vida política tailandesa. Ainda desperta paixões tanto em seus partidários como em seus oponentes, que o acusam de cupidez.
* Fonte: Le Monde