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Teria a delegação dos EUA em Bali agido sem consultar Bush?

Os delegados presentes na conferência sobre mudança climática em Bali chegaram a um modesto acordo depois que os Estados Unidos abandonaram de forma drástica a sua posição anterior. No entanto, a Casa Branca quase que imediatamente se distanciou das ne

Washington está repleta de especulações sobre as ações da delegação dos Estados Unidos na conferência sobre mudança climática em Bali, depois que as negociações terminaram na semana passada.
No sábado os negociadores dos Estados Unidos deram a sua aprovação a um plano internacional com as condições mínimas para mais negociações referentes a um novo tratado de mudança climática. Agora não está claro se o governo do presidente George W. Bush aprovou essa medida.



“Todos os outros passos foram aprovados pela Casa Branca”, afirmou uma autoridade graduada e que conhece bem a estratégia de Washington para Bali, em uma entrevista a Spiegel Online. “Mas a parte final da conferência foi bastante emocional. Houve bastante pressão psicológica. Os delegados dos Estados Unidos foram vaiados, e aliados próximos, como Canadá e Arábia Saudita, voltaram-se contra eles. É bem possível que a líder da delegação dos Estados Unidos, Paula Dobriansky, tenha tomado uma decisão de última hora relativa a uma concessão final”.



Isso explicaria por que no domingo a Casa Branca expressou insatisfação com o compromisso assumido em Bali. Segundo a secretária de Imprensa da Casa Branca, Dana Perino, Bush tem “sérias preocupações” quanto a essa questão. Segundo Perino, compromissos de natureza compulsória para a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa não podem ser assumidos apenas pelas nações industrializadas. As nações de crescimento mais rápido do mundo também precisam assumir acordos similares (Perino não mencionou diretamente a China e a Índia, mas essas são as duas nações que os negociadores dos Estados Unidos em Bali afirmaram que precisam assumir metas compulsórias).



A autoridade que conhece a estratégia de Washington acredita que algo de excepcional aconteceu em Bali. “Essa é uma mensagem bem clara. A Europa formou uma coalizão com os países em desenvolvimento. São esses os donos do projeto traçado em Bali”, disse a fonte.



Muitos observadores acreditam que as críticas intensas por parte do ministro alemão do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel, também tiveram um peso importante. “Gabriel fez um bom discurso e foi uma autoridade dura a fazer frente aos norte-americanos”, disse a fonte, que é também um especialista em políticas climáticas.



Gabriel ameaçou com um boicote das novas conferências climáticas por parte das nações européias caso os Estados Unidos não fizessem nenhuma concessão ao tratado que era discutido em Bali. Gabriel, membro do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), utilizou uma linguagem particularmente forte no domingo. Aos críticos norte-americanos das negociações de Bali, ele disse simplesmente: “Aquilo que a atual Casa Branca diz sobre o processo de negociação em andamento talvez não seja muito importante”.



A fonte da Spiegel Online acredita que o presidente Bush deseja passar o seu último ano de mandato organizando conferências para discutir as contribuições que as principais economias do mundo deveriam fazer na tentativa de reduzir as emissões globais. Uma conferência dessa natureza já ocorreu em setembro em Washington, e uma outra está agendada para o início de 2008, no Havaí. Após ameaçarem não participar dessas negociações, os europeus disseram que comparecerão porque os Estados Unidos cooperaram com as negociações de Bali. “O meu palpite é que haverá algum tipo de conferência, mas ela não terá dado em nada. Bali enviou aos Estados Unidos a mensagem de que o poder no que se refere à questão climática foi transferido para o Congresso”, afirmou a fonte.



Mesmo antes do início da conferência de Bali, Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, chefiou as negociações relativas a um acordo que significará progresso na redução em nível nacional das emissões de gases por automóveis. Segundo o acordo, os fabricantes de automóveis dos Estados Unidos terão que reduzir o consumo de combustível dos seus carros e caminhonetes em 40% até 2020.



Os especialistas norte-americanos em clima estão céticos, afirmando que a Casa Branca e os lobistas das companhias do setor de energia conseguirão diluir significativamente essa medida. Eles também condenam a manutenção de isenções de impostos na casa dos bilhões de dólares para as companhias de petróleo, supostamente no intuito de financiar o desenvolvimento de tecnologias amigáveis ao meio ambiente.



Mas o Congresso poderá ainda ser capaz de obter uma mudança significativa na política climática. Um comitê liderado pelos senadores Joseph Lieberman e John Warner acaba de completar uma proposta significativa referente à mudança climática. O Projeto de Lei da Segurança sobre Mudança Climática, feito por eles, faria com que os Estados Unidos reduzissem as emissões de gases causadores do efeito estufa para um patamar 15% inferior ao de 2005 até 2020, e criaria um mercado de comércio de carbono baseado no modelo do Esquema de Comércio de Emissões da União Européia. O projeto de lei será discutido no Senado no ano que vem. “Isso poderá ser um verdadeiro ponto de inflexão para os Estados Unidos no que se refere à questão da mudança climática”, afirmou a fonte de Washington.



Fonte: Der Spiegel