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Protesto “global” contra as Farc não alcança objetivos

A exemplo da quase totalidade da grande imprensa controlada por empresários direitistas da América Latina, o site das organizações Globo também se engajaram na campanha promovida pelos governos de Uribe e Bush contra as Farcs (Forças Armadas Revolucion

Sob o lema ''um milhão de vozes contra as Farc'', o protesto foi convocado pelo site de relacionamentos Facebook por um grupo de jovens da elite colombiana, simpáticos aos grupos paramilitares.



A convocação por um ''milhão'' de vozes ganhou adeptos entre militantes de direita de diversas cidades no mundo e colombianos residentes no exterior. Mas o alcance da iniciativa ficou muito longe do previsto: o site registrou a adesão de apenas 250 mil simpatizantes no mundo todo, um quarto da meta inicial.



O fracasso só não foi maior porque contou com a adesão estridente de centenas de grandes meios de comunicação de vários países, que apoiaram e divulgaram o movimento. A cobertura feita pelas agências de notícias e grandes portais deixa claro este apoio.


 


A exemplo da quase totalidade da grande imprensa controlada por empresários direitistas da América Latina, o site das organizações Globo também se engajaram na campanha promovida pelos governos de Uribe e Bush contra as Farcs (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Em manchete na página principal do seu site, o Globo disse que ''milhões'' de colombianos marcharam contra as Farc. A manchete foi desmentida já na própria matéria que reconhece que apenas 50 mil colombianos participaram dos protestos em Bogotá, capital do país.


 


Em Bogotá, grupos de pessoas se reuniram em diversos locais com camisetas brancas com os dizeres ''A Colômbia sou eu'' no peito e ''Chega de sequestros, chega de mentiras, chega de mortes, chega de Farc'', nas costas.



Parentes de 44 reféns que a guerrilha pretende trocar por cerca de 500 militantes presos preferiram não participar dos protestos. Muitos criticaram a ''politização'' do movimento (em prol do governo Uribe) e temem que este tipo de iniciativa coloque em risco as negociações que as Farc travam com interlocutores internacionais para libertação de reféns em poder dos guerrilheiros.



O partido de esquerda colombiano Pólo Democrático Alternativo, sindicatos importantes do país e as principais associações de direitos humanos da Colômbia também se negaram a participar da marcha direitista e decidiram utilizar a jornada para pressionar por um acordo humanitário, pelo fim da guerra e pela suspensão dos seqüestros.


O presidente do Pólo, Carlos Gaviria, disse que condenar frontalmente as Farc na atual conjuntura não contribui para a libertação dos reféns, alguns dos quais há mais de dez anos em cativeiro.


Algumas organizações sociais tanto na Colômbia como de outros países afirmam que a manifestação deveria ser contra todos os grupos violentos do país, incluindo os paramilitares.



As FARC são uma organização guerrilheira colombiana, que surgiu em 1964, de ideologia marxista-leninista e que tem entre 12.000 e 17.500 membros.



Novas libertações



As manifestações se realizaram em meio a um novo anúncio das Farc, que prometeram libertar os ex-congressistas colombianos Gloria Polanco de Lozada, Luis Eladio Pérez e Orlando Beltrán, seqüestrados em 2001.



Eles devem ser entregues ao presidente venezuelano Hugo Chávez e à senadora colombiana Piedad Córdoba, ou a ''quem eles indicarem'', de acordo com as Farc.



Os congressistas fazem parte do grupo de 43 reféns que as Farc consideram passíveis de troca, e que inclui a ex-candidata à presidência Ingrid Betancourt.



O governo da Venezuela já deu início à gestão de libertação dos reféns que poderia repetir a mesma estratégia utilizada em janeiro, quando foram libertadas Clara Rojas e Consuelo González de Perdomo.



Crise diplomática



Por meio de um comunicado emitido na noite de domingo, o governo de Chávez descreveu o anúncio das novas libertações como um gesto de ''boa vontade'' da guerrilha.



''Toda a Venezuela valoriza o fato de que as Farc continuem motivadas para alcançar um acordo humanitário que constitui um passo firme e definitivo para a paz na Colômbia e em toda a região'', diz o comunicado.



O governo da Colômbia já deu o aval para a realização do resgate e disse que dará todas as garantias para que uma operação humanitária coordenada por Chávez liberte os três ex-congressistas.



Ainda sem data marcada, o resgate poderá ocorrer em meio à pior crise diplomática entre os governos da Venezuela e da Colômbia.



No domingo, Chávez disse que o governo colombiano estaria preparando uma agressão militar contra a Venezuela, razão pela qual as tropas venezuelanas já estariam em alerta.



O presidente venezuelano afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua colega argentina, Cristina Kirchner, ''estão preocupados''.


 


Nota das Farc


 


Em repúdio à marcha uribista, dirigentes da Farc emitiram a nota abaixo, na qual acusam o governo Uribe, narco-paramilitares, alguns bispos, grandes empresários e  manipuladores da opinião pública de estarem por trás da mobilzação com finalidades meramente político-eleitorais.


 


Veja a íntegra:


 



A marcha em direção ao terceiro mandato



por Iván Márquez e Rodrigo Granda [*]



A marcha uribista, da TV RCN, da rádio Caracol, de El Tiempo, dos narco-paramilitares, de alguns bispos, dos grandes empresários, dos manipuladores da opinião pública, dos guerreiristas, e dos inimigos da troca humanitária e da paz, nos seus preparativos finais, desencadeou um iniludível aluvião de questionamentos acerca da sua verdadeira finalidade.


 


Os familiares dos prisioneiros de guerra, os verdadeiros sofredores, os nunca ouvidos nem por Uribe nem por Washington, não assistirão a essa marcha politizada do 4 de Fevereiro, surgida da estratégia contra-insurgente do Estado, e que tem todas as aparências desavergonhadas um subtil lançamento de “dom Varito Corleone Uribe” ao seu terceiro período presidencial. Eles preferiram reunir-se num tedeum para clamar pelo intercâmbio humanitário e a paz na Colômbia.


 


A motivação uribista dessa campanha é tão enviesada que as centrais operárias e muitas organizações políticas e sociais da Colômbia optaram por desligar-se do grupo organizador assistido logisticamente pelo governo, e realizar com independência suas manifestações pela troca e pela paz.


 


Que as crianças das escolas e colégios da Colômbia não sejam utilizados pelos propulsores da “Seguridad Inversionista” e seu componente militar, o Plano Patriota. O facto de os capos paramilitares de moto-serras, massacres e fossas comuns estarem entre os convocantes e financiadores da mobilização, apoiados pelo silêncio do governo, é outro motivo para distanciamento de tão grosseira manipulação.


 


A palavra-de-ordem deve ser “troca humanitária e paz na Colômbia”, como clamam os familiares dos prisioneiros de guerra em poder das partes contendoras. O caminho do intercâmbio humanitário é a evacuação (despeje) militar de Pradera e Florida. Se o sofrimento do cativeiro prolongou-se injustificavelmente por cinco anos foi devido à desumana intransigência e o orgulho vão do Presidente Uribe, que além disso burlou-se de todas as mediações e pisoteou a mais eficaz, a do Presidente Chávez.


 


Montanhas da Colômbia, 31 de Janeiro de 2008


 


[*] Integrantes do Secretariado das FARC.



Da redação,
com agências