Lula defende Matilde Ribeiro e pede unidade ao movimento negro
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a cerimônia de posse do novo ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, pediu que os representantes do movimento negro cheguem a um consenso em relação ao Estatuto da Igualdade Racial, para facilita
Publicado 20/02/2008 16:34
Em tom emocionado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira (20) que a posse do novo ministro Edson Santos (Igualdade Racial) era marcada por felicidade e tristeza. Com elogios à ex-ministra, Matilde Ribeiro, Lula disse que ela “sai do governo sem ter cometido nenhum crime, não cometeu nenhum delito, teve apenas falhas administrativas”. Ele contou que aconselhou a ministra a deixar o cargo, pois estava sendo “massacrada e triturada” pela imprensa.
“Faço minhas homenagens à companheira Matilde que continua sendo minha companheira intocável que sempre foi desde o tempo da militância dela em Santo André”, disse Lula.
Na cerimônia, o presidente assinou a edição de uma MP (medida provisória) que transforma a Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial em ministério.
Segundo Lula, a ex-ministra viajou muito e Santos deveria fazer o mesmo. “Não se preocupe com as críticas de que vai viajar muito. Você vai ver que tem muito mais negros e marginalizados do que você conheceu na sua vida. E tem que visitar porque nós queremos legalizar quantos quilombos forem necessários”, afirmou o presidente. “A gente tem que evitar cometer erros para fazer as coisas de forma mais aprimorada.”
Lula sugeriu que Santos ouça mais do que fale. Ele recomendou ainda que o novo ministro se esquive das brigas que envolvem os movimentos negros no país. “Geralmente quando a gente chega ao governo, a gente aprende mais a ouvir do que falar. Essa sabedoria pode te ajudar a achar o denominador comum”, disse o presidente.
Bem-humorado, o presidente brincou com o time de Santos, que é vascaíno. “Isso é uma pena, mas sempre é tempo de mudar”, disse Lula, que é corintiano.
O presidente ainda pediu ao novo ministro para atender um pleito seu: construir uma ponte em um quilombo no Vale do Ribeira (SP).
Lula também pediu que os representantes do movimento negro cheguem a um consenso em relação ao Estatuto da Igualdade Racial, para facilitar a sua aprovação no Congresso Nacional. “Enquanto vocês estiverem brigando, ele vai ficar mofando lá”, disse.
Prioridades
O novo ministro, Edson Santos, disse que vai dar continuidade ao trabalho desenvolvido por Matilde. Segundo ele, medidas como a política de cotas, o estatuto da igualdade racial e a agenda social quilombola serão mantidas e aprofundadas em sua gestão.
Ele lembrou que, embora legalmente libertos, os negros do Brasil não receberam da sociedade ou do Estado os instrumentos necessários para a sua emancipação. “Privados do acesso à educação, à saúde pública, aos bens materiais e preteridos no mercado de trabalho, aos negros restaram os guetos, as favelas e os subempregos”, disse o ministro.
Santos lembrou os avanços conquistados pelos negros, mas disse que ainda faltam muitos direitos a serem adquiridos. “Embora não tenham partido a espinha dorsal do racismo e da desigualdade, conseguiram muitos avanços, suados e sofridos. Mas ainda resta muito a conquistar”, disse o ministro, lembrando que os negros compõem a maior parte da base da pirâmide social no Brasil.
Segundo ele, a criação da Seppir colocou a superação da desigualdade racial como uma das prioridades da agenda social do país. “Hoje, além da fé em nossa luta, inspirada por tantos heróis que tombaram ao longo dos anos, temos os instrumentos necessários para fazer da plena igualdade racial uma realidade em nosso país.”
O trabalho realizado por Matilde Ribeiro também foi citado por Edson Santos. “Durante cinco anos, ela lutou arduamente em parceria constante com os movimentos organizados para criar os alicerces da política nacional da igualdade racial”, disse.
Até ser nomeado, Santos planejava concorrer às eleições municipais no Rio. Depois de ser escolhido para ocupar a Igualdade Racial, ele disse que apenas “adiou o sonho”.
Sala lotada
O ex-ministro interino da Seppir Martvs das Chagas disse que Matilde Ribeiro vai entrar para a história como uma das mais importantes lideranças do movimento negro no Brasil. “Matilde Ribeiro é uma militante idônea, com uma bela história de vida e militância, e que fez a tarefa histórica de colocar o debate da questão racial de forma definitiva no meio da sociedade brasileira”, disse Chagas.
Para ele, o episódio que culminou no afastamento da ministra foi um “momento de dor e perplexidade”. Chagas disse que Edson Santos é um dos melhores e mais preparados quadros políticos do Brasil e que a política de promoção da igualdade racial será ampliada e fortalecida na sua gestão.
A cerimônia realizada nesta quarta-feira para a posse de Santos no Palácio do Planalto foi uma das mais concorridas deste ano. Além do presidente Lula, ministros e parlamentares, participaram da solenidade lideranças partidárias, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB) e representantes de movimentos negros. Entre os convidados de Santos estavam os prefeitos de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT) e de Belford Roxo, Alcides Rolim (PT). Representantes de religiões de origem africana também estavam presentes.
O maior salão do Palácio do Planalto lotou. Durante a solenidade, os presentes aplaudiram quando Santos destacou que suas prioridades na pasta serão a política de cotas, os quilombolas, o estatuto do negro e ainda uma homenagem póstuma a João Cândido Felisberto –conhecido como o almirante negro que lutou contra os castigos físicos na Marinha, no início do século 20.
Da redação,
com agências