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Mundo multi-touch: ponha os dedos na tela e faça a revolução

Assim como o mouse foi um avanço espetacular e nos libertou da dependência excessiva do teclado, as interfaces que usam os dedos na tela, como no iPhone, abrem uma enorme perspectiva.


 


Por Leonardo Dias, no Webinsider

Tem coisas que a gente assume meio sem questionar. O inglês tem uma expressão ótima para isso que eu gosto muito, é o “take for granted”. São coisas habituais, do nosso no dia-a-dia, e de repente vem alguém e mostra um jeito melhor, ou algo completamente novo que ninguém pensara antes.


 


Foi assim com o walkman, antes da Sony lançá-lo há quase 30 anos, ninguém imaginava andar ouvindo suas fitas cassete. Foi assim com o videocassete, outra da Sony. E, dizem que, foi assim com os limpadores de pára-brisa, ninguém questionava muito a invenção lusitana, até que os americanos tiveram a idéia de colocá-los do lado de fora do carro (piadinha velha, mas não resisti).


 


Tudo isso pra ilustrar o que acontece com nossa principal forma de interagir com os computadores pessoais: o mouse. Numa analogia simples, o mouse representa um de nossos dedos passeando pela tela. Quando clicamos, é como se o nosso dedo apertasse um botão. Se clicamos e não soltamos, podemos arrastar as coisas.


 


Além disso, começaram a aparecer outras ações para o nosso “dedo virtual”: são cliques duplos, cliques com o segundo botão, cliques com o botão do meio, outras variações com “scroll wheels” e muito mais (a não ser que você tenha um Mac, aí, é um botão só mesmo).


 


Olhando rapidamente, o mouse é um dispositivo poderosíssimo, livrou-nos de interagir com o computador através da digitação de códigos obscuros via linha de comando e nos trouxe para o mundo das janelas. Mas, pense bem, quantos dedos você tem? Com sorte 10 (sim, desconsiderando seus pés). No entanto, quando usamos uma interface gráfica num computador, não pensamos muito a respeito, mas estamos usando apenas um “dedinho virtual” e esquecendo dos demais.


 


Vencendo limitações


 


Imagine o seu dia-a-dia no mundo limitado ao uso de apenas um dedo. Como se todas as suas atividades, pudessem ser realizadas com apenas seu indicador. Apertar um botão, ok, coçar o nariz, beleza. Mas e espremer aquela espinha chata, ou tapar os dois ouvidos no meio de um barulho infernal, tocar piano então? Já pensou?


 


Assim como, praticamente sem questionar, assumimos a vida com nossas duas mãos com cinco dedos cada, também assumimos as interfaces de computador sem pensar muito nas limitações impostas. Até que vem alguém, ou alguns, e apresentam algo diferente. É o que está acontecendo agora, quando experiências de interface multi-touch começam a pipocar e saem da obscuridade acadêmica em que estiveram nos últimos 25 anos.


 


Todos que viram o filme certamente lembram das interfaces multi-touch de Minority Report. Assistir John Arderton, interpretado por Tom Cruise, interagir com diversas telas usando as duas mãos e os dedos, foi uma amostra de como seria o futuro.


 


Mas hoje a referência mais reconhecida é, sem dúvida, o iPhone. Ver Steve Jobs “pinçando” uma foto na tela do celular para alterar o zoom deixou o mundo todo embasbacado e louco pra experimentar também. É como se finalmente alguém reconhecesse que os outros nove dedos serviam para alguma coisa.


 


Também não posso esquecer do protótipo de mesa interativa da Microsoft, o Surface. Que todo mundo adora desdenhar e que só não fez mais barulho, por que não foi o Steve Jobs, com seu campo de distorção da realidade, que apresentou.


 


Fases de adaptação


 


O fato é que hoje temos uma série de iniciativas de hardwares que aceitam multi-touch, e isso certamente afetará a forma como interfaceamos com o mundo digital. Mas o hardware é só metade da equação. Precisamos começar a pensar em softwares que aceitem esses múltiplos inputs simultâneos.


 


Ainda vamos ter um período meio caótico, até que determinados gestos sejam entendidos de forma padrão e previsível para o usuário. Assim como hoje todos sabem o que faz um duplo clique, precisaremos ter padrões para pinçar, afastar dois dedos, girá-los etc. Até que estejamos tão acostumados com multi-touch quanto estamos com nosso solitário dedo virtual de hoje.


 


Também da Apple vem o primeiro laptop com sensor de múltiplos toques no seu “touchpad”, o Mac Book Air. Como o hardware é só a primeira parte a ser resolvida da equação, apesar do Air aceitar multi-touch, por enquanto, apenas alguns softwares da Apple interpretam comandos com mais de um dedo. Mas é questão de tempo.


 


É um campo a desbravar para os desenvolvedores de hardware, software e interfaces. Uma área interessante para se atuar e poder ajudar a escrever novos padrões. É questão de alguns anos para que olhemos para trás e pensemos “como é que a gente vivia com apenas um dedinho antes?”.