A guerra civil na Colômbia
* Mônica Dias Martins
A moção da Organização dos Estados Americanos (OEA), aprovada por unanimidade em 5 de março, condena a violação da soberania do Equador pelas Forças Armadas colombianas. O texto não faz jus à gravidade da ação prem
Publicado 11/03/2008 15:47 | Editado 04/03/2020 16:36
Mais conhecida pelos cultivos ilícitos do que pela sua diversidade biológica, pela violência dos grupos insurgentes do que pelo genocídio social, a Colômbia vive uma guerra civil há cinco décadas. Suas raízes estão no monopólio de terras, minas, florestas, águas e petróleo por potências estrangeiras.
No período conhecido como la Violencia (1948-1958), milhares de camponeses são assassinados e expulsos de suas terras para que os grandes proprietários constituam suas empresas de cana-de-açúcar, café, algodão, banana, fumo. O campesinato se defende e empunha armas, liderado por Manuel Marulanda, o comandante “Tirofijo”. Nascem as Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (Farc), o maior agrupamento guerrilheiro do país. A guerrilha é um movimento contestador, com um projeto político, constituída por um grupo armado e cujos combates caracterizam-se pela mobilidade e irregularidade. Não é, portanto, nem mais nem menos adepta do uso de práticas para infligir terror do que seus oponentes: o Estado e os paramilitares.
A guerra civil não impede eleições periódicas, partidos legais, liberdade de expressão e de imprensa; porém, os que se opõem a esta democracia costumam ser eliminados. O caso mais notório é o da União Patriótica, uma coligação de esquerda, que perdeu cerca de 1.500 simpatizantes e membros, mortos ao concorrerem à Assembléia Nacional Constituinte (1991). A guerra civil também não afeta o crescimento da economia; facilita a apropriação e o controle dos territórios para implantar megaprojetos de infra-estrutura e agropecuários. Há uma correlação positiva entre a expansão da agricultura exportadora e monocultora, resultado do investimento do dinheiro provindo do narcotráfico e dos grupos paramilitares.
Sob pretexto de combater o narcotráfico, o congresso dos EUA aprova um plano de modernização das Forças Armadas. O chamado Plano Colômbia visa, ainda, estabelecer uma plataforma militar regional. Trata-se de uma intervenção externa para aplacar a resistência ao livre acesso das transnacionais às riquezas naturais da Colômbia (terras férteis, potencial hídrico, reservas florestais e minerais: petróleo, carvão, ouro, esmeraldas) e de seus vizinhos – Venezuela, Equador, Peru e Brasil – que detêm, em conjunto, uma das maiores biodiversidades do planeta. O Equador é estratégico também por sediar a única base militar estadunidense no subcontinente: a Base de Manta lhe permite controlar o espaço aéreo da Amazônia e do Canal do Panamá.
Resta saber quais os rumos políticos da pretendida cooperação regional, caso não haja uma reação incisiva à permanente ingerência dos Estados Unidos na América do Sul.
*Mônica Dias Martins – Professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e coordenadora do Observatório das Nacionalidades