Depressão afasta nove educadores por dia das escolas do DF

Excesso de trabalho, desmotivação e infra-estrutura precária. Esses são alguns dos motivos apontados por professores da rede pública de ensino do Distrito Federal para o grande número de licenças concedidas por motivo de saúde. Em 2007, 3.515 educadores p

Uma pesquisa realizada em 2002 pelo Sindicato dos Professores do DF (Sinpro) já apontava a alta incidência de casos de depressão entre os docentes da rede pública. Na época, 38,7% dos educadores que pediam licença por motivos de saúde tinham estresse, depressão e problemas emocionais, contra 21,9% que tinham problemas nas articulações e 17,8% nas cordas vocais. A diretora de saúde do Sinpro, Maria José Correia Barreto, acredita que os números hoje estão maiores. Por isso, encomendou novo levantamento à Universidade de Brasília (UnB), que deve ficar pronto em abril.


 


No sindicato, Maria José ouve depoimentos de professores que pedem licença médica e percebe um perfil comum entre os depressivos. “A gente sente a insatisfação deles com o salário, o ambiente de trabalho, a falta de material, o número excessivo de alunos na sala de aula. Imagina o que um professor passa ficando cinco horas por dia em uma sala cheia?”, comenta a diretora. Ainda assim, ela ressalta que um problema nunca vem sozinho. “Outras doenças provocam depressão, assim como a depressão provoca outras doenças”, destaca.


 


Saúde


O médico psiquiatra da Diretoria de Perícia Médico-Odontológica (DPM) da Secretaria de Educação, Arquimedes Guimarães de Castro, explica que os distúrbios mentais, como a maioria das doenças, têm várias causas, não necessariamente relacionadas ao trabalho. “Cada um reage de um jeito a situações diversas, por isso é preciso observar os inúmeros fatores determinantes, como a herança genética, a história de vida e a condição social do depressivo”, explica.


 


A professora de História e Geografia há quase 20 anos Agustina Vives Gil Assumpção, 54 anos, admite que o ambiente de trabalho foi apenas um agravante para o desenvolvimento do transtorno bipolar (quando picos de depressão e euforia se revezam) que a acompanha há mais de dez anos. No entanto, coleciona histórias relacionadas à profissão que serviram de estopim para as crises. “Minha primeira grande crise aconteceu quando fui perseguida por bandidos perto da escola onde eu trabalhava, também já piorei no dia em que um diretor me tratou muito mal e uns alunos me xingaram”, conta.


 


A educadora já chegou a ficar três anos sem sair de casa e, da última vez em que o problema se manifestou, passou três meses de licença-médica. “Não como, não sinto sede, não durmo direito, tenho problemas digestivos e não tenho mais paciência de dar aula”, comenta. O médico que a acompanha recomendou a readaptação de atividade para Agustina. Porém os peritos da DPM acreditam que ela tem capacidade de voltar às salas. Ela discorda. “Se não tivesse problemas na aula, tudo bem, mas não consigo agüentar maus-tratos e xingamentos dos alunos, começo a chorar mesmo”, reconhece.


 


Fonte: Correioweb