Chuvas em Teresina*

Mais uma vez as chuvas fazem a cidade passar por diversos constrangimentos, entre eles, alagamentos nas margens dos rios, carros no prego por conta da inundação das ruas na área urbana, famílias desabrigadas e a inoperância e oportunismo eleitoreiro da Pr

Chove chuva



As chuvas em nossa cidade não podem ser evitadas, pelo contrário, devido as famosas altas temperaturas (alcançando máximas em torno de 40° graus), este período é aguardado com muita expectativa por parte da população. As chuvas têm seu ponto alto nos meses de fevereiro e março em forma de pancadas de chuvas com trovões e muitos relâmpagos. Esse período não só contém razoáveis índices pluviométricos, como acontece dentro do período chuvoso do Piauí que começa em novembro no Sul do Estado e termina em maio no Norte. Isso faz com que Teresina viva também nesta época as elevações dos níveis de seus dois rios, o Poti e Parnaíba. No caso do Poti, esse ano já teve sua vazão aumentada em mais de 700 metros cúbicos por segundo, enquanto para o nível das águas no Parnaíba está faltando menos de meio metro (47 cm) para passar da cota restritiva que é de 6,87 metros. Estes volumes de água devem, segundo a Chesf (Companhia Hidroelétrica do São Francisco), ficar estáveis a partir de agora.



Com rios transbordando e muita água caindo começam os problemas. Certamente o pior deles são as enchentes. Essas acontecem dentro da cidade alagando ruas e comprometendo a já ineficiente dinâmica do transito da capital. Nas regiões pobres, as cheias destroem as casas de construção mais precárias e desabrigam famílias inteiras. Segundo as informações oficiais (do Corpo de Bombeiros, da Defesa Civil e da Prefeitura Municipal de Teresina) o número de famílias desabrigadas já ultrapassou 630. Na mesma região do balneário Curva São Paulo (uma das poucas obras expressivas da administração municipal), que já está coberto pelas águas do Poti, são quase 200 famílias. Outra região bastante atingida foi a zona Norte de Teresina, que caminha rapidamente para as 300 famílias desabrigadas, enquanto espera a obra Lagoas do Norte que já foi anunciada inúmeras vezes pela prefeitura mas nunca foi iniciada.



O que as chuvas revelam



Por traz dessa verdadeira calamidade está a falta de compromisso por parte do poder público para com a solução do problema, especialmente a Prefeitura Municipal de Teresina. Basta ver que em 2005 (primeiro ano do mandato do atual prefeito) o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil já haviam mapeado as áreas de enchentes em Teresina, no mesmo período do Decreto nº 5.376 (de fevereiro de 2005) que trata do sistema nacional de defesa civil e distribui responsabilidades, prevendo no seu Artigo 18º a responsabilidade do Prefeito Municipal (quando em situações de desastre como numa enchente que destrói casa e edificações) pelas “ações de resposta e de reconstrução e recuperação”. Dessa forma fica claro que se dispõe das informações necessárias para saber as áreas de enchente em Teresina e quem será responsável para corrigir os estragos provocados por ela. Diferente do que se esperava a administração municipal não é capaz de se antecipar aos problemas, e as cheias tornam a acontecer. O atual prefeito agora ‘chora (e ele chora mesmo!) o leite derramado’!



Muito dinheiro a água leva



No ano seguinte, em 2006, a prefeitura concluiu várias obras e publicou um material luxuoso que enviou à casa de todos os moradores da capital em fevereiro de 2007. Ao verificar atentamente o documento identificado na capa como Prestação de Contas/2006 é possível constatar que dos R$ 27.371.924,89 gastos com ‘obras concluídas pelas SDU (Superintendências de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente)’ responsáveis pelas regiões centro/norte, sul, sudeste e leste, foram aplicados em galerias e bueiros (manutenção e construção) somente R$ 641.729,91. Ora, qualquer pessoa medianamente informada sabe que galerias e bueiros são componentes vitais no combate a cheias urbanas, uma vez que os solos nas cidades são impermeabilizados pelas construções. Dessas galerias construídas somente duas são Galerias Fluviais, construídas no Dirceu I e na Vila Verde. Para dar dimensão melhor do acanhamento do investimento basta ver no mesmo documento que somente na obra de reforma do Prédio da CAP/ITBI/IPTU, na Rua Álvaro Mendes, gastou-se mais de R$ 125.000,00 e a construção do Prédio do SAMU, na Macaúba, custou mais de R$ 611.000,00 reais. Decididamente, resolver o problema das inundações não é prioridade para PMT.



Não é política, é politicagem



Uma velha prática deve explicar a omissão da prefeitura diante do caos que a cidade se transforma durante as chuvas: a politicagem. Na condição de alguém que não se admite político, a prefeitura prefere conceder “com toda sua benevolência” aluguel, alimentação e dinheiro para os desabrigados enquanto o Prefeito emocionado desfila cercado de câmeras de TV nas margens dos rios.



Solução para as enchentes urbanas já existe. São exemplos disso os diques, piscinões, muita galeria, construção de jardins e esgotos. Mas nada disso vira realidade em Teresina se a Prefeitura não assumir a responsabilidade política de preparar a cidade para as chuvas.



*Professor Elton Arruda é Secretário de Formação do PCdoB no Piauí.  eltonarruda@hotmail.com