Antonio Mourão Cavalcante: Sangue na TV
Terminou o Big Brother e a televisão teve que arranjar, imediatamente, um outro circo. Parece que as novelas não conseguem mais galvanizar a atenção dos telespectadores. Os ingredientes apresentados são repetitivos e enfadonhos. Agora, o programa deve ser
Publicado 20/04/2008 11:10 | Editado 04/03/2020 16:36
Eis que surge o caso da garota Isabella, em São Paulo, envolvendo inocência, crime misterioso e polícia. Relações amorosas em conflito. Estes são belos ingredientes para a mídia transformar uma tragédia em espetáculo. O filão está descoberto. Os noticiários são exaustivamente dedicados a desfilar e repetir os fatos, numa seqüência que lembra capítulos de uma novela. Feito vampiros, sugam a última gota de sangue possível.
Nessa quantidade imensa de fatos, informações e versões, nada de análises ou reflexões mais consistentes. Um espetáculo para empolgar, dispensa uma mínima racionalidade. Tem que ser só adrenalina. Apelo ao emocional. Explora-se o mais mórbido da questão. Bestialidade.
Lamentavelmente, a pretexto de obter audiência e com ela, faturar mais, tornou-se tudo válido. Feio é perder. Apela-se para um sensacionalismo barato. Esdrúxulo. Doentio. E tudo, a qualquer momento do dia. Não interessa se invadem os lares, onde crianças e adolescentes – em plena formação – estão também assistindo. Tudo é banalizado. Viramos uma sociedade do espetaculoso.
Essa semana, a Assembléia Legislativa do Ceará também discutiu o assunto, enfocando os ditos programas policiais. Acusa-se que eles exploram a violência, e, em última análise, promovem o crime.
Os deputados que são igualmente apresentadores de programas policiais – “a bancada do sangue” – logo foram à tribuna eximir-se de qualquer culpa. São profissionais e, no fundo, defendem a justiça, combatem o crime, etc.
Não sei se diante de forças tão poderosas temos como reagir. Com esses instrumentos tão perigosos de fabricar vítimas e facínoras, não possuímos muito espaço para contestar. No meu caso, caro leitor, vingo-me com uma arma muito poderosa: o controle que fecha ou muda de canal. Sabe que você pode fazer o mesmo?…
Antonio Mourão Cavalcante é professor, médico e antropólogo.