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Após vitória, Lugo defende mediador para questão de Itaipu

Um dia após ser eleito o novo presidente do Paraguai, o ex-bispo católico Fernando Lugo disse nesta segunda-feira (21) que Itaipu será uma prioridade de seu governo e que formará uma equipe de especialistas para discutir com as autoridades brasileiras tem

Brasília tem rejeitado a idéia de revisar o acordo ou de aceitar reajustes significativos no preços da energia que adquire do Paraguai. Lugo, que fez de Itaipu o mote central de sua campanha eleitoral, afirmou que nenhum país da região pode agir com “irracionalidade” e ficar preso a argumentos passados.



“A primeira medida será formar uma equipe técnica, conforme conversamos com o presidente Lula”, disse Lugo.
Os dois presidente se encontraram no início do mês, em Brasília, e o mandatário brasileiro disse que, em níveis técnicos, não havia assunto que não pudesse ser discutido. “Nós nos dedicaremos agora a formar um grupo com os mais entendidos no tema, tanto energético e hidrelétrico quanto também administrativo, para poder formar essa mesa [de diálogo de técnicos].”



Segundo ele, seu objetivo é abrir uma discussão sobre “o que é Itaipu, o tratado, a administração, a transferência de energia e o que significa para nós um preço justo”. “[Temos de discutir] como se faz a preço e o que significa o acordo de Foz de Iguaçu, de 1966, quando os chanceleres de ambos os países decidiram que a energia se venderia a preço justo.”



Lugo é o primeiro presidente da oposição eleito no Paraguai após uma hegemonia de 61 anos do Partido Colorado, cuja candidata, a ex-ministra da Educação Blanca Ovelar, foi derrotada por uma diferença maior do que esperavam as pesquisas de intenção de voto.



O Partido Liberal Radical Autêntico, que fez dobradinha com Lugo e é o segundo maior partido do país, é um crítico histórico das relações entre Brasil e Paraguai em torno de Itaipu. O partido elegeu o vice da chapa, Federico Franco. Movimentos e partidos de esquerda, também da base de Lugo, fizeram da renegociação de Itaipu uma de suas principais bandeiras.



Durante entrevista que concedeu pela manhã em sua casa, Lugo procurou muitas vezes um tom conciliador em relação ao governo brasileiro, dizendo ter esperança de que Brasil e Paraguai cheguem a um consenso e a posições justas e positivas para ambos os lados. Mas, a certa altura, disparou: “Não creio que nenhum governo da região possa se aferrar à irracionalidade. Devemos sim nos apegar à objetividade dos argumentos que serão apresentados”.



Perguntado se cogita recorrer a alguma instância internacional, como o Tribunal de Haia, para reivindicar mudanças nas condições do tratado, Lugo disse que preferiria a ajuda regional, caso as conversas diretas com Brasil não avancem. “Na região, poderíamos também ter a participação de outros países que possam mediar a discussão. Teríamos de definir com o Brasil quem goza da confiança tanto do Brasil e quanto do Paraguai.”



Lula quer diálogo



Nesta segunda-feira, em Acra, Gana, o próprio presidente Lula, ao comentar a eleição de Lugo, voltou a dizer que “não muda o tratado” e que ele já teve cerca de 20 reuniões como governo do Paraguai nas quais trataram não apenas de Itaipu, mas de outros pontos de interesse binacional, como fronteira e investimentos.



E, numa possível indicação de que novos reajustes podem ser considerados, Lula disse: “Nós temos muito, muito, muito para continuar conversando com o Paraguai. E vamos conversar”.



O Paraguai recebe em torno de US$ 300 milhões ao ano por compensação de cessão de energia ao Brasil e por
royalties da usina. Durante a campanha, Lugo disse que havia estudos que sustentavam que o valor justo poderia chegar a US$ 1 bilhão. De toda a energia produzida por Itaipu, o Brasil consome 95%; o Paraguai, apenas 5%.



Ainda nesta segunda-feira, Lugo elogiou Lula e disse considerá-lo o presidente que mais tem se aproximado do país no passado recente. Ele  disse ainda que não partilha do sentimento de setores da sociedade paraguaia de que o Brasil atua de forma imperialista e exploradora ante o sócio mais pobre do Mercosul. “Creio que temos relações com o Brasil que temos de aprofundar e melhorar”, disse, acrescentando que espera desenvolver “ligações mais solidárias, mais justas e mais fraternas, como corresponde a dois países que são irmãos.”



Fonte: Valor Econômico