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Peru: sentença de general complica futuro de Fujimori

O ex-presidente peruano Alberto Fujimori, que governou entre 1990 e 2000 e está sendo julgado desde dezembro por violações aos direitos humanos e seqüestros de opositores a seu regime, começou a vislumbrar um futuro negro depois da dura sentença que receb

A sessão, presidida por uma das magistradas mais probas e preparadas do Poder Judicial, Inés Villa Bonilla, aumentou de 30 para 35 anos a condenação contra Salazar Monroe, argumentando que o general foi o “autor imediato” do homicídio de nove estudantes e um professor da Universidade La Cantuta , em Lima, quando era diretor do Serviço de Inteligência Nacional.



Salazar Monroe, o chefe formal do Serviço de Inteligência Nacional (SIN), vai ficar na prisão até o ano 2043; enquanto que o chefe de fato do SIN, Vladimiro Montesinos, conhecido como o “Rasputin andino”, espera na prisão que se iniciem os julgamentos pelos delitos de direitos humanos que pesam contra ele.



Além disso, o tribunal que julga os delitos do grupo Colina, conhecido como o “esquadrão da morte”, confirmou que este se formou dentro do Serviço de Inteligência Nacional sob a anuência dos máximos chefes militares do país, com o fim de combater “extrajudicialmente” o grupo terrorista Sendero Luminoso.



Também foi ratificada a resolução da Corte Interamericana de Direitos Humanos que determinou há dois anos que os familiares das vítimas devem receber indenização de US$ 50 mil pela perda de pai, mãe, cônjuge ou filho, e de US$ 20 mil pela perda de um irmão.



Fujimori e o Grupo Colina



A sentença, pronunciada depois de mais de quatro anos de julgamento, complica mais a situação de Fujimori, porque desde dezembro passado ele está sendo processado pela suposta “autoria imediata” dos homicídios que o esquadrão da morte cometeu na Universidade La Cantuta e no distrito de Barrios Altos, em Lima, onde morreram 15 pessoas – entre elas um garoto de 8 anos- em novembro de 1991.



O Promotor Supremo, José Peláez, integrante do tribunal que julga Fujimori, solicitou formalmente que a sentença condenatória de Salazar Monroe seja incluída como prova no julgamento contra o ex-mandatário do país andino.



Para Peláez, a sentença “marca um precedente no julgamento de Fujimori”, porque ratifica judicialmente a existência do grupo Colina como subordinado ao Serviço de Inteligência, formado por membros do Exército.



Fujimori alegou que “nunca foi consultado nem teve conhecimento” sobre a operação militar que resultou no assassinato dos estudantes e do professor da universidade La Cantuta.



O ex-mandatário, de 69 anos, se referiu a um conhecido discurso que proferiu em 1992, no qual afirmou que “os terroristas e seu veneno serão eliminados” e que tinha por objetivo, de acordo com sua versão, “infundir ânimo e confiança no povo em meio a momentos difíceis. Nunca tive conhecimento e muito menos aprovei alguma operação em La Cantuta , salvo a de recuperação do controle das universidades infiltradas pelo Sendero Luminoso”, disse Fujimori.



O congressista e advogado de Fujimori, Rolando Sousa, considerou “ridícula” a sentença contra o general Salazar Monroe: a seu entender, “existe a intenção de incriminar Fujimori pelas atividades do grupo Colina, e o curioso é que não há provas (ao contrário de Salazar Monroe), e nenhuma testemunha o incrimina”.



O advogado de Fujimori e de Salazar Monroe, César Nakasaki, também reagiu na defensiva, alegando que “a atitude da Primeira Sessão (presidida por Inés Villa Bonilla) prende a atenção da defesa de Fujimori. Há uma situação que vamos controlar e temos que neutralizar”. Além disso, acusou a magistrada Villa Bonilla de “usar todas as armas para prejudicar meu cliente, inventando cargos e violando a imparcialidade do tribunal”.



“Isso não é uma sentença, é uma seqüência acusadora, um trampolim que alguém inventou para chegar a Fujimori. Fizeram uma equação: se condeno o chefe do SIN, então também chego a Fujimori”, concluiu Nakasaki.



No entanto, o diretor da Associação Pró-Direitos Humanos (Aprodeh), Miguel Jugo, disse que essa sentença “é crucial porque são demonstradas as hierarquias que manejaram e deram origem ao grupo Colina, que contou com o dinheiro, transporte e manuais para planejar a matança extrajudicial de Cantuta e Barrios Altos”.



“Aqui ninguém pode dizer que Colina era um grupo paramilitar, porque foi concebido no seio do Serviço de Inteligência Nacional, e por isso nos estranha a forte reação da defesa de Fujimori, e que sua filha Keiko tenha sido enviada por seus assessores a estudar nos Estados Unidos, para que o caso não a afete politicamente”, observou Jugo.



“A defesa de Fujimori quer negar a figura da 'autoria mediata'; diz que não há papéis que certifiquem que Fujimori ordenou as mortes, algo que é óbvio. Por essa razão é que se trabalha com as evidências que demonstram todo o apoio logístico com que contou o grupo Colina”, finalizou o diretor da Aprodeh.



Fonte: Terra Magazine