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Para Márcio Pochmann, jornada ideal no século 21 é de 12h

Em palestra no auditório da Biblioteca Pública Estadual Luís de Bessa, na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte (MG), o professor e economista Márcio Pochmann, atual presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), falou sobre as possibilida

Em resumo, Pochmann defende a proposta de que a sociedade brasileira tem que redimensionar as relações existentes no mundo do trabalho e reduzir as fragorosas desigualdades sociais que ainda nos permeiam.


 


Revolucionária, a redução da jornada pressupõe “que há uma oportunidade inédita para que o trabalho seja relacionado com a vida numa menor escala, permitindo que nesse novo século, o século 21, o tempo de trabalho não seja mais do que 4 horas por dia, três dias por semana, inclusive com uma maior inserção do jovem no mercado de trabalho somente a partir dos 25 anos de idade, considerando que a expectativa média de vida cada vez mais se aproxima dos 100 anos de idade.”


 


O economista avalia que terá que haver muita luta por parte dos trabalhadores e daqueles que abraçarem a idéia, pois, afirma ele, já tem a reação contrária dos setores que movimentam a economia capitalista.


 


A proposta possibilita que os trabalhadores tenham uma melhor educação e, assim, acesso às riqueas material e imaterial, hoje nas mãos de poucos, muito poucos, razão da miséria de milhões no planeta.


 


Leia a entrevista na íntegra.


 


Professor Pochmann, em que consiste a sua proposta de redução da jornada de trabalho?


 


Márcio Pochmann — Se olharmos do ponto de vista histórico, vamos perceber que sob o capitalismo a luta dos trabalhadores é pela libertação do chamado trabalho heterônomo, que é aquele tipo de trabalho visando estritamente a sobrevivência, a troca da força física/intelectual por um salário, por uma remuneração. No final do século 19, os trabalhadores tinham uma jornada muito intensa, que chegava a 4 mil horas por ano. Cem anos depois, a jornal de trabalho anual, reduziu-se para menos de 2 mil horas. Frente aos avanços da base material do capitalismo, percebemos um espaço enorme para uma nova rodada de redução da jornada de trabalho.


 


Acreditamos que há uma oportunidade inédita para que o trabalho seja relacionado com a vida numa menor escala, permitindo que nesse novo século, o século 21, o tempo de trabalho não seja mais do que 4 horas por dia, três dias por semana, inclusive com uma maior inserção do jovem no mercado de trabalho, somente a partir dos 25 anos de idade, considerando que a expectativa média de vida cada vez mais se aproxima dos 100 anos de idade.


 


Essa nova redução da jornada de trabalho, pela sua proposta, vai proporcionar que mais trabalhadores ingressem no mercado de trabalho e ao mesmo tempo melhore sua qualidade de vida?


 


MP — Nossa preocupação, fundamentalmente, não é colocar mais gente no mercado de trabalho. Pelo contrário, é reduzir o número de pessoas que precisam ir ao mercado de trabalho para sobreviver. Porque nós acreditamos que o volume de riqueza que está sendo gerado, não somente a riqueza material mas também a riqueza imaterial, encontra-se num tal patamar que ela precisa ser melhor redistribuída. Quando nós olhamos, por exemplo, a situação atual, vamos perceber que há uma crise internacional no âmbito do sistema financeiro que resulta, justamente, de uma enorme concentração de riqueza não-distribuída. E a distribuição da riqueza pode ser feita, inclusive permitindo, ou financiando, que as pessoas cheguem mais tardiamente no mercado de trabalho. A proposta vem acompanhada de uma melhor distribuição da renda e uma maior possibilidade de o trabalhador se envolver com outras atividades que não sejam somente o trabalho heterônomo.


 


As condições estão colocadas na sociedade brasileira para ocorrer esta redução na jornada de trabalho? Não haveria uma reação contrária à proposta?


 


MP — Sem dúvida. O que eu tenho falado muitas vezes tem sido motivo de críticas por setores que não entendem muito bem a concepção da proposta. Não estamos falando de uma redução de jornada para amanhã. Falamos de uma redução de jornada para o século 21. Eu acredito que essa é uma possibilidade inegável de enfrentar questões mais abrangentes, como a crise de estabilidade que estamos vivendo hoje. E, certamente, a enorme possibilidade de fazer valer uma educação de qualidade e uma melhor preparação para ingressar no mercado de trabalho. Tem a ver, inclusive com a relação do trabalho com a vida e, sobretudo, com a educação.


 


Fonte: Boletim Infomartivo do PT