Pochmann defende jornada semanal de 12 horas

A afirmação foi feita na Conferência Internacional ''Desenvolvimento Global: desafios às estratégias sindicais'', realizada pela Global Labour University no Instituto de Economia da Unicamp. Em sua explanação, na discussão sobre ''Estratégias sindicais

O pesquisador iniciou sua apresentação remontando às origens do sindicalismo. No século XIX, à época do capitalismo concorrencial, os trabalhadores se organizaram nos sindicatos de ofício. Eram organizações que cuidavam dos interesses dos trabalhadores qualificados – os mestres de ofício. Não tinham, nesse momento, preocupação política e também não representavam a massa de trabalhadores com menor qualificação. Sobre essas entidades, Lênin afirma que cuidavam da aristocracia operária.


 


 


Pochmann avança no tempo para tratar dos sindicatos surgidos no capitalismo oligopolizado. Ao condicionar seus trabalhadores num mesmo ambiente de trabalho, as grandes empresas viabilizam o fortalecimento de sua unidade, o que dá início aos sindicatos gerais. Surgem os contratos coletivos que estabelecem pisos por categoria, salário mínimo e jornada máxima. A representatividade sindical é ampliada para a ampla massa de trabalhadores. É nesse momento que os sindicalistas percebem a necessidade de desenvolver lutas políticas mais amplas.


 


 


Através dos partidos trabalhistas, é defendido o voto universal (até então, apenas homens ricos votavam – o voto censitário). A base operária, eleita para os parlamentos, transforma conquistas dos locais de trabalho em regras gerais. As leis começam a garantir que as pessoas possam viver sem trabalhar – como é o caso das crianças, adolescentes, trabalhadores acidentados e aposentados. Os trabalhadores deixam de ser caso de polícia para entrar nas agendas políticas nacionais. Mas, globalmente, apenas 25% de todos os trabalhadores têm acesso a esse padrão. E, os sindicatos passam a viver o dilema entre ser uma organização de acomodação de interesses – numa perspectiva reformista -, ou, à luz do marxismo, assumir seu papel de transformação social ao representar os interesses dos excluídos.


 


 


Hoje, a sociedade caminha para o capitalismo monopolista. Quinhentas empresas dominam o mercado e estabelecem uma brutal concentração do poder econômico. A história comprova que a hegemonia do mercado traz mais problemas do que benefícios aos povos e nações. A fase atual também aprofunda a intensificação do trabalho e elimina as diferenças na gestão do trabalho urbano e rural.


 


 


Intensificam-se também os ganhos imateriais, pois a produtividade deixa de ocorrer apenas nos locais de trabalho. Pochmann diz que, atualmente, trabalhamos 24 horas por dia, mesmo quando não se está mais no chão da fábrica, devido às novas tecnologias: como internet e celulares. Essa interatividade significa ganhos de trabalho imaterial que geram mais riqueza. Para ele, há ainda os trabalhadores contaminados pela lógica do capital quer os quer como sócios nos riscos e prejuízos de seus negócios.


 


 


O pesquisador afirma que há condições técnicas que permitam reverter essa situação e avançar para um novo patamar civilizatório. Para isso ele propõe algumas bandeiras de luta: regulação que permita aos filhos e filhas dos trabalhadores e trabalhadoras entrarem no mercado de trabalho somente após os 25 anos de idade (como fazem os filhos dos ricos); jornada diária de 04 horas durante 03 dias por semana; educação para toda a vida (e não apenas até a entrada do trabalhador no mercado de trabalho) e uma reforma tributária que gere os recursos para viabilização dessas propostas (novos tributos para novas riquezas).


 


 


A nova agenda civilizatória defendida por Pochmann não é uma tese nova. Já há algum tempo ele tem afirmado que as condições técnicas para tais mudanças estão dadas. Respondendo à platéia presente à Conferência, o pesquisador afirma que as condições subjetivas precisam ser construídas pela sociedade e que as mudanças ora propostas não são utópicas. Basta lembrar as lutas do 1° de Maio que reduziram as jornadas de até 18 para oito horas diárias.


 


 


 


A Conferência continua na terça-feira (29/04), com a seguinte programação:


 


9h – Discussão sobre estratégias sindicais para desenvolvimento social e ambiental sustentável.
Coordenador da mesa: Reiner Radermacher, FES
Paulo Baltar, UNICAMP
Quintino Severo, Secretário General da CUT
  Local: Auditório do Instituto de Economia


 


11h – Intervalo


 


11:15h – Sessões Paralelas (4, 5, 6): apresentação de artigos


 


Sessão 4: Desenvolvimento
Coordenador da mesa: Davi José Nardy Antunes
Da pós-independência ao projeto neoliberal e os desafios para os trabalhadores na África Austral: análise comparativa de Moçambique, Ilhas Mauricio e Tanzânia – Kjeld Jakobsen, Daniela Sampaio de Carvalho
Sindicatos, Estado e desenvolvimento: estudo do caso Sul-Africano – Devan Pillay
Agendas de desenvolvimento dos Sindicatos – uma comparação entre CUT no Brasil e DISK na Turquia – Bulend Karadag, Clair Siobhan Ruppert
  Local: Sala 34


 


Sessão 5: Economia informal e trabalho precário
Coordenador da mesa: CUT
 Empoderamento de trabalhadores informais: inclusão de trabalhadores subcontratados e autônomos em canais de negociação unilaterais (empresa/governo) ou multilaterais – Luciana Itikawa, João Paulo Cândia Veiga
 Maquiladoras e condições trabalhistas. Entre a precariedade e o trabalho digno. O caso do México. – Cirila Quintero Ramírez
  Local: Sala 23


 


Sessão 6: Novas estratégias sindicais 1
Coordenador da mesa: José Dari Krein
 Eventos esportivos internacionais como oportunidade de revitalização sindical: A Copa Mundial da FIFA em 2006 e atividades sindicais na Alemanha – Wilfried Schwetz, Donna McGuire
 Migração laboral entre México e Estados Unidos: o papel das organizações transnacionais no mundo do trabalho – Manfred Wannöffel, Oscar Calderón-Morillón, Christina Ruta
 Proteção daqueles que trabalham para subcontratados e fornecedores: Um desafio para a ação sindical – Michèle Descolonges
  Local: Auditório do Instituto de Economia


 


13h – Intervalo de almoço


 


 


14:30h – Sessões Paralelas (7, 8, 9): apresentação de artigos


 


Sessão 7: Novas estratégias sindicais 2
Coordenador da mesa: Anthony Dietrich
 Combatendo a baixa representação em pequenas e médias empresas – Eddie Webster


Relações de trabalho e ação sindical nos enclaves mineiros e metalúrgicos da Amazônia – Josep Vidal
Responsabilidade social corporativa – Impactos nas organizações de trabalhadores: o caso do ABN-AMRO Bank e o movimento sindical no Rio de Janeiro – Jô Portilho
   Local: Sala 23


 


Sessão 8: Economia informal
Coordenador da mesa: Anselmo Luis dos Santos
 Lições das experiências práticas de organização de trabalhadores na economia informal da África, Ásia, America Latina e além:  O mundo do trabalho, sociabilidade e o desenvolvimento social e ambiental sustentável- Pat Horn, Chris Bonner, Elaine Jones 
 Desafios na organização de trabalhadores informal: um estudo sobre o trabalho sócio-assistencial doméstico na África do Sul pós-apartheid e seu viés de gênero – Janet Munakamwe
 Globalização e emprego informal: O caso da Índia – Sharit Bhowmik
 Local: Sala 34


 


Sessão 9: Meio ambiente
Coordenador da mesa: Dieter Eich
Governança ambiental e respostas sindicais na América do Sul – Lilian Arruda, Francine Modesto
 Desenvolvimento sustentável local e regional: Uma proposta de Educação Ambiental para dirigentes sociais e sindicais de acordo com a ecologia social e humana – Enrique H. Sosa, María Belén Aenlle, María Augusta Steinberg
 Ação sindical para o desenvolvimento sustentável: construindo pontes entre o local de trabalho e a agenda internacional – Nilton Freitas
 Senderos à sustentabilidade: o papel do movimento sindical colombiano na construção de políticas ambientais alternativas – Jana Silverman
 Local: Auditório do Instituto de Economia


 


16:30h – Intervalo.


 


16:45h – Sessão de encerramento.
  Local: Auditório do Instituto de Economia


 


 


A Global Labour University é fruto de uma parceria internacional entre organizações sindicais, universidades, institutos de pesquisa e organizações sociais com o objetivo de promover cursos e incentivar a pesquisa e debates sobre o mundo do trabalho.


 


 


De Campinas,
Agildo Nogueira Jr.