Antonio Capistrano: Artur da Távola e Oswaldo Guedes
Não era uma sexta-feira 13, mas foi uma sexta-feira sombria. Primeiro, a noticia da morte de Artur da Távola, uma figura que aprendi a gostar através da sua trajetória de vida, estive por mais de uma vez com ele, conversa afável, jeito amigo, postur
Publicado 15/05/2008 18:09 | Editado 04/03/2020 17:08
Segundo, o falecimento de Oswaldo Guedes, um velho e querido camarada. Eu conheci Oswaldo no inicio dos anos sessenta, ele já maturo, funcionário público federal, militante comunista, eu um jovem que iniciava a militância política.
Eram dois homens comprometidos com a vida, com o próximo, com o mundo. Militantes da paz, da coexistência pacífica, da harmonia entre os povos, dois homens de esquerda, dois humanistas, dois sonhadores, no bom sentido da palavra sonhador.
Oswaldo estava com 92 anos, estive no seu velório, quem me avisou do seu falecimento foi o camarada George Câmara. Fazia algum tempo que eu não o avistava quem sempre me dava noticia de Oswaldo era Meri Medeiros, outro amigo querido.
Vez por outra converso com Meri sobre os velhos camaradas de partido ou da militância política dos anos sessenta/setenta. Na última vez que conversamos fiquei de marcar com ele um papo sobre esses camaradas, eu desejo fazer um registro, resgatando a história desses valorosos homens e mulheres que se doaram a luta na defesa das liberdades democráticas, personagens que na maioria estão sendo esquecidos, são figuras extraordinárias que merece um registro para posterioridade.
Artur da Távola, com 72 anos, seu nome de batismo era Paulo Alberto Monteiro de Barros, família conhecida no Rio de Janeiros, os Monteiros de Barros fazem parte da elite carioca, mas, Artur era um homem preocupado com as coisas da vida, do ser humano, da cultura, jornalista, cronista, homem engajado nas lutas do seu povo. Com o golpe militar de 1964 foi para o Chile e depois para a Bolívia onde viveu o seu exílio. Ao retornar do exílio manteve, por 15 anos, uma coluna no jornal O Globo, sempre escrevendo sobre televisão e música clássica.
Começou sua vida política nas lutas estudantis, foi eleito deputado constituinte pelo PTN, no recém-criado estado da Guanabara, 1960, dois anos depois, foi reeleito, ingressando no PTB. Foi um dos fundadores do PSDB, eleito deputado federal e depois senador. Artur foi líder do primeiro governo Fernando Henrique, em 1999 deixa o PSDB alegando que o partido tinha deixado o seu programa original. Estava, ultimamente se dedicando as suas crônicas e a música clássica, sua grande paixão. Artur da Távola deixará um vácuo, principalmente para quem gostava de ver e ouvir o seu excelente programa de música clássica na teve senado e na rádio senado, “Quem tem medo da música clássica?”.
José Dirceu, no seu Blog, falando sobre a morte de Artur da Távola disse, “solidarizo-me na dor da perda e transmito meus sentimentos aos familiares do senador Artur da Távola. Nesta hora não posso deixar de tributar minha homenagem ao ex-senador, ex-deputado e jornalista, a quem admirava e com quem convivi no inicio da década de 90. Juntos, naquela década e em companhia dos deputados Miro Teixeira (PDT-RJ), Nelson Jobim (PMDB-RS), José Genoino (PT-SP e Aloísio Mercadante (PT-SP), fizemos uma viagem à Alemanha para conhecer seus sistemas judicial e político-eleitoral. Para mim Artur da Távola foi um dos maiores críticos de nossa TV e da música, era um analista diferenciado dos demais porque toda a sua crítica focava no conteúdo, e não na vida paralela do artista cujo trabalho ele comentava. Seu pseudônimo de Artur da Távola lhe foi sugerido pelo também jornalista Samuel Wainer porque era a única forma dele trabalhar, escrever sem que a ditadura, que o cassara e perseguira, continuasse a fazê-lo. Conservo na memória o cidadão atencioso, justo, de uma generosidade sem limites, culto e simples, que era Távola. Cultura e vasta experiência, aliás, que ele sempre colocou a serviço da vida e do país. Este foi o homem, o cidadão que conheci, que nos deixa saudade, bons exemplos e cuja falta será difícil de ser suprida”.
Ao velho camarada Oswaldo Guedes, militante das boas causas e ao bravo político e homem da cultura Artur da Távola, as homenagens que merecem os bons e justos, eles foram exemplos de amor ao próximo, cumpriram uma nobre missão, serviram com ética e dignidade aos seus sonhos, as suas utopias. São homens como eles que nos animam e nos faz crer que o sonho não acabou e nem pode acabar.
Antonio Capistrano é filiado ao PCdoB