Aldo Rebelo defende disputar eleição pelo Bloco de Esquerda

Presidente da UNE na década de 1980, vereador paulistano, deputado federal (está no quinto mandato), ministro do governo Lula (Coordenação Política) e presidente da Câmara (2005-2007). Esse é o resumo da carreira pública de Aldo Rebelo (PCdoB), que se mos

Aldo nega que será vice na chapa petista A última disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, quando Aldo perdeu o cargo para Arlindo Chinaglia (PT-SP), minou as relações entre o “bloquinho” e o PT. Os três partidos do grupo estão firmes e não abrem mão da candidatura própria. O PT de Marta Suplicy, depois de perder o apoio do PMDB e do PR, aliados do governo Lula, pressiona os partidos.


 


Aldo diz que o bloco não pode voltar atrás e nega que será vice na chapa da petista. “Renunciar à candidatura própria em São Paulo é renunciar ao projeto político do bloco”, declara. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Dário do Comércio: 
 



Diário do Comércio: O sr. pode ser o vice de Marta Suplicy?
Aldo Rebelo: Eu posso afirmar por mim. Aliás, eu tenho afirmado aos integrantes do bloco que não devemos cogitar de indicar o vice de nenhuma das candidaturas apresentadas até agora.



 


O bloquinho, então, é irreversível?
Renunciar à candidatura própria em São Paulo é renunciar ao projeto político do bloco e deixar de ser um protagonista político e eleitoral.



 


Como é suportar a pressão do PT?
A pressão é natural porque o bloco, além da representatividade e do tempo de televisão, é uma alternativa na cidade de São Paulo. Não foi apenas o PT que nos procurou. Nós recebemos convites do prefeito (Gilberto) Kassab (DEM) e do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB). Concluímos que o melhor caminho é a candidatura própria.



 


O sr. é mesmo o candidato do bloco?
O PCdoB apresentou a minha candidatura, mas também outros nomes, como a deputada e ex-prefeita Luiza Erundina e o deputado Paulinho, da Força Sindical. A decisão final é do bloco, que inclui o PHS e o PRB. Espero que o candidato e o vice sejam indicados até o final do mês.



 


Como avalia as denúncias contra Paulinho?
O Paulinho diz que desconhece as denúncias. Qualquer pessoa é inocente até que se prove a sua culpa. A câmara vai promover o seu papel ao fazer a investigação necessária e esclarecer completamente os fatos.



 


Por que a relação partido-sindicatos-governo é sempre complicada?
Os partidos têm uma relação com os sindicatos e, quando eles vão para o governo, de modo geral, são requisitados quadros do movimento sindical. Isso acontece na Espanha e na Inglaterra. O Partido Trabalhista inglês surgiu do sindicalismo. Tudo aquilo que envolve recursos públicos, sejam dirigidos para entidades patronais ou de trabalhadores, deve ter fiscalização daqueles órgãos que zelam pelo interesse público.



 


O sr. colocaria a mão no fogo pelo deputado Paulinho?
Além de alegar a sua inocência, o deputado abriu mão do seu sigilo bancário e telefônico para acelerar a investigação. Ele próprio pediu que a Câmara promovesse a investigação. Acho que isso ficará claro muito rapidamente.



 


Que análise faz da candidatura Kassab?
É uma candidatura muito forte, pois conta com apoios importantes. Ele já é o prefeito e tem um apoio partidário amplo. Conta com o apoio do governador José Serra (PSDB) e o prefeito tem feito um esforço muito grande para enfrentar os problemas da cidade. Como são fortes as candidaturas de Marta Suplicy e Geraldo Alckmin. A minha intenção é que minha candidatura se fortaleça como a deles.



 


E do racha tucano?
É um conflito antigo da hegemonia paulista contra unidades do partido nos demais estados. São os planos do governador Serra contra os planos do governador Aécio Neves. O PSDB unido é uma força colossal. São Paulo e Minas unidos são decisivos na vida política nacional.



 


A máquina federal não é uma ajuda extra para Marta?
Sim. O que eu soube é que o presidente Lula não apoiará nenhuma candidatura onde a base governista indicar mais de um candidato.



 


E os programas sociais do governo, como o Bolsa-Família?
Os programas sociais são patrimônio do governo, portanto, de todos os partidos que integram a base. O PCdoB, por exemplo, o foco de sua ação é o problema social. O Bolsa-Família foi uma luta de muita gente, dos partidos de esquerda ao ex-senador Antônio Carlos Magalhães.



 


A esquerda rachou definitivamente em São Paulo?
Não há racha porque o PT e os partidos do bloco estão juntos na questão mais importante: o apoio ao governo Lula. Há visões distintas de acomodação de forças. O PT fez uma aliança estratégica com o PMDB e o bloco busca um caminho próprio.



 


O caminho é a candidatura de Ciro Gomes (PSB) à presidência em 2010?
Ele é um nome muito forte para disputar a presidência. Mas nós temos muito tempo para tratar da sucessão. O que nós precisamos agora é acumular forças nas eleições municipais para ter um papel de protagonistas na eleição de 2010.



 


Que avaliação faz da gestão Gilberto Kassab no trânsito? Que medidas tomaria se fosse o prefeito de SP?
Eu reforçaria, de imediato, o papel da CET. Ela foi rebaixada e subestimada. Faltam equipamentos e recursos humanos. Às vezes, há somente quatro guinchos em funcionamento para uma cidade de 11 milhões de habitantes. Disciplinar o tráfego exige investir em recursos humanos e equipamentos. Eu apoiaria o esforço do governador Serra de modernizar a malha ferroviária urbana, que soma mais
de 200 quilômetros.



 


O sr. conhece alguma AMA (unidade de Assistência Médica Ambulatorial)?
Eu sei como ela funciona e o esforço que o prefeito tem feito para fazer uma transição de um período em que a saúde pública viveu uma crise grave com o PAS. A gestão Marta tentou fazer essa transição. Há críticas sobre essa proposta de priorizar a terceirização e abandonar o projeto nacional do Sistema Único de Saúde (SUS). A base da saúde em São Paulo deve ser o SUS, mas creio que ele deve se apoiar em instituições, como os hospitais Sírio-Libanês e Albert Einstein.



 


Qual a sua avaliação da gestão Kassab?
É uma gestão esforçada porque enfrenta os desafios importantes da cidade. Alguns são visíveis, como o trânsito e a saúde. Mas não é visível no caso da educação. São Paulo não tem uma educação que sirva de modelo ao país. Há necessidade de se fazer uma revolução no ensino público. O caminho mais apropriado é aumentar a grade horária, com aulas também aos sábados. Não há rede física suficiente para aumentar a carga horária nos cinco dias disponíveis.
 


 


Transcrito do Diário do Comércio