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Obama e a ascensão dos nerds na América moderna

Em 1950, o Dr. Seuss publicou um livro chamado “If I Ran the Zoo” (Se eu dirigisse o zoológico), que continha este trecho: “Eu navegaria para Ka-Troo, e traria um It-Kutch, um Preep, e um Proo, e também um Nerkle, um Nerd e um Seersucker!” Segundo o ps

No ano seguinte, a “Newsweek” noticiou que “nerd” estava sendo usado em Detroit como substituto para “quadrado”. Mas, como Anderegg escreve em seu livro, “Nerds”, o termo só floresceria na consciência popular após Fonz usá-lo no seriado “Happy Days”, em meados dos anos 70. E assim começou o que se poderia chamar de ascensão do nerdismo na América moderna.


 


Inicialmente, um nerd era um geek (ou pessoa muito hábil ou viciada em computadores ou tecnologia) com notas melhores. A palavra descrevia um pária colegial ou universitário que era perseguido pelos atletas, veteranos, membros de fraternidades e irmandades. Os nerds tinham seus próprios heróis (Stan Lee, o roteirista de histórias em quadrinhos), suas vocações próprias (Dungeons & Dragons), sua própria religião (fornecida por George Lucas e “Star Wars”) e seus próprios conhecimentos (suporte técnico). Mas mesmo enquanto “A Vingança dos Nerds” despontava nas telas de cinema do país, uma versão diferente de reino nerd se infiltrava na cultura popular. Elvis Costello e David Byrne do Talking Heads popularizaram um estilo geek cool que levou a Moby, Weezer, Vampire Weekend e até mesmo ao auto-intitulado rock “nerdcore” e os geeksta rappers.


 


Os historiadores do futuro do predomínio nerd provavelmente notarão que a fase de conquista de poder teve início nos anos 80, com a ascensão da Microsoft e da economia digital. Os nerds começaram a ganhar grandes somas de dinheiro e adquiriram credibilidade econômica, a base para o prestígio social. A revolução da informação produziu um desfile de magnatas nerds altamente confiantes -Bill Gates e Paul Allen, Larry Page e Sergey Brin e assim por diante.


 


Entre os adultos, as palavras “geek” e “nerd” trocaram de posição de status. Um nerd ainda era socialmente manchado, mas o reino geek adquiriu sua própria contracultura bacana. Um geek possuía uma certa paixão por conhecimento especializado, mas também um alto grau de consciência cultural e segurança que um nerd carecia.


 


Os geeks não apenas se rebelavam contra os atletas, mas se distinguiam dos párias alienados e autocomiserados que choravam com reconhecimento ao lerem “O Apanhador no Campo de Centeio”. Se Holden Caulfield era o solitário sensível de uma era de opressão aos nerds, então Harry Potter foi o líder mágico na era da conquista do poder dos geeks.


 


Mas a maior mudança não foi o Vale do Silício em si. Em vez disso, a nova tecnologia criou uma série de playgrounds mentais onde os novos geeks podiam exibir seu capital cultural. O atleta pode brilhar no campo de futebol, mas os geeks podem exibir sua sensibilidade suave e emoções bem moduladas em suas páginas do Facebook, blogs, mensagens de texto e Twitter feeds. Agora há exércitos de designers, pesquisadores, especialistas em mídia e outros produtores culturais com talento para autodepreciação bem-humorada, referências sociais obscuras e análises de fim de noite.


 


Eles podem visitar sites ecléticos como Kottke.org e Cool Hunting, experimentar com fontes, admirar Stewart Brand e Lawrence Lessig e ingressar em redes sociais com nomes irônicos. Eles criaram uma nova definição do que significa ser cool, uma definição que deixa de fora os talentos dos atletas, dos tipos MBA e os menos escolarizados. Em “The Laws of Cool”, Alan Liu escreve: “Cool é um feeling por informação”. Quando alguém tem a habilidade, você sabe.


 


Tina Fey, que já foi capa da revista “Geek Monthly”, despontou como símbolo de um geek que cresce e se transforma em um cisne. Agora há um estilo de moda cool geek, que pode ser encontrado em sites de compras por toda a Internet (pense em tênis japoneses e camisetas cheias de texto). A Schwinn agora faz uma bicicleta com aspecto retrô Sid/Nancy, que é doce e desajeitada apesar de seu nome evocar falsa raiva. Atualmente há milhões de pessoas de alta escolaridade guiadas por modos geek e regras de status.


 


A notícia de que ser geek é bacana aparentemente não chegou aos colégios ou ao Partido Republicano. George Bush exerce um papel interessante na história da ascensão nerd. Com seu professo desdém por coisas intelectuais, ele energizou e alienou toda a legião geek, e com isso grande parte dos americanos com nível superior com menos de 30 anos. Agora militantes, os geeks estão mais coerentes e ativos do que no passado.


 


Barack Obama se tornou o Príncipe Caspian das hordas de iPhone. Eles o homenageiam com vídeos e cartazes que combinam domínio estético com despudorada adulação de herói. As pessoas nos anos 50 costumavam debater seriamente o papel do intelectual na política moderna, mas a figura de autoridade de Lionel Trilling foi removida pela classe de massa dos produtores culturais escritores de blogs.


 


Então, em um período relativamente curto de tempo, a estrutura social virou de cabeça para baixo. Pois como está escrito, os últimos serão os primeiros e os geeks herdarão a terra.


 


Tradução: George El Khouri Andolfato