Inácio Carvalho: Pesquisa Vox Populi e os rumos da eleição em Fortaleza

A notícia do dia hoje é a divulgação da primeira pesquisa eleitoral da disputa em Fortaleza, feita pelo Vox Populi. Ontem mesmo vi os números no Caderno Cearense do Portal Vermelho, que previu uma disputa acirrada. Não sou nenhum analista político, mas já

A pesquisa apresentou apenas os índices de preferência (estimulada e espontânea) e de rejeição. É pouca coisa mesmo, mas é um indício forte do que vem por aí. Pra começar, a disputa deverá ficar restrita aos três primeiros colocados, Luizianne Lins (PT), Moroni Torgan (DEM) e Patrícia Saboya. Nenhum dos demais sequer se aproxima desses. Dos “lanterninhas” quem mais pontuou foi o Renato Rosendo (PSOL), com 2% na preferência estimulada, e isso reflete um certo recall da campanha de 2006, quando foi candidato ao governo do estado. Adahil Barreto (PR) e Luiz Gastão (PPS) poderão até ir além do 1% que têm hoje, mas nada que os torne competitivos. Os demais candidatos no máximo ajudarão a eleger vereadores, sendo que alguns cumprirão o vexatório “papel cítrico”.


 


Moroni, verdadeiro ou falso?


O primeiro lugar de Moroni, com 30% na preferência estimulada, parece ser o teto do delegado. É preciso considerar que ele até ampliou seu apoio partidário ao conquistar o PP, do seu vice Alexandre Pereira, mas penso que, além de mais recursos financeiros, o homem das padarias acrescenta pouco capital político-eleitoral.


 


O discurso policialesco de Moroni já não tem o mesmo apelo, em boa parte graças ao efeito “Ronda do Quarteirão” e o candidato, que já acumulou três derrotas expressivas nas últimas disputas majoritárias que participou, vai ter muita dificuldade para agregar uma imagem de bom gestor, como apregoa em seu novo discurso. Aliás, soa muito falso tentar enfiar no seu jingle de campanha o bordão “deixa o homem trabalhar”. Essa é uma marca forte da eleição de Lula em 2006 e se tem alguém que não combina com o Presidente é justamente Moroni. Ninguém o impede de trabalhar, até porque não se sabe o que ele fez  ou deixou de fazer nos últimos dois anos que andou afastado do Ceará. E mais, a rejeição do Moroni é alta, 24%, e isso parece revelar que o povo pode deixar o delegado trabalhar, mas numa delegacia e não na Prefeitura de Fortaleza.


 


Por fim, os 15% dele na preferência espontânea, metade da estimulada, revela ainda que o eleitor não lembra muito dele  e isso exigirá muito esforço para recuperar sua base de apoio na periferia pobre da cidade, hoje bastante receptiva à ação da Prefeita Luizianne e do Governo Lula, ambos do PT.


 


Luizianne tem que cuidar de sua vidraça


Já a segunda posição de Luizianne, com 26% na estimulada, demonstra que a Lôra tem bom potencial de disputa e está melhor do que a boataria espalhou. O bombardeio contrário da oposição e da mídia, que todo dia apresenta um problema na cidade (até um engarrafamento numa rua da Aldeota virou um caos em todo o bairro), não foram ainda suficientes pra tira-la da disputa.


 


A prefeitura tem uma folha de serviços até razoável para mostrar e isso vai potencializar muito a candidatura da Luizianne. É bem verdade que o “núcleo duro” de articulação política da prefeita, em que pese ter conseguido formar uma aliança partidária bem ampla, às vezes atrapalha. A indefinição do vice é o exemplo mais patético. Tem ajudado bastante a criar notícias negativas e  problemas delicados para serem resolvidos. O pedido de impugnação da chapa já mobiliza boa parte das forças para uma ação defensiva e isso é tudo que uma candidatura não precisa, ainda mais no começo da campanha. Essa pendenga pode durar todos os 80 dias que nos separam do dia 5 de outubro.


 


Um outro problema de Luizianne é seu alto índice de rejeição, 33%, o maior de todos os candidatos.  Imagino que se deve somar aí uma rejeição política e uma também uma rejeição administrativa. É claro que Fortaleza tem um número razoável de eleitores conservadores e até de direita, estes rejeitam uma candidata de esquerda, por mais que ela amplie seu apoio a setores políticos que nada têm de esquerda. Além disso, é preciso considerar que a opção da Prefeita em fazer uma administração que beneficia áreas mais carentes da cidade gera insatisfação, até mesmo nos chamados setores médios, e isso se reflete em rejeição.


 


O certo é que ao contrário de 2004, quando correu solta no primeiro turno, este ano a Lôra vai ser o principal alvo da maioria dos candidatos. Luizianne vai ter que gastar muita sandália e goela pra se manter firme na disputa e, indo ao segundo turno, terá de ampliar ainda mais seu apoio para vencer a eleição. Desde já é preciso envolver de fato os partidos da aliança e as lideranças políticas que a apóiam, do contrário o segundo turno pode virar miragem. 


 


Patrícia atrás de vôo próprio


Mesmo estando em terceiro lugar, tanto na preferência estimulada, 21%, como na espontânea, 10%, Patrícia tem uma situação muito boa na disputa. A começar pelo fato de que a distância que a separa dos dois primeiros não é nada expressiva, está dentro da margem de erro. Isso torna a disputa “embolada” e pra quem está em terceiro é uma boa situação porque não vira alvo, ainda. Para Patrícia isso é um certo alívio, ainda mais se ela pensar que em 2000 todo mundo quis tirar votos dela, o que de fato aconteceu, e agora ela tende a ganhar votos.


 


Também é positivo para Patrícia que sua rejeição seja tão baixa, apenas 4% e não foi à toa que ela comemorou  tanto esse fato. Um percentual desses normalmente é de candidatos pouco conhecidos (Neto Nunes(PSC) esta acima dela com 5%) e, com certeza a senadora é bastante conhecida. Quando a disputa começar pra valer sua rejeição poderá subir, mas duvido muito que se assemelhe ao que ocorreu em 2000, quando ela foi identificada como a “Candidata do Cambeba” e esse foi um golpe forte na sua pretensão de ser prefeita. Agora, apesar do PSDB e, principalmente do senador Tasso Jereissati, serem os principais fiadores de sua candidatura, os tucanos não estão com tanta evidência pra provocar uma rejeição desestabilizadora. O caminho de Patrícia para o segundo turno pode estar limpo e talvez o seu maior desafio seja consolidar uma imagem de candidata com idéias próprias e confiável como gestora. Se por um lado o apoio de figuras como Ciro Gomes e Tasso Jereissati podem agregar apoio, por outro arrisca passar uma idéia de dependência, inclusive do ex-marido.


 


Preparação para a batalha final batalha final


Como dizem os chavões de análise política “o quadro é de indefinição de quem vencerá o pleito eleitoral na capital alencarina”. Isso é verdade e creio que há uma forte tendência do equilíbrio ir até os últimos dias da campanha, o que exigirá muita habilidade dos candidatos e seus estrategistas para  que se mantenham na disputa. Em geral a eleição costuma ser mais dinâmica do que as análises, por isso ocorrem certas movimentações que podem surpreender. A disputa de 2008 é uma preliminar da batalha principal de 2010, quando estará em disputa a Presidência da República e o destino das mudanças em curso no país. Ninguém imagina que Lula vai ficar apenas olhando a água passar debaixo da ponte e sua ação com certeza favorecerá as candidaturas que daqui a dois anos ajudarão a movimentar o moinho lulista.



A primeira etapa da campanha, que irá até o dia 19 de agosto, quando se inicia a propaganda eleitoral no rádio e na tv, vai ser uma espécie de conhecimento mútuo das candidaturas. É provável que nenhum lance decisivo ocorra, mas também será a fase em cada campanha se posicionará da melhor forma para a batalha final na tv e no rádio. A fase atual exigirá campanha na rua, corpo a corpo, pé no chão. Quem conquistar a simpatia da população agora, será melhor recebido em suas casas e quem conseguir envolver o povo, empolgar o eleitorado, garantirá uma das vagas no segundo turno, que é a única certeza da eleição em Fortaleza.  


 


 


Inácio Carvalho é Secretário de Comunicação do PCdoB/Ce


 


Fonte: Blog Do Carvalho