Brasil não tolera ''atos terroristas'' e é solidário com Evo

O governo brasileiro reiterou nesta quinta-feira (11) apoio ao governo do presidente da Bolívia, Evo Morales. O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, usou palavras duras contra as ações golpistas, que chamou

''O Brasil não reconhecerá nenhum governo ou intento de governo que queira substituir um governo democraticamente constituído. Não toleraremos uma ruptura do ordenamento institucional boliviano, sobretudo porque foi um ordenamento recentemente referendado pelo povo'', afirmou Marco Aurélio.



Evo: sem violência, com mobilização



Para Marco Aurélio, uma deposição de Evo causaria prezuizos ''extraordinariamente grandes'' à América do Sul. O continente, vítima de golpes e ditaduras militares nos anos 60 e 70, vive hoje uma onda oposta, de governos eleitos de caráter antineoliberal, que tem na Bolívia um de seus exemplos típicos.



Conforme relato do assessor de Lula, Evo Morales está preocupado com o surgimento de vítimas nos conflitos. Evo teria dito que ''as Forças Armadas estavam sendo direcionadas para proteger instalações da República e mostrou preocupação nos deslocamentos para que não tivesse violência''.



Na conversa com Lula, Evo Morales disse que mantém interesse em restabelecer conversações com a oposição, mas disse estar pessimista em relação a ela. Desde o referendo de 10 de agosto, que revalidou o mandato presidencial com 67,4% dos votos do país, a oposição oligárquica da ''leia lua'' recusa-se a atender aos apelos de Evo pela retomada do diálogo.



No telefonema, o presidente do país vizinho disse a Lula que espera uma mobilização dos movimentos sociais em defesa de seu governo. Afirmou ainda que as Forças Armadas já estão sendo deslocadas para os locais de conflito, com o objetivo de proteger os órgãos públicos.



Grupo de Países Amigos da Bolívia acionado



Lula também conversou por telefone com os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Argentina, Cristina Kirchner, países que integram o Grupo de Países Amigos da Bolívia. Ele deve telefonar ainda hoje para a presidente do Chile, Michele Bachellet.
Segundo o assessor presidencial, o Grupo de Países Amigos da Bolívia (formado pelo Brasil, Colômbia e Argentina) pode enviar diplomatas a La Paz para tentar intermediar as negociações entre o governo de Evo Morales e a oposição. Só o fará, porém, se for chamado, já que se trata de assuntos internos da Bolívia.



Em paralelo, Marco Aurélio Garcia conversou por diversas vezes com os chanceleres argentino, Jorge Taiana, e colombiano, Fernando Araújo. ''Em todas essas conversas esteve presente a preocupação de que seja rápido o restabelecimento da ordem e o respeito à lei e ao Estado democrático de direito na Bolívia e, ao mesmo tempo, a oportunidade de contribuir para que se chegue a uma solução negociada na Bolívia'', disse o assessor.



''Quando há situação de agravamento, as pessoas podem sofrer duas tentações. Levar o enfrentamento às últimas conseqüências. Essa é a pior solução. E a outra possibilidade é que, as partes entendam que só há um caminho, o da negociação'', ponderou.



''São atos terroristas''



Marco Aurélio Garcia classificou de ''atos terroristas'' e ''intoleráveis'' as iniciativas dos manifestantes anti-Morales de atacar o sistema de gás natural da Bolívia. Nesta quarta-feira, um atentado em um gasoduto em Tarija cortou 10% do fornecimento de gás da Bolívia ao Brasil. Na quinta-feira, a manipulaçao de uma valvula em outro duto chegou a cortar  por algumas horas 50% do transporte de gás, destinado sobretudo a usinas termoelétricas e indústrias situadas em São Paulo.



''O presidente Lula instou o governo [da Bolívia] a proteger concretamente as instalações de produção de energia. Esses atos são intoleráveis. Terrorismo no dia 11 de setembro tem o mesmo sinal onde ocorrer, em 1973 no Chile [dia do golpe militar que derrubou o presidente Salvador Allende] ou em 2001 em Nova York [ataque ao World Trade Center]. Isso é terrorismo. Não existe terrorismo bom ou mau. É sempre terrorismo. Para um continente que viveu uma grande ruptura institucional, que se refletisse que o bom caminho é o caminho do respeito'', comentou Garcia.



''Não estou caracterizando a oposição boliviana como terrorista. São atos terroristas e espero que sejam condenados pelos prefeitos da Media Luna, região em conflito com o governo central. Esses atos são intoleráveis'', acrescentou Marco Aurélio Garcia, em uma ressalva que explicitou ainda mais a irritação brasileira com os rumos da contestação conservadora.



Condenação brasileira deve repercutir



As ações visando derrubar Evo Morales se concentram na chamada Meia Lua, formnada por quatro departamentos do oriente boliviano, todos limítrofes com o Brasil. O ataque de uma milícia armada a camponeses, em Porvenir, departamento de Pando, ocorreu a apenas 30 km da fronteira brasileira. A condenação enérgica do assessor do presidente brasileiro tende a repercutir nos ânimos da oposição, que se autoproclama autonomista mas é acusada de alimentar um projeto separatista.



''Queremos que se encontre uma solução rápida para evitar a hipótese de uma guerra civil. Há uma situação de esgarçamento político. O governo brasileiro tem uma preocupação muito grande em dois sentidos: de um lado a questão de nossos interesses nacionais, ou seja, que a segurança energética possa a vir a ser afetada; e de outro o fato de que o processo de desestabilização de um país com a situação geopolítica que tem a Bolívia poderia acarretar prejuízos para o processo de integração na América do Sul e criar um precedente muito perigoso na região'', disse o assessor.



Da rredação, com agências