Governo venezuelano denuncia plano de golpe contra Chávez

O governo da Venezuela denunciou, nesta quinta-feira (11), um plano de tentativa de golpe de Estado que estaria sendo elaborado por militares ativos e oficiais retirados das Forças Armadas venezuelanas.


 


Por Michelle Amaral da Si

Num vídeo apresentado pelo canal oficial VTV foram transmitidas conversas telefônicas entre o General de Divisão do Exército Wilfredo Barroso Herrera, o vice-almirante Millán Millán e o General de Brigada da Aviação Eduardo Baez, nas quais estariam planejando a tomada do Palácio de Governo e o assassinato do presidente.


 


Na gravação, os militares falam em dirigir todos os esforços para onde estiver o “senhor”, em suposta referência ao presidente da República. “Se está em Miraflores, para lá vamos e fazemos o esforço”, disse um dos militares no áudio transmitido pelo programa La Hojilla.


 


Chávez, que sofreu uma fracassada tentativa de golpe em 2002, afirmou durante uma participação telefônica no programa de TV, que ordenaria o início de uma investigação para apurar a responsabilidade dos militares envolvidos. “Disse (ao Ministério Público) que comecem de imediato [a fazer] como mandam as leis, que abram uma investigação”, disse Chávez, no início da madrugada desta quinta-feira.


 


“Evidentemente ali há uma conspiração. Nós estamos seguindo isso já faz algum tempo. O país não sabe quantas conspirações já desmontamos”, acrescentou.


 


Em cadeia nacional nesta quinta-feira, “dedicada aos pitiyanquis”, apelido dado por Chávez à oposição, o presidente venezuelano também responsabilizou o governo dos Estados Unidos de colaborar com os planos de conspiração contra de seu governo e chamou a seus seguidores à reação.


 


“Eu já não sou o Chávez de 2002 (…) convido a todos a preparar o contragolpe revolucionário que deve ser demolidor”, disse Chávez. Chávez chamou a seus simpatizantes a “radicalizar” a chamada revolução bolivariana.


 


Referindo-se à oposição da Bolívia que tenta desestabilizar o governo de Evo Morales, Chávez disse: “faço um chamado aos militares bolivianos, que se e a Evo matarem, estarão dando sinal verde para apoiar qualquer movimento armado na Bolívia”.


 


O presidente venezuelano disse, ainda: “se estes governos legítimos forem derrubados, e se tivéssemos que voltar a invocar a invocar a frase do grande líder Che Guevara se este for nosso caminho, se tivermos que criar um dois, três Vietnans na América Latina, aqui estamos dispostos”. 


 


Não é a primeira vez que Chávez denuncia um plano de golpe contra seu governo ou uma tentativa de assassinato. Porém, a reação dos chavistas, diferente de outras ocasiões, foi imediata.


 


Durante toda a manhã desta quinta-feira o canal oficial dedicou a totalidade da sua programação para discutir a apresentação do vídeo, e transmitiu ao vivo as reações do Congresso, de ministros e de militantes do partido do governo.


 


Dirigentes do partido PSUV convocaram uma manifestação para a próxima segunda-feira no Ministério Público para “exigir” a investigação do caso e a punição dos responsáveis.


 


O ministro de Interior e Justiça Tarek El Aissami acusou o opositor Movimento 2D de ter envolvimento com os militares que tiveram os telefones grampeados. O ministro também afirmou que o governo “freará” qualquer tentativa de desestabilização.


 


“Não vamos permitir que esses aventureiros pretendam tratar de submeter o povo a esses momentos nefastos (…) O Estado venezuelano atuará com determinação para garantir a paz do nosso povo”, afirmou El Aissami.


 


O líder do Movimento 2D e editor do jornal El Nacional, Miguel Henrique Otero, negou as acusações e disse que o governo pretende criar uma “cortina de fumaça” para esconder o julgamento das pessoas envolvidas no “caso da mala”, do qual acusam ao governo venezuelano de tentar enviar US$ 800 mil à campanha da presidente argentina Cristina Kirchner.


 


A denúncia de tentativa de golpe vem à tona durante uma intensa campanha eleitoral para o pleito regional de governadores e prefeitos.


 


A presidente do Congresso, Cilia Flores, disse durante sessão no Parlamento nesta quarta-feira que a oposição pretende provocar “uma guerra civil para impedir a realização das eleições de novembro”, acusou a parlamentar. Flores disse que levará a denúncia ao Mercosul.


 


Já a oposição afirma que o governo pretende “manipular psicologicamente” a seus eleitores, temendo perder as eleições.


 


“Esta conspiração soa a campanha psicológica (…) Como sempre acontece quando (Chávez) está perdendo eleições e necessita fortalecer seus seguidores com estes jogos”, afirmou o ex-ministro de Defesa Fernando Ochoa Antich ao jornal El Nacional.


 


O plano


 


Na conversa telefônica, além da tomada do Palácio, os militares se reverem à ocupação das instalações dos canais de televisão.


 


“Vamos tomar o Palácio de Miraflores, vamos tomar os canais de televisão. O objetivo tem que ser só um (…) o esforço tem que ser ao Palácio de Miraflores porque essa é a unidade de combate”, disse um dos militares na conversa telefônica.


 


Os militares discutem também a possibilidade de surpreender a Chávez na volta de uma viagem internacional e falam de “voar” ao presidente, em alusão a um possível assassinato.


 


“Uma possível operação quando o presidente (estiver) chegando de viagem. Uma das ações poderia ser voá-lo (explodir), capturá-lo com aviões no ar (…) ou seja, teríamos que organizá-lo bem”


 


Na operação seria utilizado aviões F-16, de fabricação estadunidense, da antiga frota das Forças Armadas venezuelanas. Os militares afirmam contar com o apoio de soldados de baixo e médio rango para realizar o plano.