Presidente do Parlasul diz que EUA “tem dedo” em crise na Bolívia

O presidente do Parlasul, deputado Dr. Rosinha (PT-PR) levanta, em entrevista a Terra Magazine, a possibilidade de o governo dos Estados Unidos de ter “um dedo” no conflito boliviano. Ele propõe que o Grupo de Amigos da Bolívia (Brasil, Colômbia e

11 de setembro de 1973. O presidente chileno Salvador Allende vive uma situação de crescente instabilidade social, com manifestações de massa favoráveis à construção do socialismo, enfrentando atos de sabotagem e locautes patronais, como a famosa greve dos caminhoneiros. Vendo-se cercado pelo levante militar organizado pelo general Augusto Pinochet, Allende se suicida com um tiro dentro do palácio do governo.



11 de setembro de 2008. O presidente boliviano Evo Morales enfrenta graves protestos de oposição espalhados por todo o País, em especial na rica região de Santa Cruz de la Sierra. Sabotagem de gasodutos, invasão de prédios públicos, conflitos nas ruas. Até o momento, Morales permanece firme e forte no poder.


 


As semelhanças entre dois momentos históricos distantes, porém parecidos entre si, são observados pelo deputado Florisvaldo Fier, o Dr. Rosinha, presidente do Parlamento do Mercosul.


 


– Naquela ocasião foi financiada pelos Estados Unidos, e agora novamente os Estados Unidos estão por trás de todo esse processo – acusa Rosinha, que também é deputado na Câmara federal pelo PT paranense.


 


A Bolívia vem enfrentando uma onda de protestos por conta das divergências em torno da nova Constituição, que ainda precisa ser aprovada. Governistas acusam a oposição de não respeitar os processos democráticos.


 


Os oposicionistas, por sua vez, alegam que o governo federal não atende a suas reinvidicações, particularmente aquelas sobre a autonomia de alguns departamentos (NR: o equivalente aos estados brasileiros) do país.


 


O presidente do Parlasul levanta, em entrevista a Terra Magazine, a possibilidade de o governo dos Estados Unidos de ter “um dedo” no conflito boliviano. Ele propõe que o Grupo de Amigos da Bolívia (Brasil, Colômbia e Argentina) se reúna para discutir a crise no país.


 


Rosinha também critica a elite boliviana, que segundo ele mantém vínculos com as ditaduras militares que já governaram o país.


 


– Para você ter uma idéia: 50 anos atrás, essa maioria (indígena) era proibida de entrar na praça Murillo, que é a praça em frente ao palácio do governo. Quer dizer, imagina que elite é essa.


 


Leia a seguir a entrevista com o presidente do Parlasul:



Como o senhor vê a situação hoje na Bolívia?
Dr. Rosinha – Eu vejo que aqueles que sempre estiveram no poder através das ditaduras militares, ou mesmo no governo Sanchez de Losada (NR: antecessor de Evo Morales), não aceitam o processo democrático que a Bolívia está vivendo. Eles trabalham a favor de golpe militar ou através da divisão do território boliviano.



E a que o senhor atribui essa reação de parte da sociedade boliviana?
A não aceitar o modelo de mudanças que o Evo Morales está dirigindo. Não aceitar a inclusão da maioria indígena da população. Para você ter uma idéia: 50 anos atrás, essa maioria era proibida de entrar na praça Murillo, que é a praça em frente ao palácio do governo. Quer dizer, imagina que elite é essa. A elite de Santa Cruz de la Sierra é a elite que sempre foi favorecida pelas ditaduras militares. O que tem de terras e concessões, nunca compraram… Sempre foram concessões do Estado boliviano. E agora eles não aceitam um governo democrático, referendado por 67% da população.



Como o parlamento do Mercosul vem se posicionando a respeito?
O parlamento já fez duas manifestações em favor da democracia boliviana e contra a divisão do território da Bolívia.



Há exatos 35 anos o presidente chileno Salvador Allende era deposto em meio a uma crise social semelhante à enfrentada hoje por Evo Morales. O senhor vê alguma semelhança entre as duas situações?
Vejo. Naquela ocasião foi financiada pelos Estados Unidos, e agora novamente os Estados Unidos estão por trás de todo esse processo. Tanto é que o Evo Morales expulsou ontem o embaixador dos Estados Unidos. Todas as vezes que eu estive lá (na Bolívia), a informação era de que esse embaixador tinha feito, estimulado e, através do Estados Unidos, financiado esse processo. Ele era o embaixador americano em Kosovo, onde teve todo aquele processo de desagregação.



A expulsão do embaixador foi acertada?
Eu tenho certeza que tem dedo norte-americano no processo. O (Branko) Marinkovic, do Comitê Cívico (NR: entidade de oposição ao governo de Evo Morales), tem um passado de atuação de forças para-militares de direita.



A resposta do governo brasileiro à crise tem sido adequada?
Eu acho que o governo brasileiro tem que chamar o Grupo de Amigos da Bolívia para uma reunião e discutir a questão da Bolívia e, na minha opinião, apoiar o Evo Morales. O referendo revogatório foi uma vitória do povo boliviano. Em Santa Cruz de la Sierra, Morales teve 32% de votos em 2005; agora teve 42% pela continuidade. Ele aumentou o apoio dele em todos os departamentos bolivianos.



Fonte: Terra Magazine