Unasul assinou “carta de maioridade” na cúpula sobre Bolívia

A cúpula de emergência da Unasul (União dos Países da América do Sul) para tratar da crise na Bolívia foi a emancipação do bloco e um recado ao mundo de que o continente pode resolver seus problemas sem a interferência dos Estados Unidos, avaliou um alto

“Houve a perfeita noção de que aquilo (o encontro) era um momento histórico(…) A Unasul assinou sua carta de maioridade ontem”, afirmou à Reuters o alto funcionário brasileiro, cujo nome não foi citado pela agência.



O bloco sul-americano, criado em Brasília em 23 de maio último, foi acionado na véspera por conta da crise política na Bolívia. Reunida nesta segunda-feira (15) em Santiago, já que o Chile exerce sua presidência rotativa, a Unasul defendeu a legitimidade do governo Evo Morales e condenou qualquer movimento golpista por parte da oposição, no documento intitulado A Declaração do Palácio de La Moneda.



Para um interlocutor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, presente ao encontro realizado em Santiago, o posicionamento da Unasul “jogou a bola” para a oposição boliviana. “Houve uma avaliação generalizada de que a oposição não terá como prosseguir no tom golpista. Se quiser evitar o isolamento absoluto, terá de disputar o poder no campo democrático”, disse a fonte da Reuters.



A avaliação do governo brasileiro de que o encontro foi um evento “histórico” de autodeterminação da América do Sul é comungada também por especialista.
“Os países deslocaram o foco de atenção da OEA (Organização dos Estados Americanos) para a Unasul. A manobra fortalece, e muito, a dimensão política do grupo e afasta países hegemônicos da região”, afirmou José Sombra Saraiva, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB).



Em março passado, quando uma incursão do exército colombiano em território do Equador para matar o líder guerrilheiro Raúl Reyes deflagrou uma crise regional, a Unasul ainda não existia. O conflito terminou debatido no âmbito do Grupo do Rio e em seguida da OEA, onde os Estados Unidos participam – embora a posição americana tenha ficado isolada nos debates. Agora, agiu com rapidez e eficácia, ajudando a esvaziar o que parecia ser uma tentativa golpista em andamento no Oriente boliviano.



Um indício da precoce maioridade da Unasul foi o comparecimento. Embora se tratasse de uma reunião de emergência, os nove chefes de Estado dos países mais importantes do continente abriram espaço em suas agendas para comparecer a Santiago. Estavam presentes:
Michelle Bachelet (Chile), como anfitriã,
Cristina Kirchner (Argentina),
Evo Morales (Bolívia),
Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil),
Álvaro Uribe (Colômbia),
Rafael Correa (Equador),
Fernando Lugo (Paraguai),
Tabaré Vázquez (Uruguai)
Hugo Chávez (Venezuela).



Durante a reunião, Morales apresentou aos colegas sul-americanos um vídeo para ilustrar a situação em seu país. A cena de indígenas sendo atacados em Santa Cruz “chocou” o presidente Lula, nas palavras de um dos membros da delegação brasileira.
A Unasul rechaçou qualquer tentativa de golpe. Não por acaso, incluiu na declaração final do encontro a menção aos 35 anos do golpe militar que levou à morte de Salvador Allende. Em uma pausa para fechar o texto do documento, a presidente chilena, Michelle Bachelet, conduziu seus pares a um “tour” pelo Palácio La Moneda, levando-os à sala em que o líder de esquerda morrera, em 11 de setembro de 1973.



Da redação, com informações da Reuters



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