Inauguração da Vila das Artes terá extensa e variada programação
Após mais de dois anos de espera, a reforma do primeiro bloco da antiga vila do Barão de Camocim chegou ao fim. A partir de hoje, o espaço passa a hospedar o projeto Vila das Artes
Publicado 19/09/2008 10:04 | Editado 04/03/2020 16:36
Às 20 horas, o professor Nelson Brissac Peixoto (PUC-SP) faz palestra de inauguração do Bloco 1 da Vila das Artes (Foto: Geórgia Santiago) A grama verdinha acabou de ser plantada. A tinta que recobre os antigos armários ainda está fresca. Os quadros brancos e os sofás chegariam a qualquer instante. Tudo cheira a novidade no casarão que agora passa a hospedar o projeto Vila das Artes. Em pleno centro de Fortaleza, ao lado da Praça da Bandeira, a antiga vila do Barão de Camocim começa a ganhar vida por meio da cultura. Após mais de dois anos de atrasos, contratempos e reformas, o primeiro bloco do projeto bancado pela Prefeitura de Fortaleza tem inauguração hoje, a partir das 17 horas, com uma programação que se estende pela próxima semana.
Com isso, as escolas públicas de Audiovisual e de Dança e o Núcleo de Produção Digital (NPD) finalmente recebem um lugar onde assentar. Até então, os cursos de formação e os projetos de difusão tocados por estas instituições viviam em itinerância, pulando entre espaços da Universidade Federal do Ceará (UFC), do Senac, da Casa Amarela Eusélio Oliveira e da Casa de Arte Alpendre. ''Chegamos a ter cem inscrições para um curso livre de roteiro, mas não encontramos um espaço que pudesse comportar mais de 40 pessoas. Você tinha todo o trabalho de trazer alguém de fora, os custos com hospedagem e viagem, e pouca gente tinha acesso a isso. Na casa, vamos poder atender a um público maior'', afirma a diretora geral da Vila das Artes, Sílvia Bessa.
A proposta da casa é ser ocupada somente por programações públicas e gratuitas que se preocupem em pensar a arte. ''Não é somente mostrar a técnica, mas fazer com que, a partir dela, possa surgir um pensamento transformador, comprometido com a cidade. Queremos propor debates que não estejam restritos às linguagens já presentes aqui, que possam falar sobre artes, cidades, esfera pública. A perspectiva é trabalhar formas de fazer a arte intervir no cotidiano'', diz ela.
A nova estrutura do casarão nada lembra o estado de abandono do prédio pouco antes do início das obras. De cara, já se percebem as mudanças. Os varandões foram fechados com vidros para ampliar os usos dentro da casa e uma espécie de praça foi instalada na frente dela. Os muros que protegiam o edifício das ruas 24 de maio e Meton de Alencar vieram abaixo para dar visibilidade ao espaço. ''Não ter muros é a intervenção mais radical que a gente fez. Queremos de fato ter um diálogo com a rua. A casa desperta curiosidade e já tem gente vindo perguntar o que vai funcionar aqui. O bacana é propor para a cidade essa apropriação do velho a partir do novo'', acredita Bessa.
O interior do casarão é quase um labirinto. O que era um imenso salão deu lugar a um entra-e-sai de salas com as mais diferentes funções. A coordenação das escolas de artes vai funcionar no térreo. Neste mesmo plano, duas salas de aula estão situadas de um lado e de outro da escadaria central. Os espaços foram projetos para serem reversíveis. Com as portas de vidro abertas, cria-se um hall adequado para exposições.
Todo o mobiliário de bancadas e cadeiras se encontra ali. Os ar-condicionados estão funcionando assim como toda a instalação elétrica. Cada sala de aula terá um projetor. O material já foi comprado e a coordenação da Vila aguarda apenas a entrega dos produtos. O mesmo acontece com o elevador. A previsão é que todas as pendências sejam resolvidas em menos de um mês. ''Achamos que abrir agora é até uma forma de pressão para que os fornecedores nos entreguem logo o que falta'', afirma a diretora.
O planejamento original da Vila das Artes previa a criação de uma biblioteca no próprio palacete do Barão de Camocim (o prédio amarelo localizado na avenida General Sampaio). No entanto, enquanto a reforma do prédio não vem, a coordenação resolveu deslocar para o bloco um acervo de arte já existente na biblioteca pública Dolor Barreira. Os 400 títulos ficarão disponíveis em um anexo situado atrás da sala de dança e serão complementados por um acervo audiovisual. O laboratório de mídias interativas é o único espaço da casa que ainda não vai ser inaugurado. Faltam os computadores para preencher a sala. De acordo com Bessa, a coordenação está em processo de negociações para conseguir o financiamento das máquinas. Até agora, a Vila das Artes gastou R$ 3 milhões entre custos de manutenção e reforma, incluindo aí recursos próprios da Prefeitura e de parceiros como o Banco do Nordeste, a empresa Marquise, a Secult e o Ministério da Cultura. A manutenção mensal gira em torno de R$ 140 mil.
Sílvia Bessa aposta no casarão como lugar de encontro e de potencialização da arte na Capital. ''Os artistas de Fortaleza se conhecem muito pouco. Queremos provocar cruzamentos, projetando outros espaços, movimentando a cena e fazendo com que eles se pensem como unidade'', conclui.
SERVIÇO
Inauguração do Bloco 1 da Vila das Artes – Hoje, a partir das 17 horas, com exibições de vídeo e apresentações de dança na Rua 24 de Maio, 1221 – Centro. A solenidade de inauguração acontece às 20 horas com palestra do professor Nelson Brissac Peixoto (PUC-SP). Grátis. Info: 8899 8705
E-MAIS
– A primeira turma do curso de extensão em Audiovisual mantido pela Vila das Artes se forma já em dezembro. Os alunos foram os que mais pressionaram para a conclusão das obras. Durante dois anos, eles chegaram a assistir aulas no prédio ainda inacabado como forma de protesto pelo atraso na entrega da sede da escola. No momento, a coordenação está repensando o modelo adotado pelo curso de extensão. Segundo Sílvia, a previsão é abrir inscrições para a nova turma até o fim do ano.
– O projeto da Vila das Artes prevê ainda a readequação do palacete do Barão de Camocim (onde funcionariam o NPD, a biblioteca e a videoteca) e a construção de outro prédio para comportar um cinema, estúdios de áudio e ilhas de edição. O projeto para a reforma do primeiro está tramitando no Ministério da Cultura em busca de apoio da Lei Rouanet. O segundo está com orçamento feito, mas o projeto ainda não foi apresentado por conta do foco no prédio do Barão. A Prefeitura de Fortaleza não vai investir recurso direto nas obras pelo menos este ano. Enquanto não ficam prontos, todas as atividades da Vila das Artes ficam concentradas no casarão.
– O prédio reformado pertenceu à família Leite Barbosa Pinheiro e foi projetado em 1954 pelo arquiteto Jaime Vieira. Em 1992, o edifício deixou de ser habitado e, em seguida, serviu como sede do Sine/IDT. No fim de 2005, o prédio passou para a Prefeitura de Fortaleza com o objetivo de ser transformado em parte do complexo cultural da Vila das Artes.
– Para proteger o patrimônio encerrado ali, a segurança foi reforçada. O espaço vai ser pastorado pela guarda municipal, por seguranças particulares e por câmeras de vigilância.
NÚMEROS
3 salas de aula
1 ateliê
1 laboratório de mídias digitais
1 biblioteca com sala de estudos e cabines para exibição de material audiovisual
1 mini-auditório / sala de apresentações de dança
2 ilhas de edição
1 sala de dança
PROGRAMAÇÃO DE INAUGURAÇÃO
HOJE (19/9)
17h – Aula aberta de dança / Exposição Bicho de Ferro, de Beto Gaudêncio
18h – apresentação da residência de composição coreográfica e projeção de vídeos do projeto Pontos de Corte
19h – Vídeo-instalação / Exibição dos vídeos dos alunos do curso de Audiovisual
19h30min – espetáculo de dança com a Companhia de Dança Janne Ruth
20h – Solenidade de inauguração / Palestra com o professor Nelson Brissac Peixoto (PUC-SP) sobre a relação entre produção artística, cidade e poder público. Presença de Sílvio Da-Rin, Secretário do Audiovisual do MinC.
AMANHÃ (20/9)
11h – Abertura da Mostra 80 horas
14h – Mostra Comentada de Vídeo Dança
SEGUNDA (22/9)
19h – Início do módulo Dança e Ensino com a professora Isabel Marques
TERÇA (23/9)
20h – Encerramento da Mostra 80 horas e palestra com o presidente do Conselho Nacional de Cineclubismo, Claudino de Jesus.