Comitê divulga carta de um dos 5 cubanos presos nos EUA

O boletim eletrônico “Volverán”, publicado pelo Comitê Internacional pela Libertação dos Cinco, movimento de solidariedade e apoio aos cinco cidadãos cubanos presos nos Estados Unidos sob acusação injusta de terrorismo, divulgou nesta semana uma mensagem

Leia a íntegra da carta de Hernández:



“Resistir, com a cabeça erguida, o tempo que for necessário”



Queridas companheiras e companheiros:



Chegamos ao décimo aniversário da prisão dos Cinco num momento crucial de nosso processo legal (assim o chamam, embora talvez fosse mais apropriado dizer “processo ilegal”). O 11º Circuito de Apelações localizado em Atlanta acaba de dar por encerrada nossa apelação. Quer dizer que, se dependesse deles, tudo ficaria como está e algum dia meus ossos teriam de ser enviados a Cuba, quando a morte me livrar das duas prisões perpétuas.



A referida corte tem dado sinais inequívocos do tipo de “justiça” a que os Cinco podemos aspirar neste país. Quando ocorreu uma decisão 3-0 a nosso favor, com 93 páginas de sólidos argumentos nas quais um painel de três juízes qualificou como “The perfect storm” (A tempestade perfeita) o que ocorreu em nosso julgamento, o pleno da Corte, contra todos os prognósticos não-somente aceitou revisá-la, como também a revogou sem muitas explicações. A tempestade perfeita prontamente se converteu numa simples garoazinha. No entanto, desta  vez, quando a decisão foi 2-1 contra os Cinco, com evidentes erros legais, com uma juíza argumentando em 16 páginas que a Procuradoria não apresentou absolutamente nenhuma prova que sustente a acusação de conspiração para cometer assassinato, com um juiz que — ainda que tenha votado contra nós — reconheceu que se trata de um “very close case” (um caso muito apertado ou muito disputado) e com vários argumentos da defesa que sequer foram devidamente analisados, o 11º Circuito se nega rotundamente a revisá-la. Como dizemos em Cuba: “Mais claro que isto nem a água”. Temos dito uma e outra vez que este é um caso político, e quem não o vê dessa maneira, é porque não quer enxergar.



Alguém mencionou recentemente que agora a última palavra cabe à Corte Suprema. Eu diria que é rigorosamente a penúltima. A última palavra no caso dos Cinco a têm vocês, nossas irmãs e irmãos de Cuba, dos Estados Unidos e de todo o mundo, que ao longo desses anos tem sido nossa principal fonte de alento.



Nossas esperanças não estão depositadas em nenhuma corte. Dez anos são mais do que suficientes para nos termos curado de qualquer ingenuidade. Nossa esperança são vocês, que a custa de sacrifícios e nadando contra a correnteza, conseguiram que hoje em todos os continentes se conheça a injustiça cometida contra os Cinco. Vocês, que hoje não estão passeando, nem estão descansando em suas casas, e sim que nos honram com sua presença em distintas atividades, relembrando o décimo aniversário de nosso encarceramento. A vocês compete continuar lutando para desmascarar a dupla moral de um governo que invade outros países supostamente para combater o terrorismo, ao mesmo tempo que protege a terroristas confessos e prende aqueles que tratavam de impedir seus atos criminosos.



Confiamos em vocês para pôr a descoberto a hipocrisia das grandes corporações de informação e de certas organizações internacionais, que convertem em sofridos presos políticos  mercenários que traem seu povo por um punhado de dólares o um visto, enquanto silenciam miseravelmente diante do caso de duas mulheres às quais se priva há uma década do direito elementar de visitar seus maridos na prisão.



Sabemos que a razão está do nosso lado, porém para que se faça verdadeira justiça necessitamos de um corpo de jurados de milhões de pessoas em todo o mundo, e precisamos de vocês, defensores das causas justas, para dar a conhecer nossa verdade.



A injustiça cometida contra os Cinco nos vem mantendo há dez anos afastados da Pátria, porém não nos tem impedido que acompanhemos nosso povo nas alegrias e também nos sofrimentos. Faz apenas poucos dias que o furacão “Gustav” provocou grandes danos a Cuba, principalmente na Ilha da Juventude e em Pinar del Río, dois territórios de onde temos recebido nestes anos numerosas demonstrações de apoio e de carinho. Estamos certos de que os pinarenses,  junto com as autoridades locais e nacionais, e com a solidariedade de todos os cubanos dignos e de muitos amigos do mundo, saberão erguer-se nesses momentos difíceis e – como é característico nos revolucionários – converterão o revés em vitória. Se bem que não possa ser fisicamente, hoje mais que nunca os Cinco estamos, de coração, junto aos nossos irmãos da Ilha da Juventude e de Pinar del Río, que tanto colaboraram com a luta pela nossa libertação.



Companheiros e companheiras:



Dez anos transcorridos daquele 12 de setembro de 1998, agradecemos-lhes por terem percorrido conosco este longo e acidentado caminho. Sabemos que, para continuar a marcha, podemos seguir contando com vocês, e vocês também poderão contar sempre com nossa firme disposição de resistir, com a cabeça erguida, o tempo que for necessário.



¡Hasta la Victoria Siempre!
Gerardo Hernández Nordelo



Prisión Federal de Victorville
California, setembro de 2008