BH: após três grandes sustos, ''aliança'' consegue eleger Lacerda
Não foi nada fácil e em alguns momentos a ''aliança'' formada pelo prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), e pelo governador Aécio Neves (PSDB) viu a derrota bater na porta, mas o peso das máquinas estadual e municipal falou mais alto nos ú
Publicado 26/10/2008 21:25 | Editado 04/03/2020 16:51
A candidatura de Lacerda passou por altos e baixos. Tido desde o início como ''candidato imbatível'', o empresário estreou mal na campanha. Antes do início da propaganda eleitoral no rádio e na TV, a ''aliança'' ficou assustada com o fraco desempenho de seu candidato nas pesquisas de intenção de voto, nas quais Lacerda vinha amargando a quarta posição. Quem liderou a disputa no primeiro momento foi a comunista Jô Moraes (PCdoB).
Com o início da propaganda eleitoral, em 19 de agosto, a desproporção do tempo de propaganda de cada candidato conspirou a favor de Lacerda que, com uma coligação de 12 partidos, tinha um verdadeiro latifúndio no horário eleitoral: mais de 11 minutos, enquanto a candidata comunista dispunha de pouco mais de um minuto e meio. Assim, não demorou para que Lacerda subisse nas pesquisas. Ainda em agosto, segundo o Ibope, ele saltou para a liderança nas intenções de voto e chegou a ser apontado como virtual eleito no primeiro turno. A arrogância e a certeza de vitória na campanha de Lacerda eram tão fortes que o candidato da ''aliança'' desdenhou das dezenas de debates promovidos por escolas e instituições da cidade e não compareceu a nenhum.
Também conspirou a favor de Lacerda uma agressiva campanha de terrorismo eleitoral promovido pelas máquinas da prefeitura e do governo estadual que não titubearam em ''lembrar'' moradores e funcionários públicos que uma eventual derrota de Lacerda poderia ''paralisar'' obras. Servidores que simpatizavam com outros candidatos também se sentiram perseguidos.
Mas os belorizontinos rechaçaram as ameaças, o poder econômico e o caciquismo político e deram um segundo susto na ''aliança'', levando a disputa para o segundo turno. O candidato do PMDB, Leonardo Quintão, obteve no primeiro turno quase a mesma votação de Lacerda, que ficou com 43,59% dos votos válidos (549.131), menos de 30 mil votos de vantagem para o peemedebista, que recebeu 519.787 votos (41,26%). A candidata do PCdoB, Jô Moraes, ficou em terceiro lugar, com quase 9% dos votos, e apoiou Quintão no segundo turno.
As primeiras pesquisas do segundo turno, que mostravam vantagem expressiva para Quintão, deixaram o governador Aécio Neves novamente assustado, pois desde que ungiu Lacerda como seu candidato, Aécio apostava na vitória da ''aliança'' como um trunfo a ser usado internamente no PSDB para alavancar sua postulação a candidato presidencial em 2010.
Este terceiro susto fez a ''aliança'' jogar todas as fichas na campanha de Lacerda, a ponto de chamarem às pressas o marqueteiro Duda Mendonça para socorrer o candidato. O poder coercitivo das máquinas administrativas, aliado a alguns erros da campanha de Quintão, permitiu a Lacerda reagir e, na última semana da campanha do segundo turno, o candidato do PSB já voltava a liderar as pesquisas.
Trajetória
Marcio Araújo de Lacerda é empresário e administrador de empresas formado pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Nasceu em 22 de janeiro de 1946 em Leopoldina (MG) e cresceu em Inhapim (MG). É casado há 34 anos com a psicóloga Regina Lacerda e pai de três filhos.
Aos 17 anos foi para Belo Horizonte para estudar. Em 1969, aos 23 anos, iniciou sua militância política no PCB e, devido sua adesão à ALN (Aliança Libertadora Nacional), ficou preso durante quatro anos, perdeu o emprego na CTMG (Companhia Telefônica de Minas Gerais) e interrompeu a faculdade –concluiu o curso apenas em 1977.
Impedido de retornar à CTMG, Lacerda trabalhou dois anos e meio na Tele-América e fundou, em 1975, a Construtel, empresa especializada na construção de rede de telefonia. Quatro anos depois, criou a Batik, para produção de equipamentos de telefonia. Prestando serviços inclusive para o governo militar que o havia perseguido anos antes, o empresário prosperou e enriqueceu a ponto de ser o candidato a prefeito mais rico das capitais, com um patrimônio declarado de R$ 55 milhões.
Em 2003, no início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assumiu o cargo de secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional, na gestão do ministro Ciro Gomes, atual deputado pelo PSB-CE.
A convite do governador Aécio Neves, Lacerda assumiu em abril de 2007 a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, cargo que deixou em maio deste ano para disputar seu primeiro cargo eletivo.
Lacerda exerceu ainda a presidência do Conselho de Industrialização de Minas Gerais e dos Conselhos de Administração da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), do Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (Indi) e do Conselho Estadual de Geologia e Mineração (Cegem).
Pitta: triste semelhança
A eleição de um político desconhecido, sacado dos escaninhos da burocracia administrativa, graças ao apoio ostensivo de seus poderosos padrinhos políticos, não é uma novidade no histórico das recentes eleições municipais. Em 1996, na capital paulista, um personagem semelhante disputou e ganhou a eleição graças ao apadrinhamento político e uma campanha milionária. O personagem era Celso Pitta e o padrinho político Paulo Maluf.
Pitta era apenas mais um integrante do secretariado de Maluf. Por ser negro e economista com mestrado na universidade de Leeds (Inglaterra) e na de Harvard (EUA), ele concentrava o perfil do homem que ''estudou e venceu na vida''. Era o perfil que o publicitário Duda Mendonça acreditava ser o ideal para dar continuidade à gestão de Maluf. A crença no cacife político do malufismo e no poder do marketing era tão grande que Duda Mendonça chegou a dizer que conseguiria ''eleger um poste'' e Maluf, por sua vez, botou tanta fé na estratégia que arriscou-se a ir para a TV e dizer: ''votem no Pitta, e se ele não for um bom prefeito, nunca mais votem em mim''.
O resultado deste arranjo foi trágico para os paulistanos e Pitta ficou marcado como um dos piores prefeitos que São Paulo já teve. Maluf também não ganhou mais nenhuma eleição para cargos executivos.
Resta saber se para o bem de Belo Horizonte a história não será repetida nem como farsa nem como tragédia.
Da redação,
com agências