João Henrique vence petista e se reelege em Salvador com 58%

O prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro (PMDB), reelegeu-se neste domingo (26) e continuará à frente do cargo no período de 2009 a 2012. Por 58% a 42 % dos votos válidos, Carneiro superou seu adversário no 2º turno — o candidato Walter Pinheiro (PT

A votação correu em clima tranqüilo na capital baiana. Muito por causa da conivência dos policiais com a propaganda de boca-de-urna, vista em todas as principais zonas eleitorais da cidade, percorridas pela reportagem, em especial nas áreas periféricas.


 


Na maioria dos casos, grupos de pessoas contratadas pelos dois candidatos agitavam bandeiras e tentavam colar adesivos dos partidos nas roupas dos eleitores a poucos passos das entradas das zonas eleitorais. De acordo com eles, cada um recebeu entre R$ 20 e R$ 30 para fazer o trabalho. E não foram incomodados, apesar do reforço policial anunciado pelo governo baiano, que mandou 5,6 mil integrantes da PM às ruas.


 


A única apreensão foi a de um minitrio elétrico que fazia propaganda política na Cidade Baixa. O condutor, Edvaldo Ribeiro e Silva, de 38 anos, e outras quatro pessoas foram levadas à sede da Polícia Federal, em Água de Meninos, onde prestaram depoimento. Foram liberados em seguida.


 


Os próprios candidatos também passaram o dia ainda em clima de campanha. Ambos organizaram minicarreatas pela cidade, com a justificativa de acompanhar os correligionários a seus locais de votação. Começaram a circular pela cidade tão logo as urnas foram abertas, às 8 horas (9 horas de Brasília) — e só terminaram na metade da tarde.


 


Segundo o Tribunal Regional Eleitoral da Bahia, 14 urnas tiveram problemas na cidade e 13 delas tiveram de ser substituídas. A expectativa é que a apuração seja concluída entre as 20h30 e as 21 horas (de Brasília).


 


História


 


O peemedebista João Henrique, de 49 anos, é o segundo prefeito a permanecer no cargo por dois mandatos consecutivos — o primeiro foi o tucano Antonio Imbassahy (1997-2004), que também disputou as eleições deste ano. Pesquisa boca-de-urna realizada neste domingo (26) apontava a vitória do prefeito. O mais recente levantamento do Datafolha também mostrava João Henrique na frente.


 


Filho do senador João Durval Carneiro (PDT), o prefeito reeleito fez uma composição “mais à direita” no segundo turno para superar o seu adversário. Ele aceitou os apoios do deputado federal Antonio Carlos Magalhães Neto — que disputou o primeiro turno da eleição pelo DEM —, do ex-governador Paulo Souto (DEM) e do senador César Borges (PR). Os três são políticos que construíram as suas carreiras sob a liderança do senador Antonio Carlos Magalhães (1927-2007).


 


No primeiro turno, João obteve 402.684 votos (30,97% dos válidos), chegando à frente de seus quatro adversários: Walter Pinheiro (PT), ACM Neto (DEM), Antonio Imbassahy (PSDB) e Hilton Coelho (PSOL). Ao lado do ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), o maior articulador de sua campanha, João Henrique conseguiu reverter em menos de cinco meses o elevado índice de rejeição usando um artifício — intensificou as obras a partir de abril, quando o seu nome já era cogitado para disputar a reeleição.


 


Durante a campanha, o peemedebista também superou o “trauma” do rompimento com o PT — partido que o apoiou desde que tomou posse, em 2005, até março último. Em seus programas eleitorais, João Henrique procurou passar uma imagem de “amigo” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e creditou parte de suas realizações ao governo federal.


 


Para explorar a imagem do presidente, o prefeito também teve de brigar com o PT do deputado Walter Pinheiro, que ingressou na Justiça Eleitoral com várias ações exigindo exclusividade nesse tipo de ação. No segundo turno, acusou Pinheiro de tentar impedi-lo de usar a imagem do maior cabo eleitoral do PT.


 


Estratégia


 


Como estratégia para chegar ao segundo turno, o prefeito reeleito praticamente “ignorou” ACM Neto, Pinheiro e Hilton Coelho na maior parte dos programas eleitorais da primeira fase da disputa. Sob orientação de seus marqueteiros, João Henrique procurou descaracterizar as duas administrações de Antonio Imbassahy, alegando que as obras realizadas nesse período foram, na realidade, bancadas pelo governo estadual.


 


Os ataques a Imbassahy deram resultado, e o tucano despencou nas pesquisas. Com Imbassahy “pré-eliminado” da disputa, João Henrique voltou suas atenções para Walter Pinheiro e ACM Neto.


 


No final da campanha do primeiro turno, quando o governador Jaques Wagner gravou uma mensagem de apoio a Pinheiro, João Henrique passou a veicular em seus programas parte de um discurso do próprio governador em sua convenção. No discurso, Wagner fez elogios ao prefeito e disse que uma eventual vitória de João Henrique o deixaria muito feliz.


 


No segundo turno, João Henrique explorou ainda a imagem de “tocador de obras” e foi beneficiado pela disputa no segundo turno envolver dois candidatos da base do governo federal. Com isso, o presidente Lula não veio à capital baiana e também não gravou nenhuma mensagem de apoio para Walter Pinheiro.


 


Perfil


 


Deputado estadual por duas legislaturas, João Henrique Carneiro ganhou popularidade em Salvador recorrendo às liminares. Para cada decisão provisória expedida pela Justiça, o então deputado “comemorava” com publicidade, espalhando outdoors pela cidade e fazendo inserções em rádio e televisão.


 


Na Prefeitura, em seu primeiro mandato, João Henrique deixou as liminares de lado — mas não abandonou a propaganda. Em pouco mais de três anos, gastou R$ 61,5 milhões em publicidade, montante praticamente igual ao que foi gasto pelo seu antecessor, Antonio Imbassahy, em oito anos de administração (R$ 62,2 milhões).


 


A popularidade adquirida na época em que atuou como deputado estadual foi fundamental para João Henrique derrotar o ex-governador César Borges, na época filiado ao PFL (que se transformou no DEM), em 2004. Na Prefeitura, trabalhou nos bastidores para eleger sua mulher, Maria Luiza, deputada estadual (PMDB), o irmão, Sérgio Carneiro (PT), deputado federal, e o pai, João Durval, senador pelo PDT.


 


Foi no PDT que João Henrique chegou à Prefeitura pela primeira vez. No entanto, o prefeito reeleito iniciou a sua carreira como vereador em Salvador pelo PFL, partido controlado na Bahia pelo senador Antonio Carlos Magalhães. “Segui a orientação do meu pai, que na época fazia parte do grupo carlista. Mas logo no primeiro mandato rompi e passei para a oposição”, disse o prefeito.