Fernando Morais biografa o 'sobrevivente' Paulo Coelho
Fernando Morais, autor da biografia autorizada do escritor Paulo Coelho, considera que a grande surpresa do autor brasileiro é precisamente que ele esteja vivo após experiências com drogas ou a prática do satanismo. Morais seguiu durante três anos o autor
Publicado 12/11/2008 20:37
Drogas, seitas religiosas, psiquiátricos, sexo, traições, sucesso internacional, perseguição política, todos os elementos necessários para um romance trepidante são a base desta biografia de mais de 600 páginas. Em entrevista à Agência Efe, Morais — que confessa que esperava “uma coisa doce, normal”, da vida de Coelho — disse que em princípio pensou em chamar a biografia de O Sobrevivente, mas achou ser um nome longo e difícil de lembrar.
“Ele nasceu meio morto, em coma, quase morre ao nascer e depois pelas drogas, pelos eletrochoques, pelas práticas satânicas, pela repressão política da ditadura… Mas sobreviveu a tudo”, explicou. Em O Mago, título definitivo, Morais conta desde os medos do menino que se envergonhava por sua feiúra até a realização do grande sonho de Paulo Coelho — ser um escritor lido no mundo todo.
No meio, histórias surpreendentes de uma vida agitada: a dependência a todo tipo de drogas na adolescência, sua internação em três ocasiões em hospitais psiquiátricos, com sessões de eletrochoques incluídas, sua afiliação a religiões satânicas, seu sucesso como compositor de rock e suas experiências homossexuais. “A história de Paulo é um presente para um biógrafo”, acrescentou Morais, a quem lhe chamou a atenção sobretudo “a obstinação por ser o que é hoje”.
“Paulo Coelho não sonhava em ser um bom escritor. Ele queria ser um escritor lido no mundo todo”, continuou o biografo. “Poderia ter sido jornalista, músico, dramaturgo, executivo de uma fonográfica, mas concentrou todas suas energias nisto”. Para Morais tudo foram surpresas desde a primeira vez em que se encontrou com o escritor, porque esperava a “um popstar” — e no entanto foi “uma pessoa muito singela” que saiu a seu encontro.
A partir daí, Morais se transformou na sombra de um dos autores mais lidos na atualidade, com 35 milhões de livros vendidos, cuja vida, pensava em um princípio, que seria “só água e açúcar” e finalmente resultou ser “todo o contrário”. Apesar de ter lhe acompanhado por todo o mundo, de ter horas de conversa com Coelho e seus conhecidos — amigos e inimigos —, de ter lido até os diários guardados sob chave que Coelho quer que se queimem quando morra, Morais ainda guarda algumas dúvidas sobre a vida do escritor.
Em fevereiro de 1982, em pleno auge de sua época de drogas e satanismo, Coelho foi ao campo de concentração alemão de Dachau e disse ter visto “algo ou alguém” que o encorajou a “mudar o caminho”, uma mudança cujo primeiro passo seria se encontrar com alguém dois meses depois. “Não sei o que se passou em Dachau — poderia ser seqüela das drogas ou dos eletrochoques. Mas sei que foi muito importante para produzir transformações tão profundas em Paulo”, apontou Morais.
A partir dessa visita, Coelho abandonou as drogas e as seitas satânicas. Dois meses depois conheceu quem ainda considera seu “mestre”, que lhe encorajou a fazer o Caminho de Santiago — uma viagem da qual nasceria seu romance Diário de um Mago. “Para o leitor é melhor que a biografia tenha sido escrita por um ateu do que por um crente”, considerou Morais, quem se mostrou cético quanto aos episódios em que Coelho afirmava ver, escutar ou sentir espíritos. “Compreendi por que não sou um fiel leitor seu, porque para isso é preciso ter fé.”
Coelho não teve acesso aos originais de sua autobiografia e não pôde lê-la até ser publicada. Foi então quando assegurou que o livro reflete muito bem os fatos de sua vida — mas não sua alma, algo com o que não parece concordar muito seu autor, que balança a cabeça com expressão cética quando se perguntado sobre essas declarações.
Da Redação, com informações da Efe