Impasse nas negociações: jornais mantêm proposta de achatamento salarial
Jornalistas se mobilizam para manifestações nos jornais
Publicado 13/11/2008 10:21 | Editado 04/03/2020 16:35
Os jornais O Povo e Diário do Nordeste tiveram exatos 11 dias para construir uma nova contraproposta de reajuste para os jornalistas de impresso, mas voltaram para a mesa de negociação, na última terça-feira (11/11), com a ridícula proposta de manter em 6% o percentual de reajuste salarial de seus empregados.
“Infelizmente, não temos nada de novo”. “Não conseguimos dilatar o percentual”. “Não conseguimos encontrar um número”. “Há uma atmosfera de ansiedade e incerteza”. “Fica mantida a proposta apresentada na última reunião”, disseram os representantes patronais. Além de não repor a inflação (7,15%), a proposta ainda impõe aos jornalistas uma perda salarial de 1,07% em relação ao piso da categoria em setembro de 2007.
O Povo obteve lucro de R$ 1,78 milhão
A proposta do advogado do O Povo contrasta com os dados do balanço financeiro do jornal, publicado no Diário Oficial do Estado em 26 de setembro de 2008. “O mesmo jornal que, segundo o Diário Oficial, obteve lucro de 1,78 milhão em 2007 quer impor achatamento salarial aos jornalistas. Isso é que é responsabilidade social”, ironiza a presidente do Sindicato dos Jornalistas no Ceará (Sindjorce), Déborah Lima.
“Enquanto os veículos aumentam suas margens de lucro com anúncios e convergência de mídias, aumentam o trabalho dos jornalistas sem nenhum adicional. E ainda querem impor perdas salariais. Dá para aceitar?”, questiona o jornalista Mirton Peixoto, integrante da Comissão de Negociação do Sindjorce.
Ameaça de demissão
Os representantes dos patrões chegaram a afirmar que um reajuste maior comprometeria a “garantia de manutenção do nível de emprego” nos jornais. Em outras palavras, as empresas disseram que um reajuste digno provocaria demissões nas empresas. E não parou por aí. Na falta de argumentos qualificados, os negociadores patronais apelaram para o lado emocional. Chegaram a dizer que “fatos lamentáveis refletiram na saúde financeira das empresas”, se referindo, subliminarmente, à morte do presidente do Sistema O Povo de Comunicação, Demócrito Dummar.
No entanto, não levam em consideração o crescimento dos anúncios por ocasião das eleições municipais de 2008, tampouco o número crescente de páginas para comportar as propagandas que antecedem as festas de Natal. “Os dados técnicos são irrefutáveis: mesmo com cortes significativos de investimento público, a economia vai crescer e isso reflete em todos os setores, que estão oferecendo ganhos reais (acima da inflação) aos seus trabalhadores”, analisa o economista Reginaldo Aguiar, supervisor técnico regional do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudo Socioeconômicos (Dieese).
Manifestações nas portas dos jornais
A Comissão de Negociação do Sindjorce recusou a proposta patronal, enfatizando que as negociações nem sequer começaram, tendo em vista que ainda não alcançou patamares de razoabilidade. “Não estamos discutindo só reajuste, estamos discutindo a unificação dos pisos de impresso e mídia eletrônica, vale refeição, adicional por veiculação de matérias em outras mídias, entre outras reivindicações ignoradas pelos patrões até agora. Queremos negociar avanços nos direitos e não perdas, como querem os jornais do Ceará”, afirmou Déborah Lima.
Diante da intransigência patronal, os jornalistas começam a se mobilizar para manifestações nas portas dos jornais. Nesta sexta-feira (14/11), às 10 horas, o Sindjorce realiza reunião para planejar os atos políticos em defesa da unificação dos pisos salariais (R$ 1.360,42) e reajuste de 13% para salários acima do piso. Os jornalistas também reivindicam as cláusulas do Seguro, da Reportagem Especial, da Campanha de Sindicalização, do Fundo de Formação Profissional, do Vale Refeição e do Adicional de Veiculação.
A próxima rodada de negociações está agendada para o dia 12 de dezembro, às 8h30min, na SRTE.
Fonte: Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Ceará