Messias Pontes – PSDB cearense está no mato sem cachorro
Os tucanos cearenses vivem o seu pior momento político. Mesmo elegendo no Ceará o maior número de prefeitos nas eleições de outubro último, 55 no total, o PSDB vem minguando a cada eleição. Chegou a ter bem mais de 100 prefeituras sob seu comando num pass
Publicado 19/11/2008 10:14 | Editado 04/03/2020 16:35
Apesar de continuar com o maior número de prefeituras, o PSDB perdeu as mais importantes, principalmente na Região Metropolitana de Fortaleza e em especial na Capital que conseguiu eleger apenas um vereador. Sobral, Juazeiro do Norte, Crateús, Iguatu, Limoeiro do Norte e outros importantes colégios eleitorais já não contam com governantes tucanos. As principais vitrines são Crato e Itapipoca, sendo que nesta última as denúncias de abuso do poder político e econômico não têm registro na história do município dos três climas.
A bancada tucana na Assembléia Legislativa do Estado, que já beirou as 30 cadeiras, hoje ocupa apenas 14 e parece sem identidade. É a maior bancada, tem parlamentares vocacionados, atuantes, assíduos e respeitados como o jovem Gony Arruda – primeiro v ice-presidente da Casa -, Professor Teodoro Soares, Fernando Hugo e o líder João Jaime. Porém a bancada vive um dilema hamletiano de ser ou não governo. Isto apesar de ocupar as Secretarias da Justiça, do Turismo e da Infra-Estrutura com Marcos Cals, Bismark Maia e Adail Fontenele, respectivamente.
Nesta segunda-feira 17, vereadores e parlamentares tucanos estiveram reunidos com a cúpula partidária, num hotel de Fortaleza, oportunidade em que muitos se queixaram ao chefe Tasso Jereissati do tratamento dispensado pelo Governo do Estado. Para alegria da maioria dos presentes, o líder maior tucano afirmou que o PSDB é oposição ao Governo Cid Gomes e arrancou aplausos quando disse que “o partido deve se preparar para ter candidatura própria em 2010”. Porém aquelas três secretarias vão continuar sendo ocupadas por tucanos.
Alguns deputados governistas afirmam que os tucanos choram de barriga cheia, pois o governador Cid Gomes nunca se negou a recebê-los. E, ironizando, lembram de quando Tasso Jereissati era governador e sempre justificava que a agenda estava lotada e, assim, ia empurrando com a barriga a decisão de receber os seus correligionários de partido. “No último governo Tasso os tucanos passaram uma humilhação tamanha que, para ser recebidos, o deputado Fernando Hugo teve de fazer um abaixo-assinado solicitando uma audiência da bancada com o então governador”, observou um aliado de Cid Gomes.
É natural que a bancada tucana queira ocupar mais espaços no governo estadual. Até porque tem dado apoio quase que incondicional ao Governo do Estado. É natural e mais que compreensível que as lideranças tucanas queiram ver o partido disputando o governo do Estado em 2010 para ter uma palanque que contribua para o partido não minguar mais ainda.
O grande problema é que os tucanos não têm um nome de peso para enfrentar Cid Gomes em 2010. Tasso Jereissati, a liderança maior do partido no Ceará, não se dispõe a enfrentar uma liderança que se firma e que hoje conta com a maioria esmagadora dos prefeitos e dos deputados estaduais e federais. Além do mais ,é bom lembrar que Tasso nunca disputou uma eleição majoritária sem o apoio da máquina governamental. Para ser candidato em 1986, ele exigiu, como condição sine qua non, que o então governador Gonzaga Mota permanecesse no cargo até o final do seu mandato e que, segundo declarou o ex-governador, “usasse a máquina para elegê-lo, pois não entraria numa disputa para perder”.
Guardadas as devidas proporções, partido político é como time de futebol: time que não disputa campeonato, perde torcedor; partido que não disputa cargo majoritário, perde eleitor. Na melhor das hipóteses, não se ganha novos adeptos. Daí ser justificável a intenção dos deputados estaduais tucanos quererem que o partido tenha candidatura própria para governador nas próximas eleições.
Com Tasso Jereissati sendo carta fora do baralho, com quem o PSDB contaria para enfrentar Cid Gomes? Na realidade, o PSDB cearense está no mato sem cachorro!
Messias Pontes é jornalista e colaborador do Vermelho/Ce