Marcha pela unidade latino-americana fecha a Cúpula dos Povos
Se a integração formal entre os países da América Latina e Caribe ainda vai levar algum tempo, o mesmo não se pode afirmar da interação entre os movimentos sociais destas nações, que marcharam unidos pelas ruas do Centro de Salvador, nesta segunda-feira (
Publicado 15/12/2008 22:05 | Editado 04/03/2020 16:21
Chega de imperialismo, de privatização, liberdade aos cinco heróis cubanos, não a criminalização do aborto, moradia digna, mais empregos e direitos para os trabalhadores das Américas diziam algumas das faixas carregadas durante a caminhada entre o Campo Grande e a praça Municipal. Militantes das centrais sindicais, da juventude, do movimento das mulheres, da luta anti-racismo e de outros segmentos sociais pediam a construção de uma nova história para o continente americano, através de uma integração financeira, social e produtiva. “Te cuida, te cuida imperialista. A América Latina será toda socialista”, gritavam em coro os participantes da marcha.
A empolgação demonstrada no percurso foi a mesma apresentada durante os debates no Centro de Convenções, ao longo de todo o final de semana, de onde saíram as propostas que serão apresentadas aos presidentes dos países da América Latina e Caribe, reunidos na Costa do Sauípe, no litoral norte da Bahia.
“Esta marcha é mais uma prova de que o movimento social precisa se unir para conquistar mais direitos e dizer aos presidentes que não aceitamos pagar a conta da crise que foi gerada pela sanha dos capitalistas. Agora, eles que arquem com o preço desta crise, que marcará o fim do capitalismo”, afirmou Pascoal Carneiro, dirigente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
A unidade demonstrada durante toda a Cúpula também foi ressaltada por Artur Santos, da coordenação das Centrais Sindicais do Cone Sul. “Tivemos aqui uma excelente demonstração de que a luta dos trabalhadores é igual em todo o continente. Por isso, queremos uma integração que favoreça os direitos trabalhistas e a construção de um novo modelo econômico para a América Latina e o Caribe. Nós somos contra o modelo atual e vamos dizer, aos nossos presidentes, que a saída para a crise é o fortalecimento da geração do emprego e da agricultura familiar, pois, com isso, se gera renda e produção; fatores indispensáveis para o crescimento de uma nação”, declarou.
“Esta marcha coroa um momento singular para os latinos americanos e caribenhos, que deram mais um importante passo para a discussão de uma integração regional em todos os níveis. A diversidade aqui demonstrada reflete a organização da luta dos negros, das mulheres, dos jovens, dos indígenas e dos trabalhadores em todo o continente. A interação e a unidade apresentadas neste ato reforçam a certeza de que a nossa agenda é muito ampla, mas não pode ser segmentada. Nós defendemos que todos devem marchar unidos. Que os sindicatos têm o dever de defender os direitos das mulheres de decidirem sobre o seu corpo, de oportunidades iguais para os negros e todas as outras bandeiras aqui representadas. A dimensão desta marcha prova que, em qualquer lugar da América, o povo pode se reunir e lutar contra a dominação imperialista”, acrescentou Rafael Freire, da Confederação Sindical das Américas.
Sintetizando a avaliação da organização local da Cúpula dos Povos do Sul, o presidente da CTB Bahia, Adilson Araújo, reiterou o protagonismo dos movimentos sociais e dos trabalhadores e trabalhadoras, “que compreenderam a importância desse momento político ao elaborar uma declaração com o objetivo de buscar resposta à demanda dos povos da América Latina e do Caribe”. Para Araújo, a aposta deve ser em cima de transformações profundas, que tenham como norte uma expectativa e uma perspectiva de ruptura com o sistema capitalista, em favor do desenvolvimento regional com soberania. “Nós devemos reunir todos os esforços, construindo, passo a passo, um conjunto de todas as reivindicações elaboradas durante a Cúpula e pautar uma agenda positiva, voltada a responder os problemas no que diz respeito à soberania energética e alimentar e, sobretudo, a uma agenda que corresponda à necessidade da construção de um novo projeto de desenvolvimento para as nações; em especial, para os povos excluídos”, defendeu.
De Salvador,
Eliane Costa e Camila Jasmin