Comitê em solidariedade ao povo palestino é lançado na Assembléia
Em ato realizado no Comitê de Imprensa da Assembléia, foi lançado na manhã desta terça-feira (20/01) o Comitê Cearense em Solidariedade ao Povo Palestino. O movimento congrega 27 entidades e partidos políticos do Estado, entre eles a Central Única dos Tra
Publicado 21/01/2009 10:18 | Editado 04/03/2020 16:35
De acordo com o deputado Lula Morais (PCdoB), o comitê tem também por objetivo esclarecer à população sobre o direito que os palestinos têm de constituir um estado soberano. Segundo ele, Israel vem cometendo um genocídio sobre a população civil palestina, vitimando centenas de crianças. “Temos que nos solidarizar com esse povo tão sofrido e fazer cessar essa exterminação”, frisou.
O vereador de Fortaleza João Alfredo (PSOL) lembrou que Israel tem repetidas vezes desrespeitado resoluções do Conselho de Segurança da ONU para que sejam cessadas as hostilidades. Além disso, o vereador frisou que os palestinos foram destituídos de território pelo estado judaico e impedidos de retornarem às suas terras.
De acordo com o jornalista Messias Pontes, que integra o comitê, na próxima quinta-feira, às 16 horas, será realizado um ato público. Vai acontecer uma caminhada no centro de Fortaleza, saindo da praça do Ferreira, indo até a praça em frente à sede do Banco do Nordeste, quando haverá um manifestação dos integrantes do movimento. Também será agendado um ato religioso ecumênico em solidariedade ao povo palestino.
Fonte: Site da AL
O Comitê Cearense de Solidariedade ao Povo Palestino teceu um manifesto sobre a agressão de Israel ao povo Palestino. Leia a seguir na íntegra:
O povo cearense, através do movimento social organizado, das forças democráticas e progressistas da sociedade, dos amantes da paz e da autodeterminação dos povos concebem a atual intervenção armada do Estado de Israel na Faixa de Gaza como criminosa e de franco genocídio ao povo palestino.
Os bombardeios sobre as cidades e as manobras militares israelenses – com o apoio do sofisticado aparato bélico norte-americano, a inoperância da ONU e o beneplácito cúmplice das agências noticiosas oficiais que distorcem os fatos – violentam os direitos humanos e o direito à vida de milhares de crianças, jovens, mulheres e homens que vivem na Faixa de Gaza e em toda a Palestina. Os ataques atingem indiscriminadamente escolas, hospitais, mesquitas e já mataram 1.205 palestinos dos quais aproximadamente a metade era formada por civis, 410 eram crianças e mais de 5.000 ficaram feridos. Pela dimensão do ataque e a generalização inescrupulosa do bombardeio, este já é um dos maiores genocídios praticados por armamento de guerra nesse século, utilizando-se de armas condenadas por convenções internacionais, como bombas de fósforo branco e urânio empobrecido.
Israel utiliza o mesmo argumento comprovadamente falso de “Guerra Preventiva de Defesa” para justificar o terrorismo de Estado contra os ataques do Hamas. Essa retórica cínica e cruel, não obstante os apelos e protestos do mundo inteiro, foi utilizada recentemente pelos EUA de George W. Bush para bombardear e criminosamente destruir a vida, os direitos humanos e o patrimônio artístico e cultural do Iraque e do Afeganistão.
Mas o que significa a palavra “defesa” para Israel, quando sabemos que este Estado invadiu territórios palestinos, numa “ocupação” violenta e profundamente discriminatória que teve início em 1948, se acentuou com a Guerra dos Seis Dias em 1967 e com a Guerra do Yon Kipur em 1973? Os palestinos, confinados em guetos, sofrem um processo de humilhação permanente, acentuado pela montagem de assentamentos de colonos judeus nos territórios pertencentes aos palestinos.
Os ataques perpetrados por Israel contra o povo palestino em muito se assemelham a barbárie da “Solução Final” apregoada pelos Nazistas contra os judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Segundo o intelectual uruguaio Eduardo Galeano, “Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma de suas guerras defensivas, Israel devorou outro pedaço da Palestina, e os almoços seguem. O apetite devorador se justifica pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu, e pelo pânico que geram os palestinos à espreita”.
Qual o significado da palavra “defesa” quando Israel é o invasor dos territórios seculares de um povo e, pior ainda, quando a esse povo não resta nada mais que a resistência através de uma Intifada, onde os palestinos expõem seus corpos e lançam pedras contra a opressão e às tentativas de extermínio levadas a cabo por um inimigo que se utiliza de metralhadoras, fuzis automáticos, bombas, tanques, armas químicas, helicópteros e outros armamentos sofisticados para mutilar ou matar crianças, idosos e inúmeros outros inocentes?
Os sionistas argumentam que Israel é um pequeno Davi em guerra contra o poderoso Golias árabe. Manipulam a História e a religião para justificar um massacre não só contra o povo palestino, mas contra a humanidade. Em verdade, diante da desproporção das forças em conflito, quem é Davi e quem é Golias? Nas palavras de José Saramago, “As pedras de Davi mudaram de mãos, agora são os palestinos que as jogam. Golias está do outro lado, armado e equipado como nunca esteve soldado algum na história das guerras”.
O Estado de Israel foi criado por determinação da ONU em 1947 sobre os territórios dos palestinos. Na ocasião, o líder pacifista Mahatma Gandhi argumentou, “Por que eles não fazem, como qualquer outro dos povos do planeta, que vivem no país onde nasceram e fizeram dele o seu lar?A Palestina pertence aos palestinos, da mesma forma que a Inglaterra pertence aos ingleses, ou a França aos franceses”. Edward Said, um dos mais respeitados intelectuais palestinos do século XX, destacou que o Estado Israelense que nem sequer tem uma Constituição, surgiu para consolidar politicamente a identidade judaica, isolando essa “identidade de tudo o que fosse não-judeu”, ou seja, definindo-se “a si próprio como um Estado de e para o povo judeu”. Desse modo, “Israel instaurou direitos exclusivos de imigração e posse da terra para os judeus”, desconhecendo e estigmatizando as populações árabes e, em especial, palestinas que viviam na região desde tempos imemoriais.
Os sionistas argumentam que Israel é a única Democracia do Oriente Médio. Ora, enquanto o Hamas ganhou legitimamente as eleições ocorridas em Gaza no ano de 2006, Israel descumpre as recomendações ou resoluções das Nações Unidas, desacata as sentenças dos tribunais internacionais, burla as leis do Direito Internacional, legalizou a tortura de prisioneiros e colocou os Partidos Árabes de Israel na ilegalidade.
Ao ser implantado, em 1948, o Estado de Israel cerceou direitos e passou a cometer diversas atrocidades e violências contra todos os que viviam na Palestina antes desse período e que, da noite para o dia, foram proibidos de levar uma vida digna e em liberdade, sendo que os refugiados não podem nem sequer “ter acesso à terra como têm os judeus”.
Se no tempo presente a situação ganhou contornos indescritíveis e a violação aos mínimos direitos humanos atraiu a atenção internacional, há pelo menos duas décadas, a palavra de ordem do Estado de Israel tem sido ocupação e cercamento de cidades na Cisjordânia e em Gaza. São verdadeiros “guetos” em que as populações árabes locais vivem condenadas a um eterno estado de sítio, com permanentes bloqueios nas estradas e vias de acesso, destruição de redes de instalação elétrica, saneamento e prédios públicos, fechamento das passagens para hospitais, feiras e universidades, detenção de caminhões de transportes de medicamentos e alimentos; em síntese, a intenção tem sido “matar de fome, expulsar e colocar os palestinos de joelhos”. O atual conflito é, portanto, apenas a ponta do iceberg de um processo de lenta agonia e de luta desesperada do povo palestino para continuar vivo.
Ao contrário do que alardeia boa parte dos noticiários da grande mídia, que busca, na maioria das vezes, apenas fazer sensacionalismo, nada informar ou jogar a opinião pública contra o povo e a causa palestina, a guerra atual não é uma guerra entre dois Estados: é a guerra de um Estado que é uma poderosa potência militar contra uma população indefesa, sitiada e à mercê de toda sorte de violências.
Nessa direção, mais uma vez, consideramos significativas as observações feitas por Edward Said, em entrevista a David Barsamian, ao afirmar que “1948 e a fundação do Estado de Israel significou que fundamentalmente 78% da histórica palestina árabe se tornou israelense (…) A Cisjordânia e Gaza em conjunto constituem 22% da histórica palestina, e é sobre isso que a atual disputa se dá. Os palestinos não estão lutando por causa dos 78% perdidos. Eles lutam pelos 22% ainda restantes. Desses 22%, os israelenses ainda têm controle sobre 60% da Cisjordânia e 40% de Gaza. Se houvesse um dia um Estado palestino, não haveria um território contíguo. Ele estaria todo entrecortado em pequenos pedaços, controlados pelas estradas construídas pelos israelenses que agora cercam cada área palestina, por isso os palestinos estão hoje sitiados dentro do seu próprio território”.
Destacamos essas observações para colocar em evidência que a problemática palestina, as violências contra populações que vivem prisioneiras em suas próprias casas e territórios, a covardia e o cinismo do Estado e do governo de Israel se constituem em brutal genocídio dos palestinos. Ficar em silêncio, fingir que nada está acontecendo ou dizer que não temos nada a ver com isso significa ser cúmplice do assassinato e da mutilação de inúmeros seres humanos.
Nossa posição é um manifesto contra os assassinatos, contra todas as formas de violência físicas e psicológicas e contra o terror de Estado impetrados por Israel na Faixa de Gaza. Tal posição espelha nossa convicção de que esta é uma causa universal e internacionalista: lutamos em defesa da vida, dos direitos humanos e do respeito à diferença e à autodeterminação dos povos no mundo árabe, no Oriente, na África, na América Latina, no Brasil e em todos os lugares de um mundo contemporâneo profundamente marcado pela intolerância, exclusão e mutilação de milhares de mulheres, crianças e homens.
Este é, ainda, um manifesto contra as injustiças de um mundo repleto de seres humanos que perambulam sem as mínimas condições de existência: moradia, terra para viver, educação, saúde, trabalho, liberdade, condições de igualdade e direito à diferença. Em uma palavra, um mundo de “apátridas” em campos de refugiados, cercamentos, guetos, acampamentos de trabalhadores sem-terra, acampamentos urbanos de trabalhadores sem-teto, favelados e excluídos de um modo em geral.
Essa é nossa causa e ela não tem fronteira, nem nacionalidade. O mundo é nossa casa e a construção de um outro mundo – com liberdade, igualdade de condições e justiça social – ainda é possível.
Pela criação e reconhecimento do Estado Soberano da Palestina!
Pela retirada imediata de tropas israelenses da Faixa de Gaza e territórios ocupados em toda a palestina!
Pelo rompimento diplomático e comercial do governo e Estado brasileiro com o Estado de Israel!
Pelo fim de todos os bloqueios na Palestina!
Viva a luta do povo Palestino!
Viva a solidariedade com a luta e a causa do povo palestino!