Axé e luta na marcha contra a intolerância religiosa em Salvador
Cerca de três mil pessoas participaram da 2ª Caminhada contra a Intolerância Religiosa e pela Paz na manhã desta quarta-feira (21/1), em Salvador. O evento atraiu a atenção de soteropolitanos e turistas que passaram pelas ruas do tradicional bairro de Ita
Publicado 22/01/2009 19:15 | Editado 04/03/2020 16:21
O deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), autor da lei nacional que criou o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, esteve presente na manifestação e ressaltou a importância da celebração. ''O nosso objetivo foi criar uma data que pudesse ser referência nacional contra a intolerância religiosa'', afirmou. ''É um momento de reflexão para o cidadão e para o estado, sobre o nosso papel como defensores do direito à liberdade'', destacou Daniel.
Já para a vereadora de Salvador, Olívia Santana (PCdoB), autora da lei municipal, a data revela a legitimidade da luta e reforça a necessidade de uma ação mais enérgica do estado, no sentido de reparar as atrocidades vividas pelos negros, desde o império, até os dias atuais. ''Temos que assegurar reparação imediata para a família da mãe Gilda'', defendeu.
Abrindo caminhos
Usando as cores branco (símbolo de limpeza e fertilidade) e azul (cor relacionada ao orixá Ogum) centenas de filhas-de-santo seguiram as ordens da yalorixá mãe Jaciara de Oxun, responsável pela realização do evento e seguiram à frente do cortejo, abrindo os caminhos para os que vinham atrás.
A sacerdotisa é filha biológica e herdeira religiosa de mãe Gilda, grande homenageada do dia. Mãe Gilda teve sua foto publicada em uma matéria de capa do jornal Folha Universal da Igreja Universal do Reino de Deus, que acusava o candomblé de charlatanismo. Em seguida o terreiro foi invadido duas vezes por evangélicos. Os atos de intolerância protagonizados pelo fanatismo religioso pioraram o estado de saúde da yalorixá, que já estava debilitada. Em 21 de janeiro de 2000, mãe Gilda faleceu.
Desde então, o terreiro foi assumido por Jaciara, que passou a vivenciar uma luta incessante pela reparação aos danos morais causados à sua família. Em setembro do ano passado o Superior Tribunal de Justiça (STJ) deu ganho de causa ao processo. Foi a primeira vez no Brasil que uma instituição foi condenada por intolerância religiosa. Até então só havia casos envolvendo pessoas físicas.
Ponto alto
Um dos pontos altos do evento foi o lançamento da Cartilha de Preservação Ambiental, da Fundação Pedro Calmon, que foi seguida da tradicional Feijoada de Ogun, distribuída por volta do meio dia.
Além dos sacerdotes das religiões de matrizes africanas, estiveram presentes lideranças espíritas, católicas, batistas, ortodoxos, praticantes da Seicho No Ie, e rastafáris. Lideranças políticas como a secretária municipal da Reparação, Maria Alice, a vereadora Olívia Santana e Luíza Bairros, secretária de promoção da igualdade, do governo do estado da Bahia, também participaram do ato.
O evento foi uma promoção do Terreiro Abassá de Ogum e contou com o apoio do Coletivo de Entidades Negras (CEN), da Federação Nacional do Culto Afro-Brasileiro (FNACAB), da Associação de preservação do patrimônio Bantu (ACBANTU), da União de Negros pela Igualdade (UNEGRO), da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), e do Koinonia.
Fonte: Ascom/deputado federal Daniel Almeida