Filme sobre a vida de Lula começa a ser rodado em Pernambuco
Nunca na história deste país a vida de um retirante nordestino eleito duas vezes presidente da República havia sido retratada em filme. Isso começou a mudar esta semana, no Agreste de Pernambuco, com o início das filmagens de Lula, o Filho do Brasil
Publicado 23/01/2009 18:58
Classificado pelo diretor como “um drama épico sobre uma certa família Silva”, o filme, orçado em R$ 12 milhões, retrata a vida do presidente e de seus familiares, do nascimento de Lula, em 1945, até a morte da mãe, Eurídice Ferreira de Melo, a dona Lindu, em 1980.
Baseado no livro homônimo da historiadora Denise Paraná, publicado em 1996, Lula, o Filho do Brasil tem como protagonista o pouco conhecido ator de teatro Rui Ricardo Diaz.
Diaz será um dos cinco “Lulas” que aparecerão no filme. Além dele, interpretarão o mesmo papel um bebê de três meses, um menino de dois anos, outro de sete e um adolescente de 13. Precavida, a produção providenciou ainda mais dois reservas, para o bebê e para o menino de dois anos.
As primeiras gravações foram feitas em Caetés (a 250 km de Recife, PE), ex-distrito de Garanhuns, terra natal do presidente. As cenas iniciais mostram dona Lindu, interpretada pela global Glória Pires, dando à luz o futuro presidente.
Saga na seca
Luiz Inácio cresce em meio à seca, e a saga dos Silva no Agreste só termina quando Lula, 7, embarca com a mãe e seis irmãos em um pau-de-arara, com destino a São Paulo. A cena da saída, gravada sob o sol forte do meio-dia, foi repetida 12 vezes ontem até ser aprovada.
O filme vai mostrar ainda a trajetória operária de Lula e também seus dois casamentos, com Lurdes e Marisa Letícia. Para o papel da primeira mulher foi escolhida a filha de Glória, Cléo Pires. Já a atual primeira-dama do país será interpretada pela atriz Juliana Baroni, ex-paquita Catuxa Jujuba.
A previsão é que as gravações terminem no dia 21 de março. De setembro a dezembro, a obra participará de festivais internacionais e, em janeiro, entrará no circuito comercial. Segundo Fábio Barreto, há possibilidade de lançamento simultâneo na América do Sul.
Estréia e ano eleitoral
Para ele, a coincidência entre a estreia e o ano eleitoral não passa mesmo disso: uma coincidência. “Vamos mostrar uma história humana, não um filme chapa-branca, feito para puxar o saco do presidente”, disse.
“Quem espera um filme político pode esquecer, ele é completamente separado da efervescência eleitoral.” Ainda segundo Barreto, a produção não utilizou nem um centavo de incentivos ou recursos públicos.
Diaz, o Lula adulto do filme, afirma que nem chegou a pensar numa eventual influência do filme na eleição ou vice-versa. “A gente fala de um Lula apartidário, quase apolítico”, disse. “Ele não tem partido, não é de esquerda nem é comunista. Está num movimento e surge como liderança”, afirmou.
Fenômeno de popularidade
O ator, que não diz em quem votou para presidente, engordou oito quilos para o papel e, com a ajuda de uma fonoaudióloga, treina para reproduzir a voz rouca de Lula.
“Tenho que ser discreto, não posso ser caricato”, disse. “O tom precisa ser sugerido, porque isso é uma característica forte dele, mas não pode ser estereotipado.” Eleitora de adversários do presidente nos dois últimos pleitos, Glória Pires confessa que não sabia “nada” sobre a vida de Lula antes do seu engajamento político e que, com o filme, aprendeu a admirá-lo.
Para ela, a obra pode, sim, ajudar a consolidar a popularidade do presidente. “Mas não vejo nenhum problema nisso, porque ele já é um fenômeno de popularidade”, declarou.
Fonte: Agência Folha