FSM: seminário aponta união dos povos para enfrentar crise

Mais de 500 pessoas prestigiaram o seminário “A crise do capitalismo e a nova luta pelo socialismo”, realizado na manhã da quinta-feira (29) no Centro de Convenções Hangar, no âmbito do Fórum Social Mundial (FSM), em Belém (PA). O evento contou com a part

José Reinaldo Carvalho, secretário de Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) abriu as intervenções citando um discurso do ex-presidente norte-americano George Bush pai, pronunciado em 1992 — no auge da histeria pós-queda do Muro de Berlim —, no qual ele proclamou uma nova era de domínio mundial pelos Estados Unidos.


 


 


Para José Reinaldo de Carvalho, nascia, na ocasião, um era de “terror infinito” contra os povos, traduzida pelo slogan de “guerra infinita contra o terrorismo” – ou “guerra preventiva” -, que se vulgarizou na administração de George W Bush. O secretário de Relações Internacionais do PCdoB destacou que a viragem ocorrida no mundo com a emergência dos Estados Unidos como superpotência unipolar trouxe também ilusões sobre uma suposta revogação das teses de Karl Marx, que contagiou até setores da esquerda.


 


 


Superação revolucionária


 


Ele fez uma rápida digressão histórica para situar a crise atual, que ocorre num num cenário de contraste em relação àquele do pronunciamento de George Bush pai. Segundo José Reinaldo Carvalho, desde os tempos de Vladimir Lênin o marxismo enfatiza dois fenômenos intrínsecos ao sistema capitalista: crises e guerras. Para ele, agora os mesmos que proclamaram o neoliberalismo como a última palavra da história se converteram em “neokeinesianos” para justificar os saques aos Estados nacionais e às finanças públicas a fim de salvar empresas e banqueiros atingidos pela crise.


 


 


O secretário de Relações Internacionais do PCdoB disse ainda que a crise mostra que, se os capitalistas não sabem gerir a economia, os socialistas, os trabalhadores, sabem. Ou seja: o caráter estrutural da crise exige uma superação revolucionária do capitalismo. E explicou que o epicentro do desabamento do neoliberalismo são os Estados Unidos — mas seus efeitos se espalham rapidamente pelo mundo. Poucas nações estão conseguindo manobrar temporariamente o repique da crise, mas isso não esconde o seu sentido estrutural, explicou.


 


 


Contradições interimperialistas


 


Para José Reinaldo Carvalho, crises como essa fazem parte da natureza do capitalismo. E a sua superação só será possível por meio da luta dos povos. Ele lembrou que as forças de esquerda e progressistas vinham alertando para os efeitos que chegam agora há muito tempo. Era, segundo o secretário e Relações Internacionais do PCdoB, uma crise em gestação pela realidade objetiva do capitalismo. E a atual sinalização de fraqueza do sistema faz surgir a possibilidade de um novo ordenamento internacional. Segundo ele, há na crise um fator novo: a erosão do dólar como moeda-padrão internacional.


 


 


Tudo isso, destacou, faz parte das contradições que opõem o imperialismo aos povos. E cria contradições interimperialistas que geram conflitos políticos, diplomáticos e militares. É a lei do desenvolvimento desigual apontada por Lênin, explicou. Nesse cenário emergem novos pólos — particulamente a China, que, com sua peculiaridades, vai construindo o socialismo e se firmando como potência, afirmou.


 


 


Curso nefasto dos acontecimentos


 


José Reinaldo Carvalho disse também que a possibilidade de um período novo para o mundo com a posse de Barack Obama na Presidência da República nos Estados Unidos passa pela contenção da mão assassina de Israel, pela retirada das tropas de ocupação do Iraque e do Afeganistão, pela desativação da Quarta Frota e pela criação de uma ordem internacional multipolar. Seria ilusão, no entanto, segundo ele, acreditar em mudança desse porte sem a luta dos povos.


 


 


Para o secretário de Relações Internacionais do PCdoB, só as palavras são insuficientes para inverter o curso nefasto dos acontecimentos mundiais decorrente da política intervencionista norte-americana. É preciso, afirmou, levar adiante a resistência dos povos — uma tendência verificada na América Latina onde os povos avançam em suas conquistas por meio de governos progressistas constituídos pela via eleitoral.


 


 


Experiência do povo


 


José Reinaldo Carvalho enfatizou que o PCdoB enfrenta a crise estrutural do capitalismo com a perspectiva socialista. E ressaltou que esta perspectiva deve ser para toda a humanidade. No Brasil, há uma situação nova, com Lula na Presidência da Republica, mas a dominação de classe não se alterou, explicou. José Reinaldo Carvalho também comentou a vitalidade do movimento comunista, demonstrada pelo recente encontro de partidos comunistas e operários em São Paulo e pela resistência dos países que seguram a bandeira do socialismo com altivez.


 


 


O secretário de Relações Internacionais do PCdoB explicou ainda que o caminho para o socialismo não é uma linha reta. São necessárias várias etapas e muitas experiências, afirmou. O povo precisa fazer a sua experiência até chegar à conclusão de que é necessário romper com o sistema capitalista. São essas, segundo José Reinaldo de Carvalho, as tarefas da atual etapa da luta pelo socialismo no Brasil. E destacou a importância de aproveitar este momento especial para unir o povo em torno de bandeiras democráticas e progressistas.


 


 


Caráter civilizatório


 


José Reinaldo Carvalho explicou que a união do povo é a mais poderosa arma para enfrentar o poder do inimigo. Mais que isso, segundo ele: o momento atual é propício para a união dos povos em toda a América Latina. E citou uma formulação do presidente do PCdoB, Renato Rabelo, segundo a qual o mundo está em uma encruzilhada que exige uma decisão clara sobre qual caminho tomar. Para ele, o caminho dos povos é o da justiça social, da consolidação da tendência progressista que vai se firmando na América Latina.


 


 


Os demais integrantes da mesa também enfatizaram a “encruzilhada trágica”, de caráter civilizatório, em que o mundo se encontra. E destacaram particularidades dos seus países para convergirem na idéia de que o capitalismo não tem como dar respostas às mazelas criada por ele e que ameaçam a existência da humanidade. O seminário teve como entidades co-promotoras, além da Fundação Maurício Grabois, várias publicações marxistas e progressistas e entidades que lutam contra a dominação imperialista em diferentes regiões do planeta.


 


 


De Belém,
Osvaldo Bertolino