Sem categoria

Uriibe e Calderón, sozinhos em Davos

Foi uma escolha eloquente: os dois expoentes da direita latino-americana, Felipe Calderón Hinojosa, presidente do México, e Álvaro Uribe, da Colômbia, não tiveram dúvidas em ir ao ''Fórum dos Ricos'', promovido pelas multinacionais. Foram os únicos chef

Calderón, homem da fundamentalista Opus Dei eleito em processo acusado de fraude, ficou quatro dias em Davos, retornando neste sábado (31). Encontrou-se com o presidente de Israel, Shimón Peres, o dietor da Coca Cola, Muhtar Kent, e o da Monsanto, Hugh Grant, além de sua alteza real o duque de York. Sua principal participação foi na sexta-feira, um debate com Uribe, sobre ''imperativos do crescimento latino-americano''. ''Venham investir no México, vão tirar muitos lucros'', propagandeou nessa ocasião.

O presidente colombiano deu as costas para o importante processo de libertação humanitária de prisioneiros das Farc, que acontecia em seu país coordenado pela senadora oposicionista Piedad Córdoba. Passou quatro dias numa turnê pela Europa, com escalas em Davos e na Alemanha.. Manteve contato com duas multinacionais suíças, a C-Holding e a Glencore. Só volta à Colômbia no domingo (1º), depois de encerrado o episódio da libertação.

Homens do ''dever de casa''

No colóquio de sexta-feira com os banqueiros e megaempresários do mundo, os dois ressaltaram que fizeram ''o dever de casa'', conforme o jargão humilhante do velho pensamento único neoliberal, e portanto seus países são excelentes destinos para os investimentos estrangeiros.

Mesmo lacaios, porém, não resistem à ironia diante da crise capitalista nascida em Wall Street. Calderón comentou que dessa vez a origem da crise não está na periferia, ''não se trata de uma 'crise tequila' ou da 'crise tango', esta poderia ser chamada de 'crise Big Mac'''.

Coube a Uribe anunciar que o Fórum Econômico Mundial, que se realiza desde 1971 na mesma sede em Davos e só abriu uma exceção para Nova York em 2002, em resposta ao atentado de 11 de setembro, no ano que vem realizará seu capítulo latino-americano na Colômbia. O recado é cristalino: a crise capitalista tirou o rebolado ideológico de Davos, junto com a champanhe e o caviar, mas não tirou a determinação de fazer a América Latina mudar de rumo, guinar à direita e seguir um caminho de tipo colombiano.

A explicação de Lula

O escore de cinco presidentes latino-americanos no Fórum Social Mundial contra dois no Fórum Econômico Mundial revela muito. Embora ir a Davos não possa ser visto como um tabu – o líder sul-africano Nelson Mandela e o palestino Iasser Arafat lá estiveram, entre muitos outros exemplos –, neste ano a polarização FEM x FSM redundou para um notável impulso para o evento em Belém do Pará. E o encontro dos cinco presidentes com mais de 10 mil pessoas em Belém deixou bem explícita a polarização. O presidente do Equador, Rafael Correa, disse que emDavos ''estão reunidos os moribundos''.

Ainda em Belém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu à imprensa, em coletiva nesta sexta-feira, por que ''desistiu'' de ir a Davos. “Eu não desisti de ir a Davos porque eu não marquei de ir a Davos. Eu fui a Davos quando achei que era interessante ir e vou ao Fórum Social quando eu acho que é interessante ir.”

Lula fez a defesa do FSM. “Em um encontro representativo, como este, de boa qualidade, acho que um presidente não poderia deixar de participar de forma nenhuma”, afirmou. E ainda fez uma brincadeira com sua própria sucessão, dizendo que em 2010 ele participará do fórum como presidente mas ''se for em 2011, já vai ser a Dilma'', numa referência à ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), em quem Lula aposta para sua substituição no próximo mandato presidencial.

Veja também: Recado do FSM ao mundo: Unidade, Integração e Socialismo