Inácio Arruda – Dom Helder: “me chamam comunista”

“Quando dou pão aos pobres, chamam-me de santo, quando pergunto pelas causas da pobreza, me chamam de comunista”. Este pensamento do cearense de Fortaleza, cidadão do Nordeste e do mundo, Dom Helder Câmara, resume o significado de sua existência.

Dom Helder vinculou sua história pessoal à construção coletiva, elegendo a causa dos despossuídos como a opção preferencial que determinou sua relação com a Igreja Católica, com a sociedade brasileira e com o mundo. A autenticidade dessa opção, significou, sobretudo, um exemplo de vida que espelha a união fundamental entre as forças avançadas na tarefa de construir um novo mundo de paz, justiça e igualdade.


 


Poucos dias após o golpe militar de abril de 1964, apresentou um manifesto de apoio à ação católica operária em Recife. Logo, acusado de ser comunista em duas circulares da ditadura, Dom Hélder Câmara tornou-se adversário declarado do regime militar e, proibido de externar suas opiniões no Brasil, passou a fazê-lo no exterior — onde, durante sua vida de muitas lutas, recebeu inúmeras homenagens.  
 


Experimentou duras provações desde que o padre Antônio Henrique, seu assessor, foi preso, torturado e morto, e outros 20 colaboradores de sua arquidiocese foram submetidos à prisão e às torturas. No dia 26 de maio de 1970, Dom Hélder produziu em Paris um vigoroso pronunciamento, assumindo a condição de voz pioneira no exterior a denunciar a prática de tortura a presos políticos no Brasil.


 


A indicação da sua candidatura, em 1972, ao Prêmio Nobel da Paz foi ferozmente atacada pelo regime militar, que divulgou na Europa um dossiê no qual o acusava de ter sido comunista. Essa honra, a de ingressar nas fileiras do Partido Comunista do Brasil, Dom Helder não nos deu, mas, pela sua conduta, que nunca absorveu a subordinação e a baj ulação aos poderosos, tem lugar assegurado entre os que se destacam na edificação de uma sociedade justa e igualitária.
 


Libertário, Dom Hélder foi um guerreiro em defesa das liberdades democráticas, participando da campanha pelas “Diretas Já” e, ao longo da Constituinte de 1988, percorreu o País numa jornada cívica que se desdobrou na articulação de uma campanha pela erradicação da miséria no país.


 


Por toda a sua luta em defesa dos ideais democráticos, propomos, no Senado Federal, Sessão Especial para reverenciar os seus 100 anos de nascimento. Reafirmamos, com o simbolismo desse gesto, que a construção de um Brasil grandioso, no rumo do desenvolvimento com soberania e valorização do trabalho, é tarefa comum de cristãos e comunistas.
 


Por: Inácio Arruda – Senador (PCdoB-CE)