Inácio Arruda – Avanço com hegemonia popular
Historicamente, o governo Lula assume um lugar ímpar na trajetória do País, visto que desenvolveu um projeto arrojado ante o desmonte legado pelos governos neoliberais — em especial de Fernando Henrique Cardoso. Não obstante, requer ainda o fim de uma
Publicado 10/02/2009 10:26 | Editado 04/03/2020 16:35
Tal projeto conteve as privatizações que ameaçavam com a total liquidação da nossa economia e soberania, voltando a capacidade de financiamento dos bancos públicos (entre esses o BNDES, BB, CEF, BNB) e empresas como a Petrobras ao rumo do desenvolvimento.
No plano da política macroeconômica — apesar de um viés monetário carente de mudanças profundas, dos juros elevados, sob a égide do Banco Central —, tal projeto incorporou a retomada do crescimento, de prumo mais audacioso, com o incremento das obras de infra-estrutura, a exemplo das novas refinarias, da malha ferroviária e da transnordestina, da transposição do rio São Francisco, da recuperação aeroportuária e da construção de navios, das hidrelétricas, da energia eólica e do biodiesel.
Promoveu também uma política de recuperação do salário mínimo que beneficiou aposentados e a maioria dos trabalhadores; o fomento da agricultura familiar e de programas sociais redistributivos e compensatórios favoráveis ao incremento produtivo; o revigoramento das combalidas universidades públicas e do ensino público, investindo nas suas diversas instâncias, inclusive a tecnológica.
Na política externa, o governo Lula frustrou a instalação da Alca e as pretensões dos EUA, fortaleceu o Mercosul, as relações internacionais com os países da América Latina e do Caribe, com a África e os governos árabes, apoiou a luta dos povos, se opôs a guerra do Iraque. Constituiu um governo progressista com fundamento nas forças políticas mais consistentes. Na sequência desse esforço, precisa desenvolver o debate, evitando comprometer os futuros avanços no projeto construído ou submetê-los ao conservadorismo; substituir os fundamentos ortodoxos da política cambial e do superávit primário.
Esse projeto não deve frustrar os brasileiros e tampouco os governos mais progressistas do continente, que têm como principal ancoradouro a premissa de um Brasil avançado.
Nessas condições, o governo Lula deve se acautelar quanto a uma aliança central que torne o projeto atual mais conservador, mais centrista, que o coloque em recuo diante do País e das forças que o apoiaram com lealdade e firmeza desde a primeira disputa à Presidência do Brasil, em 1989.
Essa é a principal preocupação das forças de esquerda que enfatizam as conversações com o governo e com a direção do PT, no sentido de buscar alternativas a uma aliança de perfil conservador, mediante um intenso diálogo com o campo popular socialista, sobretudo com as suas agremiações e com os movimentos sociais. Ffoi inadequado o movimento que atribuiu, além do Senado Federal, a Câmara dos Deputados ao PMDB — sob o comando de sua tendência mais conservadora. Malgrado essas dificuldades, entretanto, a batalha política não se esgota nesse ambiente. Neste ano de 2009 as grandes ações, articuladas às lutas sociais, definirão o significativo peso que o protagonismo da sociedade terá nas eleições de 2010.
Animadas mobilizações estudantis e de trabalhadores certamente impactarão as eleições presidenciais. Essa vertente social terá, enfim, forte influência no avanço e no desenvolvimento do país.
Inácio Arruda é Senador da República (PCdoB-CE)