Ex-comandante da PM e mais 11 suspeitos são presos por corrupção na Bahia
Na tarde de quinta-feira (05/03), operação deflagrada pela Secretaria de Segurança Pública – SSP ocasionou a prisão do coronel Antônio Jorge Ribeiro de Santana. Acusado de fraude em licitação, corrupção e formação de quadrilha, o ex-comandante da Polícia
Publicado 06/03/2009 17:49 | Editado 04/03/2020 16:20
As investigações da chamada Operação Nêmesis, iniciadas há cinco meses, levaram ao nome de Santana após denúncia de fraude no processo licitatório para a aquisição de 191 viaturas, ganho pela empresa Júlio Simões. Cotada no valor máximo de R$ 23 milhões, a licitação foi superfaturada para R$ 32 mi. Segundo a SSP, o esquema era intermediado pelo empresário e lobista Gracílio Junqueira, flagrado na tarde de ontem portando R$ 21 mil, em companhia do coronel Santana e dos emissários paulistas da Júlio Simões, Jaime Palaia Sica e William Laviola; todos detidos.
O inquérito ainda aponta a participação de Gracílio Junqueira em fraudes no processo de licitação envolvendo a compra dos uniformes para a Guarda Municipal de Salvador. “Não temos como precisar há quanto tempo o lobista participava dos processos licitatórios estaduais, mas sabemos que ele tem esta relação há muitos anos e sempre favorecendo algumas pessoas”, afirmou o secretário da SSP, César Nunes. Entre as empresas que o lobista representa, está a Central de Negócios Ltda, contratada pela Prefeitura para fazer a distribuição do fardamento.
Ex-comandante “carlista”
Principal alvo da Operação Nêmesis, o coronel Antônio Jorge Ribeiro de Santana traz, consigo, resquícios do antigo poderio do “carlismo” na Bahia. Indicado para ocupar o cargo de comandante-geral da PM pelo senador Antônio Carlos Magalhães, o coronel geria o cargo desde janeiro de 2003 – à época, o governo do estado estava a cargo de Paulo Souto, do PFL.
Homem de confiança dos aliados de ACM, Santana foi exonerado do cargo somente em agosto de 2008, quando o governo baiano já estava sob a égide de Jaques Wagner (PT). A alegação de não conseguir conter o aumento nos índices de criminalidade serviu de justificativa para afastar o PM, que já estava sob suspeita, mas, seguindo-se as deliberações legais e o preceito fundamental do Direito, que estabelece a inocência até que se prove o contrário, as investigações corriam em sistema sigiloso.
A prisão atesta a idoneidade do governo, conforme declarou Wagner logo no início do mandato, há pouco mais de dois anos: “Se algum funcionário público tiver problema com a polícia, não me procure e, sim, a algum advogado”. Em entrevista coletiva na tarde de ontem, o secretário de Segurança Pública, César Nunes, admitiu que foi o próprio governador quem convocou as investigações, mas ressaltou, contudo, que a autorização dos grampos telefônicos dos envolvidos foi procedente do Poder Judiciário, e não do Executivo.
12 mandados de prisão
Também foram presos o ex-comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Sérgio Alberto Silva Barbosa; o diretor de Apoio Logístico da PM, coronel Jorge Silva Ramos; o tenente Antônio Durval Senna Junior; e o procurador para assuntos militares, André Thadeu Franco Bahia. Este último, inclusive, é acusado de manter relações diretas com Junqueira, e de também ser beneficiado com o recebimento de propinas.
O comandante-geral da PM, Nilton Régis Mascarenhas, lamentou o envolvimento de membros da corporação, mas enfatizou a colaboração da Polícia Militar durante as investigações. “Em toda categoria, existem exemplos negativos”, pontuou. A PM agora irá aguardar a conclusão da operação.
A Operação Nêmesis ainda desencadeou na prisão de outros quatro acusados de envolvimento: a namorada de Junqueira, Jocélia Fernandes Oliveira, que é gerente de agência do Bradesco, e os supostos “testas-de-ferro” do lobista – os civis Aidano da Silva Portugal, Aline Cerqueira de Castro e Sidnei Couto de Jesus.
Todos os doze suspeitos foram detidos com mandados de prisão temporária de cinco dias, prorrogáveis por mais cinco, convocados a prestar os devidos esclarecimentos. No caso dos coronéis, serão apresentados ao comando da PM após os interrogatórios.
De Salvador,
Camila Jasmin