Dilma Roussef na Bahia: “Sou uma mulher dura, no meio de homens meigos”
A declaração foi feita pela ministra da Casa Civil na palestra com o tema “Mulheres, Política e Espaços de Poder” organizada pela Secretaria da Promoção da Igualdade da Bahia (Sepromi) e o Conselho Estadual da Defesa dos Direitos da Mulher (CDDM) integran
Publicado 07/03/2009 15:53 | Editado 04/03/2020 16:20
A festa em homenagem ao 8 de Março começou com a apresentação da cantora baiana Virgínia Rodrigues, que entrou no salão do Hotel da Bahia cantando a música Super Homem de Gilberto Gil. “Um dia vivi a ilusão de ser homem bastaria, que o mundo masculino tudo me daria, do que eu quisesse ter. Que nada. Minha porção mulher que até então se resguardara, é a porção melhor que trago em mim agora”, cantou Virgínia, que foi aplaudida de pé pelo público presente.
No palco e na platéia, representantes de vários segmentos do movimento de mulheres do estado. Estavam presentes negras, índias, brancas, portadoras de necessidades especiais, líderes sindicais, lésbicas, vereadoras, dirigentes de partidos, deputadas estaduais e federais, secretárias de estado, além de muitas donas de casa e militantes dos movimentos sociais. Mesmo em menor número, os homens também prestigiaram o evento.
Mulheres e Wagner
Anfitrião da festa, o governador Jaques Wagner que comemora a premiação da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte(Setre) com o selo do Programa Pró-Equidade de Gênero,fez questão de expressar a felicidade de participar de um evento de predominância feminina. “Quero dizer da minha alegria de encontrar tantas mulheres, que independente de cargos e funções desempenham um papel muito importante para a sociedade”, disse Wagner. O governador lembrou ainda as dificuldades enfrentadas pelas mulheres. “Para conquistar o seu espaço, as mulheres precisam vencer o preconceito de gênero e no caso das mulheres negras, vencer também o racismo, mas elas não desanimam”, ressaltou.
A secretária de Promoção da Igualdade, Luíza Bairros, também falou das dificuldades encontradas para dar visibilidade às lutas femininas, ressaltando a importância de desenvolver ações, que estimulem a sociedade a pensar sobre o preconceito de gênero e a necessidade de políticas pública para as mulheres.
Luíza lembrou ainda que o projeto Março Mulher, realizado pela Sepromi em parceria com CDDM terá atividades até o durante todo o mês em várias cidades do estado. Em Salvador, tem show da sambista Leci Brandão e convidados no domingo, a partir das 11h, no Dique do Tororó.
Avanços e retrocessos
Convidada especial do evento, a ministra Dilma Rousseff falou para as baianas sobre a sua experiência como militante política, desde a década de 60. Lembrou da discriminação contra as mulheres envolvidas na luta contra a ditadura militar e comemorou o reconhecimento da sociedade para as causas femininas. “A sociedade brasileira está tomando consciência de que não é possível tratar os problemas das crianças e das famílias sem tratar a questão da mulher, porque a mulher é mãe, chefe de família e alicerce para tudo”, declarou.
A ministra ressaltou ainda os avanços conquistados pelas mulheres nos últimos anos, usando como exemplo, a Lei Maria da Penha. “Esta lei é um marco na luta das mulheres, pois é um instrumento governamental que reconhece, que a luta contra a violência doméstica não é apenas das mulheres, mas de toda a sociedade”, explicou.
Dilma lamentou, no entanto, que ainda existam campos onde o preconceito é ainda muito forte. “A escolaridade das mulheres no Brasil é maior que a dos homens, mas ainda recebemos um salário menor para desenvolver a mesma função”. A ministra citou também a discriminação sofrida pelas mulheres que ocupam espaços de poder. “As mulheres que ocupam cargos de destaque são avaliadas sempre com um viés machista. Vocês já viram algum homem ser avaliado por ser duro?”, perguntou. “Mas eu fui. Então eu cheguei à conclusão de que sou uma mulher dura, cercada de homens meigos”, concluiu.
A platéia respondeu ao desabafo da ministra com aplausos e gritos de “Brasil urgente, Dilma presidente!”. Mesmo se negando a falar sobre uma possível candidatura à Presidência da República em 2010, Dilma Rousseff agradeceu à manifestação de carinho.
De Salvador,
Eliane Costa