É hora de trabalhar por Vitória
O nosso retorno à Câmara Municipal de Vitória não pode ser tomado como apenas a volta de um jornalista ao mandato de vereador. A interpretação mais significativa é outra: é a de que o povo de Vitória compreende que os comunistas capixabas têm ser
Publicado 13/04/2009 19:14 | Editado 04/03/2020 16:43
De fato, muitos comunistas militam hoje no movimento social, dirigem entidades estudantis, comunitárias e sindicais, participando ativamente da vida política da cidade. São trabalhadores de dezenas de categorias profissionais, desde as atividades laborais mais modestas até as intelectuais, inclusive as empreendedoras. Vivem a rotina própria de um morador da Capital e enfrentam, como todos, os percalços da vida urbana. Nosso eleitor, que não são apenas os comunistas, constitui uma parcela especial da cidade que a quer linda, democrática e progressista.
No mundo globalizado de hoje há uma tendência de se eleger determinadas cidades como vitrine de uma região ou País. A escolha recai sobre a cidade que consegue ergue-se como expressão do conjunto dos interesses da região ou do País. Assim fez a China com Xangai. Um estrangeiro não precisa percorrer todo o imenso território chinês para identificar eventuais negócios e parcerias. Ele vai a Xangai e lá consegue resolver qualquer assunto. A França fez o mesmo com Paris, a Inglaterra com Londres, a Rússia com Moscou e os Estados Unidos com Nova York e Los Angeles. São Paulo significa esta cidade para o Brasil, ou deveria significar. E a vocação de Vitória é a de ser a vitrine do Espírito Santo.
A centralidade de Vitória não decorreu apenas da sua condição de Capital, não foi algo automático. Para que Vitória obtivesse essa posição de fato – e não somente de direito por ser a Capital – fez-se necessário o desencadeamento de ações muito concretas no final de século XIX. Foi quando Moniz Freire iniciou a construção da ferrovia ligando Vitória a Cachoeiro de Itapemirim, que antes disso levava para o Rio de Janeiro toda sua produção de café, a maior riqueza do Estado à época. No seu segundo governo, já no século XX, o mesmo Moniz Freire começou a estrada de ferro Vitória-Minas, consolidando nosso porto e a nossa centralidade.
A conseqüência da centralidade conquistada por Vitória não ficou apenas no campo econômico. Naturalmente desaguou no espaço político e cultural. Capixaba, que era uma qualidade apenas de quem morava em Vitória, virou identidade para todos que são do Espírito Santo. Ao lado desse êxito, produziram-se também deformações. Uma das mais notórias foi a condição de cidades-dormitório a que ficaram relegadas até pouco tempo atrás as vizinhas Vila Velha, Cariacica, Serra e Viana. Ficaram elas de costas uma para as outras e todas de frente para Vitória. Até mesmo a comunicação viária entre elas ficou dependente das ruas e avenidas de Vitória.
Chegamos agora ao século XXI tendo que suportar todo o tráfego hipertrofiado da região metropolitana que se formou a partir da implantação dos grandes projetos industriais no final do século XX. Daí a necessidade de apostarmos num futuro no qual os demais municípios metropolitanos reforcem as ligações físicas entre eles, preservando Vitória como centro insubstituível dos capixabas, mas em razão de outras demandas, ou seja, aquelas que são hierarquizadas pelos novos tempos: o conhecimento, a educação universalizada em todos os níveis, a saúde para todos, a qualidade do meio ambiente, a cultura popular e erudita, os grandes e pequenos negócios que empregam e dão prosperidade a todos e as relações com o restante do país e com o mundo.
A cidade reelegeu João Coser (PT) como prefeito e um plantel de vereadores muito mais representativo dos interesses políticos sociais de Vitória do que tínhamos antes. A eleição de Coser está ligada ao ambiente de harmonia política construído pelo governador Paulo Hartung (PMDB). Harmonia entre os interesses dos governos federal, estadual e municipal. É própria de um regime democrático a existência heterogênea de forças políticas e partidárias. Por isso é inadequado achar que existe no Espírito Santo uma união de forças díspares. O que há é uma harmonia entre os diferentes interesses de classes, situação que vem perdurando, mas não se sabe até quando. Certamente vai durar até que não esteja mais no horizonte capixaba a ameaça do retorno do quadro político anterior ao governo de Hartung, quando os políticos andaram representando tão somente a eles próprios, desligados dos distintos interesses da sociedade.
Esse clima de harmonia política tem sido proveitoso para o povo. É uma experiência bem sucedida, pois evita as disputas políticas locais estéreis que muitas vezes serviram para confundir os reais interesses dos trabalhadores. E é sem perder de vista a perspectiva dos trabalhadores e do povo que pretendemos fazer do mandato de vereador um lugar de luta. Já estão tramitando quatro projetos de nossa autoria e outros mais estão em fase de elaboração. Estaremos atentos aos projetos dos demais vereadores, examinando-os com toda boa vontade, mas guardando os cuidados necessários para que deles consigamos extrair somente o que tenham de inequívoco interesse popular. Quanto à ação do prefeito, a boa vontade será a mesma, como também será a mesma a cautela em relação ao mérito de tudo ele enviar para esta Casa de leis.
*Namy Chequer é jornalista e vereador do PCdoB de Vitória Capital do ES.