Joan Edessom – Notas sobre a formação social do Ceará

O debate sobre a formação social brasileira permanece em aberto como um desafio não apenas para os nossos historiadores mas para todos aqueles que querem desvendar o Brasil a partir do conhecimento da sua história e de como se formou o nosso povo e o noss

No campo do marxismo, muitas foram as contribuições sérias nesta busca de entender o Brasil a partir da sua formação social após a chegada dos brancos europeus em nosso território.


 


O professor Francisco José Pinheiro, da Universidade Federal do Ceará, lançou no ano passado o livro resultante da sua tese de doutorado em História pela Universidade Federal do Pernambuco. O livro, Notas sobre a formação social do Ceará – 1680/1820, foi lançado pela Fundação Ana Lima, e lança luzes sobre a compreensão do Ceará.


 


Pinheiro, dirigente do Partido dos Trabalhadores e vice-governador do Ceará, é um aplicado estudioso da nossa história.


 


O livro se anuncia logo no início como fruto do trabalho de um marxista: Neste livro estamos trabalhando com o conceito de formação social a partir da perspectiva marxiana, mas, fundamentalmente, tendo como referencial o debate feito por Nicos Poulantzas(…).


 


Na obra, o professor Pinheiro aborda com absoluto domínio processos tais como o da espoliação e do extermínio dos povos indígenas na capitania do Ceará, já tratados anteriormente em trabalhos seus de menor envergadura. Neste aspecto, sua contribuição para o entendimento e o conhecimento do processo de resistência indígena à presença do invasor branco é das mais significativas produzidas pela nossa historiografia recente.


 


Também a sua análise sobre o trabalho escravo na capitania, mesmo que possa suscitar discordâncias por conta do peso atribuído a ele, está fundamentada, não se pode negar, em uma farta documentação, e aqui há que se louvar a busca do autor pelas fontes primárias, que enriqueceram bastante a sua obra.


 


O professor Pinheiro conseguiu, é inegável, dar conta, mesmo estudando um espaço de tempo dilatado, da formação das partes essenciais do nosso território no período escolhido, a saber, a Ribeira do Acaraú (com seu centro da Vila de Sobral), a Ribeira do Jaguaribe (tendo como eixos a Vila do Icó e a Vila de Aracati) e a Ribeira do Ceará (cujos pólos eram a Vila de Fortaleza e a Vila de Aquiraz).


 


O “confronto entre os povos nativos e os pecuaristas” e “a presença incipiente do Estado que se confundia com os interesses dos proprietários locais” constituem, segundo o próprio Pinheiro, os aspectos “essenciais para fazer a análise do processo de formação social no Ceará”.


 


E, mesmo ressaltando que o Brasil constituía um conjunto de ilhas quando se trata de analisar a sua formação social nesse período, Pinheiro não deixa de reconhecer que “o escravismo foi um elemento unificador desse conjunto de ilhas”.


 


Notas sobre a formação social do Ceará, pelo seu conteúdo, pelo rigor da pesquisa que o fundamentou, pela relevância do tema escolhido, pela sua abordagem marxista, é um livro indispensável para aqueles que querem entender como se formou o nosso povo e o nosso território, e compreender melhor a nossa relação histórica com a formação do Brasil.



Joan Edessom de Oliveira é Secretário da Cultura e Turismo de Sobral