Previsão da Funceme: Precipitações seguem até julho no Ceará

Precipitações acima da média devem continuar até julho. No Litoral de Fortaleza, abril foi o mais chuvoso em 60 anos

As chuvas devem continuar a cair acima da média histórica no Estado do Ceará até o próximo mês de julho. Essa é a previsão da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), revelada pelo presidente da entidade, Eduardo Martins, durante audiência pública realizada ontem à tarde na Assembléia Legislativa do Ceará (AL).


 


“Todos os indicadores apontam para a categoria acima da média histórica em maio, junho e julho”, disse o presidente, sobre a previsão de chuvas. Como exemplo, Martins revelou que a chuva nos primeiros seis dias deste mês na região do Cariri já ultrapassou a média histórica de maio.


 


Por outro lado, o presidente da Funceme ponderou que, nos meses de maio a junho, chove bem menos do que de fevereiro a abril. Segundo ele, a grande causa das enchentes e da destruição que vem sendo registrada no Estado, sobretudo nas regiões Norte e Jaguaribana, foi o último mês de abril. O período esteve entre os dez meses de abril mais chuvosos da série histórica entre 1950 e 2009. “É isso que está causando essas conseqüências todas”, avaliou, citando os números de desabrigados, açudes sangrando e estradas danificadas.


 


No Litoral de Fortaleza, este foi o mês de abril que registrou a maior quantidade de chuvas nesses 60 anos. No Cariri e na Região Jaguaribana, abril foi o terceiro mais chuvoso, enquanto no Litoral Norte foi o quinto. De janeiro a abril, 2009 é oitavo ano mais chuvoso da história em 60 anos de dados, segundo a Funceme. Janeiro, fevereiro e março, porém, não estão entre os dez meses mais chuvosos dessas seis décadas.


 


A audiência pública foi promovida pela comissão especial da AL criada para acompanhar as enchentes no Estado. O presidente da comissão, deputado Edísio Pacheco, informou que o acesso entre Miraíma e Amontada está bloqueado e que o distrito de Preá, em Cruz, está bastante afetado.


 


Durante o evento, o comandante da Defesa Civil do Estado, coronel João Vasconcelos, anunciou que, na próxima segunda-feira, o Estado iniciará a distribuição de mais 276 toneladas de alimentos. Até agora, já foram entregues 284 toneladas de mantimentos, além de 43.070 itens, como colchões, lençóis e kits de limpeza.


 


Hoje, o Departamento de Edificações e Rodovias (DER) conclui levantamento sobre as estradas e pontes danificadas pelas chuvas, conforme o coordenador de Engenharia Rodoviária do órgão, André Pierre. Já o assessor da presidência da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), Yuri Castro, negou a informação, divulgada na imprensa nacional, de que a Bacia do Rio Parnaíba, na região dos Inhamuns, esteja causando as enchentes em Teresina, no Piauí. 



Chuvas prejudicam obras e serviços



As chuvas recorrentes em todo o Estado têm afetado não somente quem recebeu as águas nas residências, mas todos que são atendidos por serviços básicos que ficaram comprometidos. Em vários municípios, a coleta de lixo acontece de forma lenta, aumentando as chances de doenças. Também as grandes obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) estão com o prazo comprometido pela diminuição de trabalhos. Em Limoeiro, trabalhadores da obra de saneamento já receberam aviso prévio para possíveis demissões caso as chuvas continuem a atrapalhar as escavações.


 


As ruas das cidades têm se transformado em verdadeiros rios por conta do período chuvoso, e justamente nessas vias públicas que são realizados serviços básicos como coleta de lixo, entrega de correspondências, fiscalização da vigilância sanitária, atividades que estão temporariamente suspensas ou, no mínimo, com funcionalidade parcial, em decorrência das águas. Em Limoeiro, o lixo se acumula há alguns dias nas ruas do Centro da cidade. Além das águas terem coberto a estrada que leva ao aterro sanitário, no bairro Maria Dias, os caminhões que transportavam os resíduos ficaram atolados.


 


Diariamente devem ser recolhidas 40 toneladas de lixo de todo o município de Limoeiro. Com o acúmulo em algumas ruas e avenidas, os moradores reclamam preocupados, pois um problema geraria outros, no caso a proliferação de muriçocas. Mas o secretário de Desenvolvimento e Infra-Estrutura, José Lins Guerra, disse que a situação já está sendo resolvida, “porque estamos conseguindo abrir caminho para os caminhões chegarem no aterro sanitário, e as ruas que não tiveram o lixo recolhido já devem voltar à normalidade nesta quinta-feira, pois os caminhões estarão rodando por elas”.


 


O mesmo não se pode dizer dos bairros como Ilha de Santa Terezinha, Setor NH3 e Setor NH5, os mais afetados pela cheia do Jaguaribe. Com a força das inundações, várias fossas “estouraram”, e é intensa a fedentina no local. Não há como chamar o limpa-fossa.



Saneamento básico


 


Na mesma cidade, o serviço de instalação de saneamento básico, obra de R$ 18 milhões incluída no PAC está ocorrendo parcialmente. Houve redução dos grupos de trabalho, e só estão atuando os responsáveis por tapar os buracos feitos nas ruas saneadas. O trabalhador Joaquim Leite passou a manhã de quarta-feira com um balde tentando retirar a água do buraco onde se encontram as instalações hidráulicas. Antes mesmo de terminar o serviço era surpreendido por outra chuva, rápida, mas que dificultaria ainda mais seu trabalho.


 


Segundo o diretor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Limoeiro e coordenador da obra de saneamento, Mauro Costa, a empresa contratada está entregando aos trabalhadores o aviso prévio de demissão, ainda que temporária, caso haja prolongamento da quadra chuvosa, tornando pouco produtiva a abertura de mais buracos para as obras.


 


As obras na ponte Juscelino Kubitshek, sobre o Rio Jaguaribe, em Aracati, continuam ocorrendo, mas as chuvas interromperam a instalação das vigas de sustentação da ponte, dentro do rio.



Famílias desabrigadas da Zona Norte do Estado racionam alimentos


 


As águas do rio Acaraú recuaram um pouco. Mesmo assim, o nível das águas estava, até o fim da manhã de ontem, em 6,18m. Mas o número de famílias desabrigadas e desalojadas em Sobral, segundo a Defesa Civil, do município continua inalterada. São 510 famílias que ainda continuam vivendo nos abrigos montados pela Prefeitura e mais de 400 estão totalmente isoladas, principalmente na zona rural. Dezenas de ruas continuam alagadas, especialmente nos bairros, Tamarindo, Santa Casa, Pintor Lemos e Pedrinhas.


 


Essas famílias estão sendo assistidas com a distribuição de cesta básicas, colchões, colchonetes, mas, segundo algumas delas, a alimentação é muito racionada. É o caso da dona-de-casa Antônia das Chagas do Nascimento, 44 anos, que mora na rua Tamarindo e está abrigada desde o dia 22. “A cesta básica vem, mas eles pedem para a gente dividir com todo mundo”, desabafa ela, que ganhou um fogão novo, mas não tem ainda o botijão de gás. Em um dos abrigos situado na rua Deputado João Adeodato, onde estão abrigados 36 famílias, existe uma equipe do Programa Saúde da Família (PSF) de plantão 24h. “Estamos aqui para fornecer atendimento médico a essas famílias”, disse o enfermeiro João Sérgio Araújo.


 


Outra desabrigada é a aposentada Maria Elena Costa Pinto, 70 anos, que mora na rua Aracajú, bairro Tamarindo. Ela disse que recebeu, de uma única vez, uma cesta com dois quilos de arroz, dois de feijão, dois pacotes de macarrão e um pacote de café. “Aqui somos quatro ao todo, e tive que dividir com outra família o que recebi da Defesa Civil. Lamento porque a outra família também está na mesma situação da minha”. Ela está abrigada no prédio do antigo Clube do Artista, no Centro. Lá estão sendo atendidas 13 famílias, a maioria também do bairro Tamarindo.



Água para beber


 


Na avenida Dom José, em um galpão antigo, onde foi instalado um dos primeiros abrigos, existem 12 famílias. Muitas chegaram na primeira cheia do rio Acaraú, que ocorreu dia 22. A dona-de-casa Rosilene Alves Tavares, 25 anos, moradora da rua São Cristovão, disse que a única reclamação é com as crianças que têm sofrido com a falta d’água para beber. “A alimentação aqui até que tá dando para todo mundo, mas água para beber é que em pouca quantidade”.


 


“Estamos tentando atender todo mundo. Diariamente, agentes da saúde percorrem os abrigos para avaliar a situação de cada família”, disse o coordenador da Defesa Civil de Sobral, Jorge Trindade.


 


Calamidade pública em Aurora


 


O prefeito de Aurora, José Adailton Macedo, decretou, ontem, estado de calamidade pública. De acordo com o gestor, as chuvas “causaram tremendos prejuízos e danos incalculáveis, os estragos causados nas estradas vicinais e nas vias públicas as deixaram totalmente intransitáveis; a zona rural encontra-se completamente isolada da área urbana do município”. As atividades escolares, por exemplo, vão ficar paralisadas por 15 dias.


 


Em virtude dos estragos causados pelas chuvas, o prefeito de Juazeiro do Norte, Manoel Santana, decretou estado de emergência, principalmente voltado para localidades mais prejudicadas com as precipitações como Carité, Betolândia, Brejo Seco, Pedrinhas, Vila Três Marias, Horto, Popô, Leitem Catolé, Timbaúbas, Vila Nova, Antônio Vieira, João Cabral e Jardim Gonzaga.


 


No documento, o gestor argumenta que as pesadas chuvas dos últimos meses, com continuidade, estão danificando estradas vicinais, ruas, destruindo acessos e locais de visitação, como é o caso, por exemplo, de desmoronamento da encosta do Horto.


 


As chuvas também têm trazido problemas para o Maciço de Baturité, uma ponte entre Pacoti e Guaramiranga caiu. Residências em Pacoti e a praça principal de Guaramiranga ficaram alagadas.


 


Chuvas no Ceará (Cidade / mm)


 


Pereiro 156
Palmácia 125
Arneiroz 104
Guaramiranga 91
Jaguaribe 85
Iracema 83
Pacoti 82.5
Itapiúna 82
Pentecoste 80
Baixio 69
Ererê 66
Parambu 62
Missão Velha 58
Graça 56
Alcântaras 52
Juazeiro do Norte 50
Martinópole 48
Senador Sá 46
Aiuaba 45.6
Tianguá 43.2
Meruoca 41.2
Aurora 41
Mulungu 41
Aratuba 40
Choró 40
Senador Pompeu 39