PCdoB testemunha situação dos palestinos e ataca Israel
Recentemente, uma delegação do Fórum de São Paulo visitou a Palestina com o propósito de estreitar as relações com forças políticas locais e se solidarizar com o seu povo. A experiência deixou ainda mais clara a situação alarmante em que vive a população,
Publicado 21/05/2009 13:13
Ele informa que Gaza continua sob bloqueio e que a situação na região é tensa, apesar da trégua.
Além do dirigente do PCdoB, a comitiva foi constituída por Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do PT e Graziela Garcia, da Comissão de Relações Exteriores da Frente Ampla do Uruguai. A iniciativa partiu de um convite do Conselho Legislativo Palestino – equivalente ao Parlamento da Autoridade Nacional Palestina (ANP).
Entre os dias 4 e 6 de maio, os visitantes foram recebidos, além do CLP, pelo ministro de Relações Exteriores e da Informação da ANP, Riad Malki; pelo chefe do Departamento de Assuntos de Negociação da OLP, Saeb Arekat; pelo titular do Ministério para Assuntos dos Prisioneiros, ligado à ANP, Ashraf Ajrami; pelo chefe de gabinete do presidente palestino Mahmud Abaz, Rafiq Hussein, além de deputados da OLP. O secretário do PCdoB também se reuniu com o secretário-geral do Partido do Povo Palestino, antigo Partido Comunista, Bassam Saklhi.
Os representantes do FSP visitaram regiões históricas e consideradas sagradas pelos cristãos, muçulmanos e judeus e o túmulo do ex-presidente da OLP e da Autoridade Nacional Palestina, Yasser Arafat. “Mas não pudemos visitar Gaza por razões alheias à nossa vontade; hoje é impossível entrar na região”, lamentou Carvalho referindo-se ao bloqueio israelense. Na entrevista a seguir, ele fala sobre as impressões dessa viagem e sobre o conflito entre israelenses e palestinos.
Palestina sob tensão
“Há um forte clima de tensão em todo o território palestino já que recentemente houve uma guerra de extermínio de Israel contra o povo palestino na Faixa de Gaza. Foi um verdadeiro genocídio. A situação está suspensa, mas não resolvida porque houve apenas uma trégua. Gaza continua bloqueada pelo exército israelense e o que acontece naquela região impregna toda a Palestina, o mundo árabe, o Oriente Médio e influi na situação internacional”.
Direita no poder
“Recentemente a direita mais reacionária, racista, antiárabe e antipalestina ganhou as eleições em Israel, comandada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Ele, para acentuar ainda mais o traço direitista do novo gabinete, nomeou o ultradireitista, sionista e racista Avigor Liberman para o Ministério das Relações Exteriores. Isso criou uma situação de tensão ainda maior porque a mensagem mais explícita que o novo governo transmite não só para os palestinos, mas também para a comunidade internacional como um todo, é a de que se opõe à criação de um Estado palestino e não aceita conversações com este objetivo”.
Paz no Oriente Médio
“Para que se atinja a paz na Palestina e no Oriente Médio só há uma saída: criar o Estado palestino e estabelecer um termo de convivência entre este e Israel baseado no direito internacional. A comunidade internacional passou a adotar a ideia de admitir um Estado palestino – que é uma reivindicação histórica deste povo – a partir das conversações que os palestinos se dispuseram a fazer a partir de 1991 em Madri e que depois evoluíram para Oslo quando, pela primeira vez, em 1993, se chegou a um acordo. A Organização para Libertação da Palestina (OLP) reconheceria Israel em troca do compromisso de Israel de admitir a criação do Estado palestino. Hoje, mais de quinze anos depois, Israel continua tentando inviabilizar a criação do Estado palestino. A legitimidade da luta do povo palestino é hoje indiscutível, o que faz com que o próprio presidente dos Estados Unidos tenha de admitir a necessidade imperiosa de criar o Estado palestino”.
Do discurso à prática
“Falta, porém, exigir de maneira categórica que Israel cumpra esta exigência e deixe de financiar o terrorismo israelense contra a luta do povo palestino. Os Estados Unidos alimentam a máquina de guerra de Israel com 10 bilhões de dólares anuais. Igualmente, é necessário inverter os termos do discurso de que a condição sine qua non para aceitar na prática a criação do Estado palestino é garantir a segurança de Israel. É necessário ainda deixar claro que o Estado palestino terá soberania absoluta sobre seu território, que Gaza e Cisjordânia são inalienáveis da Palestina e precisam ter ligação normal. Além disso, o Estado palestino deverá dispor de forças armadas próprias, ter como capital a cidade de Jerusalém oriental e ter assegurada a solução do repatriamento dos refugiados. É necessário ainda acabar os assentamentos israelenses em território palestino, derrubar o muro segregacionista e abolir as barreiras de controle militar no território palestino, que impedem a livre circulação das pessoas”.
Contexto para o diálogo
“Recentemente foi divulgado um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) demonstrando que Israel cometeu crimes de lesa-humanidade, obrigando o ministro da Defesa, Ehud Barak, a se pronunciar. Este foi a público e com desfaçatez acusou a ONU de estar mentindo. Há um clamor mundial contrário a Israel e seus crimes. Ao mesmo tempo, os EUA sabem que é necessário achar uma saída. Mas, apesar de internacionalmente a situação ser hoje mais favorável, contraditoriamente em Israel a situação é mais difícil devido a esse novo governo de extrema direita, que leva Israel a adotar uma política de fatos consumados: nega a existência da Palestina e dos palestinos – para eles, existe apenas Israel com populações não judaicas subjugadas a ele; recusa explicitamente a criação de um Estado palestino; intensifica a política de instalação de assentamentos israelenses nos territórios palestinos, inclusive na Cisjordânia; aumenta, a cada dia, o muro – já com mais de 300 quilômetros que recorta os territórios palestinos – e intensifica sua política de barreiras militares que impedem o trânsito de palestinos de uma cidade para a outra. Ou seja, a criação de um Estado palestino não está muito visível no horizonte imediato devido à intransigência de Israel. A defesa da criação do Estado palestino pela comunidade internacional tem que deixar de ser apenas retórica. O governo sionista israelense merece o repúdio da comunidade internacional. O anúncio da visita do chanceler Liberman ao Brasil nas próximas semanas é uma má notícia. Por ser racista e um mensageiro da guerra, será considerado persona non grata em nosso país pelos movimentos sociais”.
Lobby pró-Israel
“Em geral, a mídia dominante protege Israel e o lobby a favor do país é muito forte nos EUA. A direita americana é pró-Israel, então, claro, Israel desfruta de uma força muito grande no mundo e consegue se impor. No Brasil, os sionistas começam a se manifestar de maneira mais agressiva. Quando do anúncio da visita do presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad ao nosso país, que acabou cancelada, programaram a realização de manifestações de rua”.
Prisioneiros palestinos
“Nesta viagem, estivemos com Ashraf Ajrami, titular do Ministério para Assuntos dos Prisioneiros. Ele nos relatou que existem cerca de 10 mil prisioneiros palestinos, mas de 1967 até hoje, 750 mil palestinos já passaram pelos cárceres israelenses. Dentre os atuais, há 45 parlamentares, a maioria do Hamas, grupo que saiu vitorioso nas últimas eleições parlamentares. Esses presos vivem sob regime muito duro: a alimentação é insuficiente e sofrem maus tratos. As organizações de direitos humanos de todo o mundo deveriam abrir os olhos para isso e fazer campanhas específicas sobre a libertação dos prisioneiros. Vamos levar adiante aqui, no Congresso Nacional brasileiro, uma campanha pelos direitos dos prisioneiros e por sua libertação, inclusive dos parlamentares”.
Divisão entre palestinos
“Um fator fundamental para que o povo palestino conquiste o direito de ser um país livre e independente é a resolução de suas próprias divisões internas. De um lado está a OLP; do outro está o Hamas, que protagonizou a resistência armada em Gaza. Há grandes traumas nas relações entre essas duas forças. Sem a união dos palestinos tudo ficará mais difícil porque o inimigo está usando a divisão para inviabilizar a constituição de um Estado palestino. Essa divisão é resultado de problemas de naturezas variadas. Os de natureza política dizem respeito a como cada uma dessas forças encara o processo de constituição do Estado. Da parte do Hamas, há uma crítica dura ao fato de que a OLP aceitou reconhecer o Estado de Israel. A OLP argumenta que não seria realista continuar lutando pelo Estado palestino sem reconhecer o fato consumado de que Israel existe. Há também questões geopolíticas regionais, as inter-relações que os palestinos têm com a Síria, o Egito e o Irã. Muitas vezes o Hamas é acusado de atuar na Palestina em nome de interesses externos. Há também um problema concreto recente que foi a vitória do Hamas não reconhecida pela comunidade internacional, o que resultou na suspensão de fornecimento dos fundos a que a ANP tinha direito. Tudo isso gerou grandes tensões interpalestinas que culminaram no controle absoluto da Faixa de Gaza pelo Hamas, ato visto pelo Fatah, organização majoritária na OLP e pela própria OLP como a consumação de um golpe. Há, ainda, fatores ideológicos e culturais porque em geral as forças que atuam na OLP e que constituíram a ANP – inclusive as forças de esquerda – são laicas, enquanto o Hamas é religioso”.
Objetivos comuns
“Diante de tudo isso, nossa delegação manifestou seu desejo de ver recomposta a unidade palestina. A emergência de se encontrar uma solução para a questão deveria fazer com que todos esses problemas ficassem subordinados a um objetivo maior, que seria encontrar os caminhos viáveis para se constituir o Estado palestino e alcançar a paz, o progresso, a estabilidade e a libertação nacional e social do povo palestino, como de resto de todos os países do Oriente Médio, dentro de uma perspectiva antiimperialista”.
De São Paulo,
Priscila Lobregatte