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Coalizão 14 de Março vence eleições no Líbano

Resultados oficiais confirmam a vitória da coalizão 14 de Março sobre a aliança liderada pelo Hezbolá nas eleições parlamentares realizadas no Líbano no último domingo (7).

Ziad Baroud, ministro do Interior, anunciou os números nesta segunda-feira (8), confirmando o que já tinha sido previsto no fim de semana pela mídia do país.



Os resultados mostraram que a coalizão sunita 14 de Março, liderada por Saad Hariri, filho de Rafik Hariri, o ex-premiê assassinado, obteve 71 assentos dos 128 disputados no parlamento, enquanto a coalizão liderada pelo Hezbolá obteve 57 cadeiras.



Mesmo antes de o resultado oficial ser revelado, a coalizão 14 de Março, cujo nome se deve a um dia de protestos que levou à retirada das tropas sírias do Líbano, declarou vitória, levando às ruas milhares de simpatizantes.



Lamis Andoni, analista político da rede catariana de televisão al-Jazira, afirmou que o resultado surpreendeu a aliança opositora liderada pelo Hezbolá.



“Em termos de ocupação do parlamento, a diferença não mudou muito entre a oposição liderada pelo Hezbolá e os aliados do 14 de Março. Mesmo assim, a oposição, nas palavras de seus próprios dirigentes, sofreu uma derrota grande. O diário al-Akhbar, oposicionista, denominou o resultado de derrota estrondosa”.



“Tanto a maioria quando a oposição esperavam a vitória dos oposicionistas, porque havia fortes indicações de que o equilíbrio do poder nas ruas tinha se modificado a favor do Hezbolá e de seus aliados”.



James Bays, correspondente da al-Jazira em Beirute, disse que  duas questões precisarão ser discutidas agora pelos partidos políticos libaneses, em seguida ao resultado das eleições.



“Primeiro, a idéia de ceder o poder de veto para o Hezbolá e seus aliados se eles quiserem participar de um governo de unidade nacional”, afirmou.



“Isso (o poder de veto) aconteceu no ano passado, a partir dos choques violentos em Beirute, que levaram a um acordo político entre os partidos fechado em Doha (capital do Catar)”.



“Se o Hezbolá participar de um novo governo de unidade nacional, vai querer manter o poder de veto, mas a coalizão 14 de Março afirmou que o povo se manifestou nas urnas… e que precisam agora governar”.



A outra questão é de quem será designado o primeiro ministro, afirma Bays.



“Saad Hariri quer o cargo, mas outros interessados na questão, como os americanos, ventilaram que preferem que o antigo primeiro ministro, Fouad Siniora, continue a ocupar a cadeira”, afirmou



Voto cristão



Michel Aoun, ex-chefe militar e líder do Movimento Patriótico Livre, que é um dos aliados do Hezbolá, disse à emissora de televisão libanesa OTV que os candidatos do partido tinham sido derrotados na eleição.



A vitória da coalizão 14 de Março não tem causas estabelecidas e era sabido que as eleições seriam decididas em distritos cristãos, onde os candidatos de Aoun concorriam com outros candidatos cristãos, aliados à coalizão 14 de Março.



Segundo Robert Fisk, escritor e jornalista baseado no Líbano e que escreve para o britânico The Independent, o voto cristão não teve tanto poder decisivo como os analistas julgavam antes.



“O voto cristão não parece ter sido tão dividido como temia-se que seria”, disse à al-Jazira.



“Aoun, penso, perdeu muitos votos dos cristãos, mas obteve muitos outros do campo muçulmano, o que é bastante interessante”, considerou.



“Aoun tinha muitos simpatizantes há algum tempo, mas acho que seu flerte cada vez maior com o Irã, com a Síria e com o Hezbolá o fez perder muitos simpatizantes”, finalizou.



Enquanto a coalizão 14 de Março manteve o poder consigo, deverá enfrentar agora uma nova batalha para estabilizar a dividida nação.



“As eleições, mais uma vez, levaram a um parlamento de divisões nacionais”, afirmou o jornal As-Safir, próximo do Bloco 8, aliado do Hezbolá.



Michel Sleiman, o presidente libanês, expressou a esperança de que um novo governo de união nacional possa ser formado, uma perspectiva que os dois campos têm levantado.



“Está muito claro que Michel Sleiman, presidente do país, tem na realidade mais poder se cumprir seu papel de mediador entre os dois lados”, considera Fisk.



“No fim, deverá sair algum tipo de coalizão daqui. Não vai acontecer do vencedor levar tudo e das minorias sentarem mudas no parlamento, esperando pelas próximas eleições, que acontecerão daqui a quatro anos”, afirmou.



Naim Salem, professor de Relações Internacionais e Diplomacia da Universidade Notre Dame de Beirute, também afirmou que a coalizão 14 de março não deverá governar sozinha.



“Vai haver muita negociação nos próximos dias. Não acho que o 14 de Março poderá governar sozinho”, acredita.



“Mas não acho também que o 8 de Março (coalizão do Hezbolá) participará deste governo sem tomar pelo menos um terço do ministérios do próximo gabinete, para que possa assim, ter o poder de veto. Eu acredito que o poder de veto será a questão número um, que será disputada pelos dois lados”, considerou.



Antes dos resultados serem anunciados, a polícia e o exército foram mobilizados para várias áreas, consideradas “sensíveis”, mas nenhum incidente considerável foi noticiado.