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Resistência iraquiana dá resposta a discurso de Obama

A Frente Patriótica Nacionalista e Islâmica do Iraque (FPNII), organização da resistência iraquiana ao ocupante americano, divulgou na semana passada uma resposta ao discurso do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, proferido no Cairo, a capital

Para a Frente, ''o recente discurso de Obama no Cairo foi também precedido de uma poderosíssima e manipuladora campanha publicitária, cujo objetivo foi criar a expectativa irrealista de que, com Obama, o imperialismo tinha uma nova política para o Oriente Médio. Nada mais falso, é com a política de Obama o que parece não é…'', afirma o texto divulgado em 5 de junho.



Leia abaixo a íntegra do comunicado, traduzida para o português pelo Diario.Info.



Nobre Povo do Iraque
Orgulhosos e dignos lutadores pela liberdade
Filhos das nossas gloriosas nações árabe e islâmica
Pessoas livres do mundo



Apesar de toda a propaganda que precedeu o discurso do presidente dos EUA, Barack Obama, no Cairo, em 4 de junho de 2009, por ser o primeiro discurso de um presidente estadunidense dirigido fundamentalmente ao mundo islâmico, o que o o presidente Obama disse sobre o Iraque foi muito pouco claro e suscita, além disso, muitas perguntas que exigem uma resposta e uma clarificação franca, tanto da sua parte como do seu governo.



Obama disse que o governo dos EUA ocupou o Iraque por decisão própria, mas, quem autorizou esse governo a ocupar militarmente, á margem da legalidade e contra a vontade da comunidade internacional, da Liga Árabe e da Organização da Conferência Islâmica e dos Países Não Alinhados?



Se Obama quer reparar e melhorar a imagem dos EUA depois da invasão e ocupação do Iraque deve reconhecer, clara e francamente, a da sua nação por tudo o que aquilo a que este país se viu submetido, quer o seu povo quer o Estado: as perdas humanas e materiais, a destruição da sua infra-estrutura e a obstrução do seu desenvolvimento cultural, científico e social durante os seis anos de submissão de todas as capacidades do Iraque por parte dos EUA. Além disso, o presidente Obama também afirmou que a situação do Iraque é agora melhor que antes da ocupação. E nós perguntamos: como se quantificam estes fatos e qual é o critério de preferência? Durante todos estes anos de ocupação viveu o povo iraquiano uma ambiente de segurança? Pode uma família iraquiana viver sequer uma hora do dia ou da noite sob a vossa ocupação sem se preocupar pelos seus filhos?



E onde está a democracia que o governo Bush prometeu aos iraquianos quando promoveu a invasão e a ocupação? É a democracia das dezenas de cárceres dos EUA e do governo títere, onde sucumbiram quase meio milhão de iraquianos? Ou será antes a democracia dos corpos não identificados e decapitados ou picados pelos choques eléctricos, a marca dos esquadrões da morte? É esta a melhoria da situação a que Obama se refere? Ou é a democracia da divisão sectária, da partilha dos dividendos do poder e a sua transferência para contas privadas, tal como acontece com empresas, edifícios e mansões, hoje propriedade dos novos governantes? Ou é a democracia da pobreza e da indigência, numa situação em 75% do povo iraquiano vive na pobreza? Viveu o Iraque antes da ocupação o violento caos que está hoje a viver? Acaso os serviços que agora se oferecem ao povo iraquiano são muito melhores que os que oferecia o regime nacional? Era o nível educacional e de sanidade tão baixo como o é agora no Iraque democrático de ''transparência e integridade'' que os cidadãos detestam devido aos muitos crimes cometidos contra eles e em seu nome?



Quem é povo iraquiano do presidente Obama?



Disse o presidente Obama no seu discurso: ''Deixaremos o Iraque ao seu povo''. Mas que é esse povo, segundo Obama? São-no por acaso os desprezíveis agentes que infligiram o maior sofrimento ao povo iraquiano através do seu abominável projeto, cujas consequências eram previsíveis, e que estão a desmantelar o tecido social iraquiano? Do ponto de vista de Obama e do seu governo, o povo iraquiano são os corruptos, os dilapidadores e ladrões que em seis anos não construíram uma só escola no Iraque e cujos escândalos financeiros e administrativos converteram o Iraque no país mais corrupto do mundo [1]?



Queremos dizer ao presidente Obama que o povo do Iraque conhece quem faz parte dele, sabe quem são as pessoas que construíram o país e a quem se deve o seu moderno renascimento científico e cultural. O senhor não quer saber a verdade, ou não quer reconhecê-la, pois ignorou no seu discurso os crimes cometidos pelas forças estadunidenses no Iraque e os crimes que os funcionários do governo de al-Maliki cometeram contra o povo iraquiano.



Presidente Obama: o senhor é culpado por o seu discurso ser tão pouco claro em relação ao Iraque e ao seu povo.



A retirada: incumprir o anunciado



Obama anunciou que os EUA retirarão do Iraque em 2012. Este é outro ponto obscuro no que se refere ao calendário previamente anunciado pelos EUA. O ''Tratado de submissão'' (SOFA) [2] estabeleceu o ano de 2011 como o ano da retirada do último soldado estadunidense do Iraque. Este anúncio pressupõe uma mudança de data ou, até, que é o governo estadunidense que toma unilateralmente as decisões e que, como sempre, não respeitará nenhum acordo.



O nosso povo sabe quem são as pessoas que mantêm as suas promessas e que lutam, e sabem como conseguiram fazer sair mais de um terço dos soldados estadunidenses que serviam no Iraque. A valente resistência iraquiana de todas as tendências – patriótica, nacional e islâmica – fez fracassar o projeto de ocupação estadunidense e está em vias de frustrar o processo político. O povo iraquiano é o único gestor da resistência e das valentes pessoas que a integram para recuperar um Iraque livre, independente, árabe e muçulmano e para conseguir que os ocupantes se vão embora derrotados.



Longa vida ao Iraque, longa vida aos gloriosos mártires do Iraque e da nação árabe.''



Departamente do Comunicação da Frente Patriótica Nacionalista e Islâmica do Iraque, 5 de Junho de 2009.


 


Notas do site IraqSolidaridad:



1. Na realidade, o terceiro país mais corrupto, superado apenas por Somália e Mianmar, de acordo com a organização Global Transparency.



2. “Acordo de Retirada das Forças dos Estados Unidos do Iraque”, SAFO, na sigla em inglês. Veja no site IraqSolidaridad: “Pedro Rojo: Iraque, 'O acordo de segurança sobre a retirada das tropas americanas', um contrato de permanência”.




Este texto foi publicado em www.nodo50.org/iraq/2009/docs/obama09_06_09.html


Tradução de José Paulo Gascão com base no texto em espanhol traduzido do árabe por Imán Jamás e revisto por Beatriz Morales