Os Bric se recuperam mesmo sem os ricos, diz a 'Economist'
Os Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), já demontram sinais de recuperação econômica mesmo enquanto os países ricos permanecem em recessão, afirma uma reportagem publicada na revista The Economist, que chega às bancas nesta sexta-feira (19). Ist
Publicado 19/06/2009 17:23
A reportagem analisa a cúpula dos Bric, realizada no início da semana em Ecaterimburgo, na Rússia. E dá os números (veja os gráficos ao lado): a fatia dos quatro países no PIB mundial saltou de 16% para 22% entre 2000 e o ano passado. Já o mundo duperdesenvolvido recuou de 63% para 55%.
''Os maiores mercados emergentes estão se recuperando rapidamente e começando a acreditar que a recessão pode marcar mais um momento da mudança global que vê o Ocidente perdendo poder econômico'', diz o texto.
A revista lembra que a China e a Índia tiveram desempenho econômico melhor do que o esperado no primeiro trimestre. No Brasil, apesar da pequena queda no período, o crescimento é maior do que a média da América Latina ''e a maioria dos economistas acredita que o crescimento vai retornar aos níveis de antes da crise já no ano que vem'', diz a Economist.
A Rússia, cuja economia encolheu 9,5% no primeiro trimestre derrubada pela queda no preço do petróleo, seria a única exceção do grupo.
''Descolamento'' tem sentido?
Para a Economist, a teoria do ''descolamento'' – segundo a qual, por crescer a um ritmo diferente, os países emergentes estariam mais protegidos da crise financeira global que as grandes economias – pode, afinal, ter sentido.
''Quando este estudo (que explicava o descolamento) veio à tona em meados de 2008, a queda na economia mundial pareceu torná-lo instantaneamente obsoleto. Mas a enormidade do desaquecimento pode, temporariamente, ter escondido tendências mais profundas que agora voltam a se mostrar, passado o choque inicial'', afirma a análise.
''Quase 60% de todo o crescimento econômico mundial entre 2000 e 2008 ocorreu nos países em desenvolvimento; metade só nos países do BRIC'', afirma a Economist.
Se o padrão de crescimento se confirmar, diz a reportagem, é uma boa notícia, pois significaria que quase metade da economia mundial estaria se recuperando. Os benefícios da recuperação dos Bric também seriam sentidos por outros países em desenvolvimento.
Mas, diz a revista, a recuperação da China, Índia e Brasil não pode compensar o estado medonho do resto da economia mundial. ''Enquanto os três gigantes se recuperam, os países em desenvolvimento, como um todo, são vistos em recessão. Os gigantes parecem estar se descolando não apenas do Ocidente, mas também de seus irmãos emergentes menores.''
A explicação, segundo a Economist, é que os países do grupo dependem menos das exportações do que outros emergentes. No caso brasileiro, as exportações correspondem a menos de 15% do PIB.
''Os Bric foram cautelosos em liberar seus sistemas financeiros, então, foram menos afetados pelo ataque cardíaco financeiro ocidental do que a Europa do Leste, por exemplo. E suas recuperações foram impulsionadas pelos governos, que relaxaram dramaticamente sua política monetária e aumentaram os gastos estatais.''
Outra explicação para o sucesso dos Bric em meio aos emergentes seria seu tamanho, já que esses países podem recorrer ao seu mercado doméstico na falta de um mercado estrangeiro.
Setor público garantiu dinamismo
A Economist, que seguiu o pensamento único neoliberal e sofre com seu colapso advindo com a crise econômica, admite que ''os Bric foram cautelosos na liberalização de seus sistemas financeiros, e por isso foram menos afetados que, por exemplo, a Europa Oriental, quando veio o ataque cardíaco no Ocidente''.
O artigo mostra que diante da crise os governos dos Bric reagiram com programas estatais antirrecessivos. Destaca o pacote de estímulo aprovado pela China e diz que ''o Brasil e a Índia vêm a seguir, mais modestamente''.
''Não está claro até que ponto, a longo prazo, os Bric serão afetados pela aumento do governo e de grandes empresas estatais. Mas este aumento provavelmente é inevitável'', admite a contragosto a revista britânica.