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Estatizar x privatizar, o eixo da disputa na Argentina 

Com pesquisas que projetam, a quatro dias da votação, uma eleição legislativa disputada na Argentina, aliados da presidente Cristina Kirchner têm procurado trazer para o centro da campanha o embate ideológico estatizar versus privatizar.

Não apenas em discursos, mas agora também na publicidade, os governistas têm defendido a intervenção do Estado na economia, enquanto associam os líderes da Unión-PRO, frente de centro-direita formada por dissidentes do peronismo (sigla dos Kirchner) e pelo partido do prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, às privatizações do governo Carlos Menem (1989-1999).

A eleição no maior colégio eleitoral do país (37% dos votos nacionais) está polarizada entre a lista encabeçada por Néstor Kirchner, marido e antecessor de Cristina, e a da Unión-PRO, que leva o empresário e deputado federal Francisco De Narváez como primeiro candidato. O voto legislativo na Argentina é dado aos partidos ou às alianças eleitorais.

A propaganda governista usa entrevistas recentes de Macri – disse que reprivatizaria a Aerolíneas Argentinas e a Previdência privada, estatizadas sob Cristina – e de De Narváez, que justifica sua defesa, em 2003, da frustrada empreitada de Menem por um novo mandato (o terceiro).

Com tipografia igual à da publicidade de De Narváez, a peça diz: “Francisco + Mauricio: seu plano é voltar ao pior passado”. Alude ao slogan do empresário: “Eu tenho um plano”.

Associar os rivais ao “passado neoliberal” da Argentina já é praxe no discurso de Kirchner, que vê a eleição como um plebiscito entre “modelos de país”. Os ataques, contudo, não haviam chegado a sua propaganda, que priorizava depoimentos pró-governo de pessoas comuns, sem exibir candidatos, e o slogan “Nós fazemos”.

O próprio Kirchner, criticado pelo estilo confrontativo, havia alterado sua postura durante a campanha, usando tom de voz baixo e didático em discursos.
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Mudança

A eleição de domingo renova metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado, Casas hoje dominadas pelo governo. O pleito é crucial para o casal Kirchner, que tem perdido popularidade desde o conflito com o campo, aberto em 2008, e o início da crise mundial.

O slogan da “mudança”, usado por Cristina na campanha de 2007 -“A mudança acaba de começar”- foi incorporado agora pela oposição.

De Narváez usa “A mudança começa um dia”, e o radicalismo, rival histórico do peronismo, “A mudança segura”.”Em 2005 [quando venceu as eleições legislativas com folga], o kirchnerismo estava no poder havia dois anos. Agora, são seis. Isso explica por que perdeu a bandeira da mudança para a oposição”, disse o analista político Rosendo Fraga.

O tema “mudança” só apareceu na propaganda governista da atual campanha justamente na peça que intercala imagens de seus adversários e de Menem e seu ex-ministro da Economia Domingo Cavallo: “A verdadeira mudança é a que estamos fazendo”.

Enquanto Kirchner reforça a ofensiva contra os rivais, Cristina mantém uma agenda intensa de inaugurações de obras privadas. Aproveita as tribunas para repetir o discurso do governo de defesa do papel do Estado na economia.

“Foi o tempo em que nos queriam convencer que só o mercado decidia e que o Estado era quase um estorvo à atividade econômica”, disse ontem na inauguração de uma unidade elétrica da Petrobras.

Com Folha de S.Paulo